sexta-feira, 9 de julho de 2021

PROFECIA, DESÍGNIO, MISSÃO

 Missa do 15. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 7,12-15; Efésios 1,3-14; Marcos 6,7-13.

 

O texto que ouvimos do profeta Amós nos fala da importância da profecia. O profeta é alguém escolhido por Deus para “re-velar”, isto é, “tirar o véu” de situações que estão contrárias à vontade de Deus, desmascarar a mentira e propor a verdade como único caminho que conduz à vida que Deus quer para todo ser humano.

O que nos chama a atenção nesse texto de Amós é que a profecia não está a serviço nem da política, nem da religião, mas da verdade e da justiça de Deus. Amós não nasceu profeta, nem nasceu filho de profeta. Além disso, ele pertencia ao “reino do sul”, mas foi escolhido, chamado e enviado por Deus a profetizar ao “reino do norte”, denunciando as injustiças cometidas pela religião e pela política que ali imperavam, causando sofrimento ao povo e levando muitos à morte. Portanto, a profecia, quando verdadeira, incomoda; justamente por isso, é combatida, atacada, rejeitada.

Existe um fenômeno perigoso em nosso país: líderes políticos se apropriam indevidamente do nome de Deus e do discurso religioso para nos convencerem de que eles são “messias”, homens que vieram salvar a nossa Pátria do comunismo e da destruição da família, quando, na verdade, eles são lobos vestidos em pele de cordeiro; enquanto falam de Deus e da família, provocam a morte; morte que se dá pela fome, devido à alta de preços de diversos alimentos que compõem a cesta básica; morte que se dá na modificação de leis de proteção ambiental e da liberação de agrotóxicos cancerígenos; morte que se propaga na facilitação do armamento da população; enfim, uma política de morte que recebeu a grande ajuda do coronavírus, cuja disseminação em nosso País foi programada, desejada e facilitada graças a uma política de desinformação e de combate às vacinas.

Diante dessa política de morte, a mesma que o profeta Amós foi denunciar no “reino do norte”, os seguidores dos falsos messias atacam o profetismo da nossa Igreja, afirmando que religião não deve se misturar com política, um discurso falso, pois o messias que eles seguem se elegeu e se mantém no poder usando um falso discurso religioso; um discurso de pessoas que ignoram o significado bíblico da profecia, que é, repito, combater a mentira que gera sofrimento e morte e restaurar a justiça e a verdade que promovem a vida.

Do profeta Amós passamos para o apóstolo Paulo. Ele nos apresenta o projeto, o desígnio, o plano de Deus para a humanidade. No centro deste plano da salvação está a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Por meio dele nós recebemos do Pai duas bênçãos preciosíssimas: a bênção que é o Espírito Santo (v.3) e a bênção do perdão dos nossos pecados (v.7). E tem mais: o desígnio do Pai para a humanidade é “recapitular, em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está no céu e tudo o que está sobre a terra” (Ef 3,10). Recapitular significa restaurar, sanar, recuperar, redimir, transformar, devolver tudo ao seu estado original, onde não havia a morte, a destruição, provocadas pelo pecado. E a garantia de tudo isso é que, em Cristo, recebemos o Espírito Santo, chamado exatamente de “penhor” (garantia) da nossa redenção (vv.13-14). Portanto, nossa história não ficará inacabada, incompleta, perdida e esquecida no tempo; ela está inserida na história da salvação, que está em andamento!

Enfim, nos voltamos para o Evangelho, momento no qual Jesus chama e envia seus discípulos em missão. Aqui se encontra a nossa identidade como cristãos. Não somos consumidores de sacramentos. Somos discípulos missionários, isto é, pessoas chamadas a seguir Jesus Cristo e enviadas por Ele a anunciarem a alegria do Evangelho a todos aqueles que não se fazem presentes em nossas celebrações. Parafraseando o Papa Francisco, somos uma missão nesta terra, por isso estamos neste mundo. Diariamente o Senhor nos envia para junto de pessoas enfermas ou atormentadas pelo espírito do mal.

“Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Três palavras-chave: conversão, demônio, óleo. “Conversão” significa mudar a maneira de pensar, de entender a vida. As pessoas do nosso tempo são constantemente incentivadas a pensarem somente em si e a buscarem ser felizes, não se importando com nada e com ninguém. O Evangelho nos convida a mudar essa mentalidade: somos todos parte de um imenso organismo, onde a saúde ou a doença de um se reflete no outro. Ou cuidamos uns dos outros e nos salvamos todos juntos, ou nos destruiremos uns aos outros e ninguém sobreviverá.

            “Demônio”, espírito do mal, diabo. Sua atitude é sempre a mesma: dividir, nos opor uns aos outros, nos perverter em inimigos, nos envenenar com ódio, nos tornar assassinos, isto é, pessoas que acreditam que a violência e a morte são a única forma de “colocar a casa em ordem”. Se antes era comum que a política fosse marcada pela divisão, agora essa divisão passou a fazer parte das igrejas: cristãos estão divididos entre esquerda e direita, entre defensores do Evangelho e defensores de uma política de morte. Todos somos chamados a nos tornar verdadeiros discípulos daquele que, no seu corpo pregado na cruz, “destruiu o muro da inimizade” (Ef 2,14s) e colocou em diálogo as diferenças.

            Por fim, a “unção com óleo”. Todos nós estamos feridos. Muitos estão feridos no corpo: doença, fome, dependência química, agressão, violência, abuso, desorientação sexual, afetos desordenados, prostituição... Muitos estão feridos na alma: falta de sentido para a vida, vazio, tristeza, depressão, medo, pânico, ansiedade, doenças psíquicas... Muitos estão doentes no seu espírito: perda de fé e de esperança, descrença no amor, pessimismo, confusão de crenças, culto ao demônio... Sobre cada uma dessas feridas somos chamados a derramar óleo. Este óleo é o bálsamo de uma palavra, de uma escuta, de um olhar, de uma presença, de um toque, de um abraço, de um colocar-se junto. Somos cristãos, pessoas ungidas com o óleo do Espírito Santo, o mesmo Espírito que guiou Jesus em sua missão, o mesmo Espírito que deseja nos enviar para junto de pessoas que estão feridas e para as quais podemos ser óleo que cura, bálsamo que restaura...    

 

Oração: Senhor Jesus, torna-me uma pessoa profética, capaz de denunciar toda mentira, toda injustiça, e lutar incansavelmente para restabelecer a verdade e a justiça neste mundo. Confirma o Espírito Santo em minha vida, de modo que Ele se torne a garantia, a certeza interior de que minha vida está inserida num plano maior, cuja meta final é a minha salvação definitiva em Ti. Torna-me discípulo(a) missionário(a) da alegria do Evangelho. Converte-me! Abre minha mente para a verdade que liberta e que exige de mim coerência, compromisso, fidelidade. Livra a humanidade dos demônios que a atormentam. Livra nossa política e nossas igrejas do diabo que causa divisão, inimizade e ódio entre nós. Derrama sobre nossas feridas o bálsamo da reconciliação, da cura, da restauração. Envia-nos para junto das pessoas que estão feridas à nossa volta. Concede-nos palavras, olhares, toques e aproximações que curem, reanimem, fortaleçam, reergam, libertem e devolvam alegria, esperança, fé e sentido de vida para toda pessoa ferida que aguarda por nossa presença. Amém!  

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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