Missa
do 25º. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 8,4-7; 1Timóteo 2,1-8; Lucas 16,1-13.
As
três maiores religiões do mundo atual são o Judaísmo, o Cristianismo e o
Islamismo. As três têm em comum a crença num único Deus. Além delas, existem
muitas outras religiões que não daria para nomear aqui. O que importa ressaltar
é que, apesar da diversidade religiosa dos nossos tempos atuais, e apesar daqueles
que não professam fé alguma, isto é, não praticam nenhuma religião, existe uma “religião”
que se impõe sobre todos os habitantes da terra: a religião do Mercado, cujo “deus”
é o dinheiro. Esse ídolo que tomou o lugar de Deus na consciência e nas
atitudes de muitas pessoas é visto como tão essencial que tê-lo significa de
certa forma estar “garantido”; não tê-lo significa estar literalmente “perdido”.
No
entanto, a Sagrada Escritura nos alerta para as consequências desastrosas do
culto ao “deus dinheiro”. Vamos lembrar aqui apenas um desses alertas: “Os que
desejam enriquecer, caem em tentação e armadilhas, em muitos desejos loucos e
perniciosos que afundam os homens na perdição e na ruína. A raiz de todos os
males é a cobiça do dinheiro. Por se terem deixado levar por ela, muitos se
extraviaram da fé e se atormentam a si mesmos com muitos sofrimentos” (1Tm
6,9-10). Eis, portanto, algumas consequências na vida de pessoas que têm uma dependência
excessiva e doentia em relação aos bens materiais: ansiedade, insônia,
depressão, suicídio, separação de casais, terceirização dos filhos, distanciamento
dos pais em relação aos filhos, perda de valores como honestidade, fidelidade; inversão
de valores (o bem aparente torna-se mais importante que o bem real), corrupção;
enfim, a consciência é posta à venda, ou mesmo jogada no lixo.
Jesus
quer que nos identifiquemos com o “administrador” que aparece na parábola que
acaba de nos contar. Cada um de nós é administrador da própria vida, e embora
vivamos num mundo marcado por um forte individualismo, Jesus nos convida a administrar
os bens materiais no sentido de ajudar a diminuir as injustiças sociais. Para
Jesus, tudo aquilo que acumulamos é fruto de injustiça. Quando entramos na dinâmica
de ganhar sempre mais e de viver sempre melhor, o dinheiro termina substituindo
Deus em nossa vida e exigindo de nós uma submissão absoluta. Com isso, deixamos
de lado a solidariedade e passamos a dar prioridade aos nossos interesses
particulares.
Mas,
de onde vem essa “necessidade” de possuir mais? Ela nasce da nossa insegurança:
queremos nos garantir na vida; queremos assegurar o nosso futuro. Mas cometemos
um grave erro: quanto mais coisas possuímos, tanto mais cresce nossa preocupação.
Na verdade, nós acabamos nos tornando pessoas “possuídas” pelo medo de perder o
que ganhamos ou conquistamos. Então, para nos livrar dessa “possessão”, Jesus
nos coloca diante de palavras que nos remetem para o Juízo Final: “Presta
contas da tua administração” (Lc 16,2). “Todos nós compareceremos perante o
tribunal de Deus” (Rm 14,10), quando, então, Ele nos perguntará como
administramos a nossa vida terrena. Portanto, o destino do nosso futuro começa
a ser construído agora, na maneira como estamos administrando a nossa vida
presente.
Embora
muitos desejem garantir seu futuro por meio do acúmulo de bens materiais, Jesus
entende o futuro como sendo a nossa salvação. Se é verdade que nenhum homem
pode salvar-se a si mesmo, pode, certamente, fazer algo em vista da sua
salvação. É no momento presente que precisamos procurar pela nossa salvação
futura, quando a morte nos fará passar da administração dos que Deus nos
concedeu temporariamente para o bem verdadeiro, que é a Vida eterna, Vida que aparece
simbolizada na parábola por uma casa. Quando tivermos deixado nossa casa
terrena, necessitaremos ser acolhidos na casa celeste que, segundo Jesus, é a
casa daquelas pessoas que nós ajudamos na terra.
Jesus
quer que sejamos “espertos” em relação à nossa salvação. Neste sentido, ele nos
faz uma provocação: “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios
do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Para ganhar dinheiro, algumas pessoas não
medem esforços e sacrifícios, enquanto que nós, cristãos, para ganharmos a Vida
eterna, parecemos não ter a mesma disposição em nos esforçar e nos
sacrificar... Além disso, uma vez que todos nós vivemos num mundo onde o
dinheiro é o motor principal da sobrevivência, Jesus nos lança um desafio: “Usem
o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando ele acabar, eles receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). Segundo Jesus, o dinheiro é “injusto” não
quando conseguido de maneira ilícita, mas simplesmente por se tratar de
dinheiro! Portanto, até para as pessoas honestas o dinheiro é um ídolo: ele
prende o homem a seus bens materiais e alimenta seu egoísmo ou seu instinto de dominação.
A única maneira de nos livrarmos do perigo das riquezas em relação à salvação é
destiná-las às obras de caridade, socorrendo os necessitados.
Eis,
portanto, o alerta de Jesus para nós, que vivemos neste mundo profundamente
materialista: todo dinheiro é “injusto” porque convida à posse e ao acúmulo,
contrários à vontade do Pai. Assim como acumular nos torna inimigos de Deus e
dos irmãos, a redistribuição nos faz amigos de Deus e dos irmãos. Toda pessoa
que se dispõe a seguir Jesus não pode fazer qualquer coisa com o dinheiro: há
um modo de ganhar dinheiro, de gastá-lo e de desfrutá-lo que é injusto, porque
esquece os mais pobres! Lembremos, enfim, dessa verdade anunciada por São Basílio
de Cesareia há séculos atrás: “Se cada um tirasse para si o que lhe é
necessário e entregasse aos indigentes o que sobra, ninguém seria rico, ninguém
seria pobre”.
ORAÇÃO:
Deus
Pai, teu Filho Jesus nos ensinou a confiar em Ti, pois o pai sabe aquilo que o
filho precisa. Vivendo neste mundo materialista, competitivo, desigual e
injusto, quero te pedir principalmente duas coisas: afasta de mim a falsidade e
a mentira; não te peço nem riqueza, nem pobreza, mas apenas que me concedas o
meu pão de cada dia. Que eu não me torne uma pessoa materialmente tão rica que
ache que não precisa de Ti; ao mesmo tempo, que eu não me torne alguém tão
pobre e miserável que precise roubar para sobreviver.
Entrego
em tuas mãos minhas necessidades materiais, emocionais e espirituais. Livra meu
coração do apego exagerado e doentio ao dinheiro. Quero ser como teu Filho
Jesus: uma pessoa atenta às necessidades dos pobres, dedicada a fazer a minha
parte para que este mundo se torne menos desigual e menos injusto. Enfim, que
eu jamais descuide da minha salvação, administrando minha breve vida neste
mundo com o meu coração e minha consciência diariamente voltados para Ti e para
a tua vontade. Amém!
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