Até onde pode ir o controle dos pais
sobre a vida dos filhos, isto é, sobre as escolhas que o filho decide fazer e as
decisões que decide tomar? Não há dúvida de que pais que amam seus filhos fazem
tudo – dão o sangue, a própria vida – pelo bem dos filhos. No entanto, os
filhos aos poucos vão crescendo, ganhando certa independência e exigindo certa
autonomia para fazerem suas próprias escolhas e tomarem suas próprias decisões.
Nesse caso, o máximo que os pais podem fazer é confiar na educação que deram
aos filhos e nos valores que lhes transmitiram, valores que formaram suas
consciências e que os ajudarão na vida a escolher o bem e rejeitar o mal.
A partir da adolescência, as mãos
dos pais vão se sentindo pequenas demais para “conter” nelas o filho que foi
gerado. São mãos que certamente estarão estendidas para ajudar o filho sempre
que ele precisar, mas essas mesmas mãos não têm como funcionar na vida do filho
como se fossem uma “redoma de vidro” capaz de reguardá-lo da vida e do mundo,
mesmo porque o filho se sentiria sufocado dentro dessa redoma. Portanto, os
pais precisam aceitar o fato de que naturalmente o filho saia de suas mãos, e
comece a dar passos no caminho da sua própria vida, na construção de si mesmo
como pessoa.
Quando ocorre a tragédia do
suicídio, inúmeras perguntam enchem a cabeça e o coração dos pais. Eles
poderiam ter evitado que o filho se suicidasse? Eles falharam em alguma coisa
em relação a ele? Na verdade, as perguntas que surgem e não param de gritar
dentro do coração dos pais são uma tentativa de encontrar uma explicação para o
suicídio do filho, uma explicação às vezes muito perigosa e destrutiva, porque
pode encher o coração dos pais do veneno de uma culpa e de uma responsabilidade
que eles não têm perante as escolhas e as decisões do filho.
Nenhum filho é resultado daquilo que
recebe dos pais, seja positivamente, seja negativamente. Todo filho é resultado
daquilo que escolhe fazer com aquilo que recebe dos pais. Isso fica claro
quando, de dois filhos, um cai nas drogas, o outro não; um vai para a
criminalidade, o outro não; um suporta levar pancadas e não se quebra facilmente,
o outro se quebra diante de qualquer abalo que sofre... Cada filho tem sua
própria personalidade, sua liberdade e sua consciência...
Por falar em consciência, eis aí um
lugar onde ninguém pode entrar: somente a própria pessoa. Por mais que os pais
orientem seus filhos, há em cada filho um espaço sagrado chamado consciência.
Ali nós estamos sozinhos, mas ali também ouvimos duas vozes falarem conosco: a
voz de Deus e a voz do mau espírito. Enquanto a voz de Deus sempre vai nos
sugerir atitudes que favoreçam a vida para nós e para o mundo à nossa volta, a
voz do maligno vai nos sugerir o contrário. A decisão final sempre será nossa
porque, como afirmou Victor Frankl, “tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto
uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da
vida”.
No entanto, existe algo que pode
comprometer a liberdade da pessoa: seu estado de saúde mental. O suicídio não é
simplesmente um problema de falta de fé, de falta de Deus, mas um problema de
saúde mental. Quando uma pessoa está com algum comprometimento na sua saúde
mental, sua liberdade de escolha fica afetada, e ela não tem como ser
totalmente responsabilizada por seus atos. Como alguém disse: a pessoa que se
suicida quer acabar com a dor psicológica que está sentindo, não com a própria
vida.
Pais que tiveram que lidar com essa
tragédia do suicídio de um filho precisam lembrar-se dessa palavra de Jesus: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu
dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de
minha mão. Meu Pai, que me deu estas
ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo
10,27-29). As mãos dos pais nunca terão poder suficiente para impedir um filho
de se suicidar, mas os pais cristãos podem confiar a vida de cada filho às mãos
de Deus e de seu Filho Jesus, pois ninguém, nem mesmo o mal do suicídio, pode
arrancar o filho dessas mãos, mãos que foram crucificadas, mãos que
experimentaram a morte, mãos que ressuscitaram, mãos que têm consigo as chaves
da morte, mãos às quais cada um de nós é chamado a se confiar diariamente.
Pe. Paulo
Cezar Mazzi
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