Missa do 4º. dom.
do advento. Palavra de Deus: Miqueias 5,1-4a; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45.
A cena final do nosso tempo de Advento
é o encontro de duas mulheres grávidas: Isabel e Maria. Segundo as possibilidades
humanas, nenhuma delas poderia estar grávida: Isabel, além de idosa, era
estéril até então; Maria era virgem. No entanto, ambas estão grávidas “porque
para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). A esperança que nos moveu até aqui,
neste final de Advento, não é – e jamais poderá ser – uma esperança baseada na
força e nas possibilidades humanas, mas uma esperança que se assenta na fé, na
firme convicção de que Deus age de maneira surpreendente e faz, na vida daqueles
que n’Ele esperam, muito além do que podemos pedir ou imaginar (cf. Ef 3,20).
Isabel e Maria: duas mulheres pobres
e humildes, vazias de vaidade, cheias do Espírito de Deus! Essas duas mulheres
bíblicas contrastam fortemente com inúmeras mulheres do nosso tempo, mulheres que
se alimentam de futilidade e de vazio; mulheres que perderam o bom senso no
vestir e no falar; mulheres que consentem ser tratadas como objetos de consumo,
não só no lançamento de produtos, mas, sobretudo, nas letras de música e nos
bailes funk. Além disso, enquanto cresce cada vez mais o número de mulheres que
dizem: “meu corpo, minhas regras”, Isabel e Maria dizem, cada uma com sua plena
liberdade e sua consciência de fé: “meu corpo, meu santuário, no qual eu
escolhi abrigar um filho e gerar uma bênção de Deus para que a humanidade se
torne melhor”.
A saudação de Maria comunicou
alegria e paz a Isabel, de modo que a criança pulou de alegria em seu ventre. Os
bebês que estão sendo gerados no ventre materno ouvem tudo o que se fala no
ambiente em que a mãe se encontra. Esses bebês são tocados pela alegria ou pelo
medo, pela rejeição, pela agressão? O que nossas palavras comunicam? Se Isabel
e Maria se encontraram pessoalmente, a maioria dos nossos encontros e das nossas
conversas atualmente é feita por meio das redes sociais. Nós estamos
comunicando a alegria e a consolação do Espírito Santo às pessoas, ou estamos
apenas compartilhando vídeos e mensagens fúteis, vazios, desprovidos de valores
humanos e cristãos, boatos, mentiras, notícias falsas, pornografia e tantas
outras coisas que, além de não edificarem as pessoas, ainda colaboram para que
a elas se distanciem da graça do Espírito Santo (cf. Ef 4,29-30)?
O Evangelho se iniciou dizendo que Maria
dirigiu-se apressadamente à casa de sua prima Isabel, logo após saber que esta,
já em idade avançada, se encontrava grávida (cf. Lc 1,39). Essa atitude de
Maria nos lembra algo muito importante: alguém precisa da nossa presença. Foi
isso que moveu Maria a visitar Isabel e permanecer com ela até o final da sua
gravidez (cf. Lc 1,56). Se nós nascemos e se estamos vivos é por uma única
razão: alguém neste mundo precisa de nós. É isso que nos faz feliz, que dá
sentido à nossa vida: saber que alguém precisa de nós, alguém que está sozinho,
deprimido, doente, esquecido, sem esperança e sem alegria. E sempre que nos
fizermos presente junto a essa pessoa, a vida, a alegria, a esperança e a fé
despertarão dentro dela.
A visita de Maria a Isabel e a consequente
alegria que marcou o encontro dessas duas mulheres nos provocam e nos desafiam
e celebrar o Natal de uma maneira nova, diferente, verdadeira, até mesmo revolucionária!
O Natal não pode ser uma mentira em nossa vida! Neste sentido, são muito bem vindas
as proféticas palavras do Pe. Pagola: “O Natal é uma mentira quando você crê
que Deus quis compartilhar a nossa vida para restaurar o humano e, ao mesmo
tempo, você colabora com a desumanização da nossa sociedade, atentando de
alguma maneira contra a dignidade das pessoas. O Natal é uma mentira quando você
crê no Deus que se entregou ate a morte para defender e salvar o ser humano,
mas você passa a vida sem fazer nada por ninguém. O Natal é uma mentira quando
você canta e celebra a paz nas festas de final de ano, mas não faz nada para ajudar
com que desapareçam as causas dos conflitos que ferem a nossa sociedade. O
Natal é uma mentira quando você dá presentes aos filhos, familiares e amigos,
mas não se esforça por se fazer presente junto a eles, oferecendo-lhes sua
compreensão e sua ajuda gratuitamente” (tradução livre).
Uma
última palavra: “Ao entrar no mundo, Cristo afirma: ‘Tu não quiseste vítima nem
oferenda, mas formaste-me um corpo... Por isso eu disse: Eu vim, ó Deus, para
fazer a tua vontade’... É graças a esta vontade que somos santificados pela
oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,5.7.10).
No ventre de Maria já está sendo formado o corpo de Jesus, um corpo que o
próprio Jesus oferecerá livre e diariamente para a salvação da humanidade, uma
oferenda que se consumará na cruz. Como entendemos o nosso corpo? Como
administramos nossa liberdade, nossos afetos, nossa sexualidade? Nós permitimos
que o nosso corpo seja reduzido a um laboratório onde experimentamos sensações provocadas
por uma múltipla variedade de bebidas, drogas e relações sexuais sem qualquer
outro critério que não seja o orgasmo? Maria e seu Filho Jesus nos convidam a
tornar o nosso corpo sacramento da presença de Deus no mundo, uma presença que se
coloca junto para ajudar, servir, amparar, defender, consolar... É isso que fará
com que o Natal seja celebrado como algo verdadeiro, seja para nós mesmos, seja
para aqueles junto aos quais tivermos a coragem de nos fazer presentes.
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