Missa do 15. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 7,12-15; Efésios 1,3-14; Marcos 6,7-13.
O texto
que ouvimos do profeta Amós nos fala da importância da profecia. O profeta é
alguém escolhido por Deus para “re-velar”, isto é, “tirar o véu” de situações
que estão contrárias à vontade de Deus, desmascarar a mentira e propor a
verdade como único caminho que conduz à vida que Deus quer para todo ser
humano.
O
que nos chama a atenção nesse texto de Amós é que a profecia não está a serviço
nem da política, nem da religião, mas da verdade e da justiça de Deus. Amós não
nasceu profeta, nem nasceu filho de profeta. Além disso, ele pertencia ao “reino
do sul”, mas foi escolhido, chamado e enviado por Deus a profetizar ao “reino
do norte”, denunciando as injustiças cometidas pela religião e pela política que
ali imperavam, causando sofrimento ao povo e levando muitos à morte. Portanto,
a profecia, quando verdadeira, incomoda; justamente por isso, é combatida,
atacada, rejeitada.
Existe
um fenômeno perigoso em nosso país: líderes políticos se apropriam
indevidamente do nome de Deus e do discurso religioso para nos convencerem de
que eles são “messias”, homens que vieram salvar a nossa Pátria do comunismo e da
destruição da família, quando, na verdade, eles são lobos vestidos em pele de
cordeiro; enquanto falam de Deus e da família, provocam a morte; morte que se
dá pela fome, devido à alta de preços de diversos alimentos que compõem a cesta
básica; morte que se dá na modificação de leis de proteção ambiental e da
liberação de agrotóxicos cancerígenos; morte que se propaga na facilitação do
armamento da população; enfim, uma política de morte que recebeu a grande ajuda
do coronavírus, cuja disseminação em nosso País foi programada, desejada e
facilitada graças a uma política de desinformação e de combate às vacinas.
Diante
dessa política de morte, a mesma que o profeta Amós foi denunciar no “reino do
norte”, os seguidores dos falsos messias atacam o profetismo da nossa Igreja,
afirmando que religião não deve se misturar com política, um discurso falso,
pois o messias que eles seguem se elegeu e se mantém no poder usando um falso
discurso religioso; um discurso de pessoas que ignoram o significado bíblico da
profecia, que é, repito, combater a mentira que gera sofrimento e morte e
restaurar a justiça e a verdade que promovem a vida.
Do
profeta Amós passamos para o apóstolo Paulo. Ele nos apresenta o projeto, o desígnio,
o plano de Deus para a humanidade. No centro deste plano da salvação está a
pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Por meio dele nós recebemos do Pai duas bênçãos
preciosíssimas: a bênção que é o Espírito Santo (v.3) e a bênção do perdão dos
nossos pecados (v.7). E tem mais: o desígnio do Pai para a humanidade é “recapitular,
em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está no céu e tudo o que está sobre a
terra” (Ef 3,10). Recapitular significa restaurar, sanar, recuperar, redimir,
transformar, devolver tudo ao seu estado original, onde não havia a morte, a
destruição, provocadas pelo pecado. E a garantia de tudo isso é que, em Cristo,
recebemos o Espírito Santo, chamado exatamente de “penhor” (garantia) da nossa
redenção (vv.13-14). Portanto, nossa história não ficará inacabada, incompleta,
perdida e esquecida no tempo; ela está inserida na história da salvação, que
está em andamento!
Enfim,
nos voltamos para o Evangelho, momento no qual Jesus chama e envia seus
discípulos em missão. Aqui se encontra a nossa identidade como cristãos. Não
somos consumidores de sacramentos. Somos discípulos missionários, isto é,
pessoas chamadas a seguir Jesus Cristo e enviadas por Ele a anunciarem a
alegria do Evangelho a todos aqueles que não se fazem presentes em nossas celebrações.
Parafraseando o Papa Francisco, somos uma missão nesta terra, por isso estamos
neste mundo. Diariamente o Senhor nos envia para junto de pessoas enfermas ou
atormentadas pelo espírito do mal.
“Então
os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos
demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Três palavras-chave:
conversão, demônio, óleo. “Conversão” significa mudar a maneira de pensar, de
entender a vida. As pessoas do nosso tempo são constantemente incentivadas a
pensarem somente em si e a buscarem ser felizes, não se importando com nada e
com ninguém. O Evangelho nos convida a mudar essa mentalidade: somos todos
parte de um imenso organismo, onde a saúde ou a doença de um se reflete no
outro. Ou cuidamos uns dos outros e nos salvamos todos juntos, ou nos
destruiremos uns aos outros e ninguém sobreviverá.
“Demônio”, espírito do mal, diabo.
Sua atitude é sempre a mesma: dividir, nos opor uns aos outros, nos perverter
em inimigos, nos envenenar com ódio, nos tornar assassinos, isto é, pessoas que
acreditam que a violência e a morte são a única forma de “colocar a casa em
ordem”. Se antes era comum que a política fosse marcada pela divisão, agora
essa divisão passou a fazer parte das igrejas: cristãos estão divididos entre
esquerda e direita, entre defensores do Evangelho e defensores de uma política
de morte. Todos somos chamados a nos tornar verdadeiros discípulos daquele que,
no seu corpo pregado na cruz, “destruiu o muro da inimizade” (Ef 2,14s) e colocou
em diálogo as diferenças.
Por fim, a “unção com óleo”. Todos nós
estamos feridos. Muitos estão feridos no corpo: doença, fome, dependência
química, agressão, violência, abuso, desorientação sexual, afetos desordenados,
prostituição... Muitos estão feridos na alma: falta de sentido para a vida,
vazio, tristeza, depressão, medo, pânico, ansiedade, doenças psíquicas...
Muitos estão doentes no seu espírito: perda de fé e de esperança, descrença no
amor, pessimismo, confusão de crenças, culto ao demônio... Sobre cada uma
dessas feridas somos chamados a derramar óleo. Este óleo é o bálsamo de uma
palavra, de uma escuta, de um olhar, de uma presença, de um toque, de um abraço,
de um colocar-se junto. Somos cristãos, pessoas ungidas com o óleo do Espírito
Santo, o mesmo Espírito que guiou Jesus em sua missão, o mesmo Espírito que
deseja nos enviar para junto de pessoas que estão feridas e para as quais podemos
ser óleo que cura, bálsamo que restaura...
Oração:
Senhor Jesus, torna-me uma pessoa profética, capaz de denunciar toda mentira, toda
injustiça, e lutar incansavelmente para restabelecer a verdade e a justiça neste
mundo. Confirma o Espírito Santo em minha vida, de modo que Ele se torne a garantia,
a certeza interior de que minha vida está inserida num plano maior, cuja meta
final é a minha salvação definitiva em Ti. Torna-me discípulo(a) missionário(a)
da alegria do Evangelho. Converte-me! Abre minha mente para a verdade que
liberta e que exige de mim coerência, compromisso, fidelidade. Livra a humanidade
dos demônios que a atormentam. Livra nossa política e nossas igrejas do diabo
que causa divisão, inimizade e ódio entre nós. Derrama sobre nossas feridas o
bálsamo da reconciliação, da cura, da restauração. Envia-nos para junto das
pessoas que estão feridas à nossa volta. Concede-nos palavras, olhares, toques
e aproximações que curem, reanimem, fortaleçam, reergam, libertem e devolvam
alegria, esperança, fé e sentido de vida para toda pessoa ferida que aguarda
por nossa presença. Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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