Missa do 18. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 16,2-4.12-15; Efésios 4,17.20-24: João 6,25-34.
“Senhor,
dá-nos sempre desse pão” (Jo 6,34). Esse pedido da multidão a Jesus revela que
nós, seres humanos, somos seres necessitados. Mas, do que nós necessitamos? Quais
são as nossas necessidades?
Nossas
necessidades se dividem em três áreas: a física/biológica, a psíquica/emocional
e a espiritual. As necessidades físicas/biológicas são o alimento, o descanso,
a proteção, ter um teto (casa), um trabalho e uma terra (meio de sobrevivência).
As necessidades psíquicas/emocionais são a paz, a alegria, o sentir-se amado,
as amizades, o estar com os outros. Por fim, as necessidades espirituais são a
fé, a esperança, o sentido da vida, o relacionamento com Deus, a capacidade de
transcender, o desejo pela vida eterna.
O
Evangelho de hoje nos revela que há uma diferença entre essas três necessidades:
enquanto as duas primeiras se impõem a nós sem que precisemos escolhê-las, buscá-las,
cultivá-las, a terceira precisa ser escolhida, desejada, buscada, cultivada. Por
exemplo: a fome, a sede, o cansaço surgem naturalmente em nós, assim como a
necessidade de sobrevivência; o desejo de ser amado, de ter amigos e de estar
com as pessoas também surge naturalmente em nós, sem que escolhamos sentir tal
necessidade. Mas os valores espirituais não surgem naturalmente em nós: eles têm
que ser desejados, buscados e cultivados por nós.
Prestemos
atenção ao que Jesus disse à multidão: “Vocês estão me procurando não porque viram
sinais (espirituais), mas porque comeram pão e ficaram satisfeitos. Esforcem-se
não pelo alimento que se estraga, mas pelo alimento que permanece até a vida
eterna, e que o Filho do Homem dará a vocês” (Jo 6,26-27). A grande maioria das
pessoas luta e se esforça em sobreviver, em ter o que comer, o que beber, o que
vestir, onde morar; em ter um carro, uma casa, em ter amigos, em estar com as
pessoas, em se sentirem amadas por alguém etc. Mas, quem se esforça em ter uma
vida de oração disciplinada e profunda? Quem se esforça em ler e meditar a
Sagrada Escritura diariamente? Quem se esforça em praticar uma religião, em buscar
a Deus, em aprofundar seu relacionamento com Ele? Quem se esforça em viver conforme
Jesus viveu, em ser uma pessoa justa, coerente, humilde, sensível à dor do seu
semelhante?
Jesus
está nos fazendo um convite: transcender; enxergar a vida para além das
necessidades biológicas e psicológicas e ter a coragem de reconhecer que em
cada um de nós há uma dimensão espiritual que pede atenção, alimento e cultivo.
Se essa dimensão não for ouvida e levada em conta, vai causar em nós um
constante vazio, uma constante insatisfação, uma constante falta de sentido. Como
a maioria das pessoas não reconhece o espiritual dentro de si e, se o
reconhecem, não se dão ao trabalho de cuidar dele, elas procuram preencher seu
vazio interior com excesso de trabalho, com bebida, sexo, drogas, consumismo, ou
silenciando o grito do seu espírito com remédios psicotrópicos (sedativos, calmantes,
antidepressivos etc.).
Tanto
o Pai quanto o Filho sabem que nós somos seres necessitados. Ao falar sobre a
oração, Jesus afirmou que “o Pai de vocês sabe do que vocês têm necessidade
antes que vocês lhe peçam alguma coisa” (Mt 6,8), e ao nos ensinar a orar, nos
ensinou a pedir: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” (Mt 6,11). No entanto,
o Pai (no Antigo Testamento) e o Filho (no Novo Testamento) afirmaram
claramente que “o homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da
boca de Deus” (Dt 8,3; Mt 4,4). Isso significa que não podemos reduzir nossa
vida somente às necessidades biológicas e emocionais, mas cuidar das nossas
necessidades espirituais. Não podemos cometer o mesmo erro do povo de Israel,
de preferir permanecer escravo no Egito, porque lá se podia comer carne e pão
com fartura, do que enfrentar a fome no deserto como preço a ser pago para se
tornar um povo livre na Terra Prometida.
O
problema de muitas pessoas é que elas sacrificam tempo e dinheiro para terem um
corpo perfeito, um carro novo, uma casa melhor, um trabalho mais bem
remunerado, para estar com os amigos, para viajarem e descansarem, mas não
sacrificam nada, ou seja, não se esforçam para estarem com Deus, para
cultivarem sua vida espiritual, para lerem um bom livro, para trabalharem seu
caráter e seu temperamento em vista de se tornarem um ser humano melhor, um
cristão melhor. Elas podem até ter recebido alguns sacramentos na sua infância
e na sua adolescência, mas hoje vivem como pessoas pagãs, esquecendo-se da
advertência do apóstolo Paulo: “Não continueis a viver como vivem os pagãos,
cuja inteligência os leva para o nada” (Ef 4,17). São pessoas que se corrompem,
que se perdem, que vagueiam sem rumo na vida, porque estão sempre sob o comando
das suas próprias “paixões enganadoras” (Ef 4,22).
“Senhor,
dá-nos sempre desse pão” (Jo 6,34). Do quê você tem fome? Do quê você tem sede?
O que você está pedindo a Deus em sua oração? Qual necessidade está mais
gritante dentro de você, neste momento? Quando foi a última vez que você
alimentou-se espiritualmente? Como você tem cuidado do seu espírito?
ORAÇÃO:
Senhor Jesus, sou um ser necessitado. Tenho fome; tenho sede; tenho desejo. No
entanto, o mais importante não é aquilo que eu desejo, mas aquilo que o Pai
sabe que eu tenho necessidade. Na minha oração, eu não sei, de fato, pedir
aquilo que me convém, mas o Espírito Santo sabe verdadeiramente do que eu
necessito; Ele sabe aquilo que o Pai deseja me dar em vista do meu bem e da
minha salvação. Concede-me a graça de transcender, de enxergar a vida para além
das minhas necessidades básicas e de cuidar da minha espiritualidade,
abrindo-me ao Espírito Santo e permitindo que Ele opere em mim segundo os desígnios
do Pai a meu respeito. Mais do que o pão de cada dia, concede-me a fé de cada
dia, a esperança de cada dia, o amor de cada dia, o sentido da vida de cada
dia. Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi