Missa do 5. dom. comum. Palavra de Deus: Jó 7,1-4.6-7; 1Coríntios 9,16-19.22-23; Marcos 1,29-39.
Ninguém
duvida que o nosso mundo é doente. Apesar de todo avanço científico e tecnológico,
nunca como em nosso tempo as pessoas estiveram tão doentes. Além da
proliferação do câncer nas suas inúmeras e diversas manifestações, e da grande
batalha contra o novo coronavírus, vemos cada vez mais pessoas adoecerem psiquicamente:
síndrome do pânico, ansiedade, depressão, esquizofrenia e outros tantos
transtornos.
É
inegável que muitas das doenças do nosso tempo são fruto da pobreza, da fome,
da desnutrição e da má alimentação; outras, são consequência de ambientes
marcados por violência e agressão. Algumas doenças são provocadas pelo vício da
bebida alcoólica, do cigarro e de outras drogas, enquanto outras são consequência
do estresse no mundo do trabalho, marcado por conflitos e por uma constante exigência
de “resultados”. Por fim, temos “doenças novas” devido ao vício do celular. Como
já cantava Legião Urbana, na música “Índios”, “nos deram espelhos e vimos um
mundo doente”. O tempo excessivo que algumas pessoas passam diante do celular
ou do computador, seja nas redes sociais, seja na infinidade de jogos que a
Internet oferece, adoece tanto o corpo (sedentarismo) quanto a alma (transtornos
emocionais e mentais).
Ora,
as doenças estão aí não simplesmente para serem combatidas e curadas, mas para
nos dizerem que precisamos mudar nossas atitudes, mudar nossa maneira de
entender a vida, de lidar com os conflitos e com as adversidades normais da
existência. As doenças estão aí para nos lembrar de que estamos dando prioridade
ao que não é prioritário, desrespeitando nossos limites e nos desumanizando; estamos
nos alimentando de leituras, de ideologias (de direita e de esquerda), de
comida, de bebida e de pessoas tóxicas. Enfim, as doenças estão aí para nos
lembrar que comemos alimentos industrializados e processados, ao invés de
comida caseira; bebemos refrigerante ou cerveja, no lugar de água ou suco
natural, tudo isso somado à falta de disposição e de disciplina em fazermos
exercícios físicos ao menos três vezes por semana.
Quando
esteve entre nós, Jesus tornou-se uma espécie de ímã que atraía para si muitas pessoas
enfermas. Inúmeros doentes procuravam por ele ou eram levados por outros até
ele, na esperança de serem curados. Na época de Jesus, toda doença era
entendida como castigo de Deus. “A exclusão do templo, lugar santo onde Deus
habita, lembra de maneira implacável aos enfermos aquilo que eles já percebem
no fundo de sua enfermidade: ‘Deus não os ama como ama os outros’” (José A.
Pagola, Jesus, aproximação histórica, p.195). Não bastasse estar
sofrendo com a doença, a pessoa enferma se sentia não amada por Deus; até
mesmo, esquecida e abandonada por Ele!
Mas Jesus
vem e nos revela algo extraordinário: o Deus em que nós cremos não é o “Deus
dos justos”, das pessoas corretas, boas e saudáveis, mas o “Deus dos que
sofrem”! Cada cura que Jesus realizou, foi para deixar claro que “Deus é, antes
de mais nada, o Deus dos que sofrem o desamparo e a exclusão” (José A. Pagola, Jesus,
aproximação histórica, p.196). Ao curar um enfermo, Jesus o liberta da
imagem deformada e doentia que tinha de Deus, e lhe dá uma imagem correta e saudável,
suscitando no doente sua confiança em Deus e convidando-o a sair do seu
isolamento e desespero.
Jesus
sempre deixou claro, a cada pessoa enferma, que o grande remédio para as
doenças é a fé. “Jesus não cura para despertar a fé, mas pede fé para que seja
possível a cura” (José A. Pagola, Jesus, aproximação histórica, p.205). A
cada doente, Jesus pedia fé na bondade de Deus. “Jesus trabalha o ‘coração’ do
enfermo para que confie em Deus, libertando-se desses sentimentos obscuros de
culpabilidade e abandono por parte de Deus, que a enfermidade produz” (José A.
Pagola, Jesus, aproximação histórica, p.205). Nossa Igreja é chamada por
Jesus a se tornar uma presença de cura, um lugar onde as pessoas podem se
libertar de imagens erradas de si mesmas e de Deus e construírem imagens
verdadeiras e saudáveis, ganhando uma nova compreensão a respeito de si mesmas,
da vida e do próprio Deus.
Mas
há um detalhe importante no Evangelho de hoje que não pode passar despercebido.
Após curar inúmeras pessoas, Jesus se retirou para se colocar na presença do
Pai, em oração: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e
foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Quem cuida dos outros precisa cuidar de
si também. Ninguém de nós é uma fonte inesgotável de ajuda para os demais.
Assim como Jesus, precisamos ter nosso momento diário de reflexão e de encontro
com Deus em nossa consciência. A oração é aquele momento em que permitimos que
Deus cuide de nós, que Ele corrija nossas ideias erradas e nos liberte de pesos
desnecessários que não nos cabem carregar, porque permitimos que os outros os
colocassem sobre nós. Sempre que estamos diante de Deus na oração, à semelhança
de Jesus, podemos nos lembrar da maneira como Ele se revelou a Israel: “Eu sou
o Senhor, aquele que te cura” (Ex 15,26).
Outro
detalhe importante, com o qual o Evangelho de hoje termina. Diante da incessante
procura do povo por Jesus – “Todos estão te procurando” (Mc 1,37) – ele teve a
liberdade de deixar aquele lugar, consciente da sua missão: “Vamos a outros
lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso
que eu vim” (Mc 1,38). Jesus nos ensina a estar atentos à armadilha do “messianismo”,
segundo a qual nós nos achamos “salvadores do mundo”. Não somos o centro do
mundo e não nos cabe fazer tudo para todas as pessoas. Não é prudente nem
sensato permitir que as pessoas nos elejam como seus salvadores particulares,
esperando – e muitas vezes, exigindo – que façamos por elas aquilo que é
obrigação delas fazerem por si mesmas. Saibamos nos manter livres e nos desinstalar.
Sempre haverá lugares para ir e pessoas para alcançar com o Evangelho no qual
cremos. Não nos tornemos propriedade privada de nenhuma pessoa, família,
comunidade, paróquia ou Diocese. Quem se acomoda nessa situação esquece “para
que veio”; esquece para que se tornou seguidor de Jesus Cristo.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Sou contra a teoria/ideologia de gênero .
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