Missa do 24º. Dom. comum. Palavra de
Deus: Êxodo 32,7-11.13-14; 1Timóteo 1,12-17; Lucas 15,1-32
Um pastor tinha cem ovelhas, e uma
se perdeu. Uma mulher tinha dez moedas, e uma se perdeu. Um pai tinha dois
filhos, e um se perdeu. Quantas pessoas, aos nossos olhos, estão perdidas? Algumas,
perdidas nas drogas, no alcoolismo; outras perdidas no erro, na mentira, na
corrupção. Além disso, quantas coisas importantes se perderam dentro de nós?
Alguns não conseguem encontrar mais dentro de si a fé, a esperança, a alegria,
o sentido da vida, o caminho de volta para Deus... Quantas pessoas estão
perdidas dentro de si mesmas, sentindo-se como que dentro de um labirinto, sem
esperança de encontrar a saída do mesmo?
As parábolas da ovelha perdida, da
moeda perdida e do filho perdido são um resumo da história da salvação: justamente
porque ninguém de nós está garantido de não se perder em algum momento da vida,
Deus Pai enviou seu Filho Jesus ao mundo com a missão de “procurar e salvar o
que estava perdido” (Lc 19,10). Porque o coração do Pai e o coração do Filho
são movidos pela misericórdia, eles são corações que ouvem o grito dos perdidos,
e não descansam até que aquilo que estava morto volte a viver e aquilo que
estava perdido seja reencontrado. Portanto, se é verdade que ninguém está
garantido de não se perder, também é verdade que tudo aquilo que está perdido
pode ser reencontrado.
“Se
um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la?” (Lc 15,4). Neste mundo
massificado em que vivemos, o individualismo, a correria do dia a dia e o
excesso de informações podem nos tornar insensíveis à ovelha que se perdeu ou
que está se perdendo. Quantas pessoas próximas de nós estão se isolando e dando
sinais de que não estão bem, mas nós não temos tempo para percebê-las, para nos
aproximar e ouvi-las... E, de repente, acontece o suicídio... Muitos pais
passam a maior parte do tempo trabalhando fora para dar o melhor para seus
filhos, e não se dão conta de que estão perdendo seus filhos para inúmeros
lobos que falam com eles via Internet...
Mas
como é possível que um pastor se dê conta de que, num rebanho de cem ovelhas, somente
uma esteja ausente?! Esta “uma” ovelha fala da nossa unicidade: no coração de
Deus, cada ser humano é único e não tem como ser substituído por outro. Todo
ser humano é irrepetível e insubstituível na face da terra. Se hoje inúmeras
pessoas sentem que não farão falta se deixarem de existir, precisamos ajudá-las
a compreender o valor único que são; precisamos lembrá-las de que cada ser
humano é uma palavra única, uma mensagem única de Deus, a ser comunicada ao
mundo com a própria existência (cf. Papa Francisco, GE n.24).
“E
se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada,
varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la?” (Lc 15,8). Dentro da nossa casa
interior há coisas que se perderam, seja porque não cuidamos delas, seja porque
deixamos que o acúmulo, a desordem, a bagunça interior estejam nos impedindo de
achá-las. Quantos de nós estamos precisando acender a luz da nossa consciência,
varrer a nossa casa interior e procurar cuidadosamente onde foi que colocamos a
fé, a esperança, a fidelidade, a honestidade, o perdão, o diálogo, o sentido da
vida etc... Quantos de nós estamos procurando fora o que está dentro; estamos
procurando longe o que está perto?
Por
fim, o filho mais novo disse ao pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”
(Lc 15,12). Se os filhos só repartem a herança após a morte dos pais, para
aquele filho seu pai havia morrido. Para quantas pessoas Deus morreu, porque as
decepcionou, porque permitiu perdas na vida delas? Ou então, quantas vezes nós
já dissemos: “Tal pessoa para mim morreu!”? O personagem central da parábola que
Jesus conta não é o filho mais novo, nem o mais velho, mas o pai – retrato vivo
de Deus! Quando o filho volta para casa, depois de ter perdido tudo e se
tornado um farrapo humano, “seu pai o avistou, quando ainda estava longe, e
sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos” (Lc
15,20). E como se isso não bastasse, aquele pai “disse aos empregados: ‘(...) Vamos
fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi encontrado’” (Lc 15,22.24).
O
apóstolo Paulo disse: “Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra:
Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!” (1Tm
1,15). Portanto, há um abraço à espera de cada um de nós: o abraço do Pai! Ele
sabe onde estamos feridos; sabe onde nos perdemos: “Tu conheces cada um dos
passos errados que dei na vida e recolhes cada uma das minhas lágrimas no teu
coração” (citação livre do Sl 56,9). Ele enxerga o que está perdido dentro de
nós. Cabe a cada um de nós termos a mesma atitude do filho mais novo: “vou me
levantar e voltar para meu pai” (citação livre de Lc 15,18). Ao mesmo tempo, se
ontem o Pai precisou dos braços, das mãos, dos pés e do coração do Filho Jesus “para
procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10), hoje Ele precisa dos
nossos! Hoje Deus Pai pergunta à consciência de cada um de nós o que perguntou
à consciência de Caim: “Onde está teu irmão?” (Gn 4,9). ‘Onde está aquele que
se perdeu? Trabalhe junto comigo para que juntos possamos trazer de volta à
vida aquele que morreu e reencontrar aquele que se perdeu!’. Toda Eucaristia é
um apelo de Deus, para que reconheçamos que aquele que se perdeu é nosso irmão,
e a nossa alegria só será completa quando aquele que está morto voltar a viver,
quando aquele que está perdido for encontrado. Por isso, ao comungar hoje, é
bom que nos perguntemos: A quem eu devo procurar? Quem precisa ser encontrado
por mim? Para quem eu devo ser nesta semana sacramento da misericórdia do Pai?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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