segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

SOB A LUZ DAQUELE QUE É A VERDADEIRA LUZ


Missa do Natal do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.

            Oito séculos antes de Jesus nascer, Isaías fez uma profecia: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Embora tal profecia originalmente dissesse respeito ao nascimento do filho de Acaz, rei de Israel (cf. Is 7,10-15), ela foi aplicada ao nascimento de Jesus, seja pelo evangelista São Mateus (cf. Mt 1,22-23), seja pelo evangelista São Lucas: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol nascente vem nos visitar, para iluminar os que se encontram nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1,78-79).
            Natal é a festa da luz porque Jesus é “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). E, no entanto, são inúmeras as pessoas em nosso mundo que não foram alcançadas por essa luz, seja porque muitos de nós, cristãos, não vivemos como “filhos da luz” (Ef 5,8-9) – isto é, não damos testemunho do Evangelho –, seja porque tais pessoas se habituaram tanto com a escuridão que se sentem como morcegos, agredidas pela luz que tenta se aproximar delas, e, portanto, a rejeitam. Mas, mesmo diante da forte rejeição ao Evangelho no mundo atual, a missão de cada um de nós é a mesma do anjo do Senhor, na noite de Natal, isto é, fazer chegar ao coração das pessoas que convivem conosco esta verdade: “nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,11).
            O que precisa ficar claro, nesta noite/neste dia de Natal é que Jesus não nasceu para Maria, nem para José, nem apenas e tão somente para o povo judeu; Ele nasceu para cada ser humano; nasceu como Salvador de cada ser humano, como afirma o apóstolo Paulo: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todas as pessoas” (Tt 2,11). Portanto, a festa do Natal não é uma festa simplesmente cristã; ela deveria ser entendida e celebrada como festa para toda a humanidade, porque Jesus foi dado por Deus como um presente para toda a humanidade.
            Ao narrar o nascimento de Jesus, São Lucas detalha que “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). “Não havia lugar” para Jesus nascer. Quantas pessoas sentem que, para elas, “não há lugar” neste mundo? E, no entanto, Deus quis que seu precioso Filho nascesse como Salvador de todas as pessoas que se sentem “sem lugar”. Desse modo, o Natal é o anúncio de que, “onde não há lugar, onde tudo parece esgotar-se e é condenado a crescer em meio às ameaças e às intempéries das situações humanas” (Pe. Adroaldo), é ali que Jesus escolheu se manifestar como Salvador. “Na Gruta, Jesus teve sua preferência e escolheu o seu ‘lugar’, o lugar entre os mais pobres, vítimas daqueles que se fazem donos dos lugares” (Pe. Adroaldo).
            Esta breve reflexão sobre o “lugar” onde Jesus nasceu – mais exatamente, sobre o fato de que “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7) –, é oportuna para nos lembrarmos dessas belas palavras da música “Lugares”, composta por Walmir Alencar: “O mesmo Deus e Senhor hoje passa aqui; a nossa história também que tocar com a mesma força e poder, incansável amor, que procura a quem transformar, que transforma a quem encontrar. Hoje em minha vida, onde eu estiver, Ele continua a passar. Incansavelmente insiste em me visitar; em meu coração quer ficar”. Neste sentido, poderíamos também recordar aqui as palavras do poeta Angelus Silesius (1624): “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, se Ele não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida”.
            Enfim, queridos irmãos, nesta noite/neste dia de Natal, acolhamos a proclamação do evangelista São João: “E a Palavra de Deus se fez pessoa humana e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus nasceu porque Deus tem algo a dizer à humanidade e Ele veio dizê-lo não a partir de cima ou de longe; veio dizê-lo a partir de baixo, colocando-Se junto a nós, ao nosso lado, porque é “Deus conosco” (Mt 1,23). Jesus é “Deus conosco”; encontra-se junto a nós, em nossas lutas, dores, sofrimentos e esperanças. Ouçamos o que Ele tem a nos dizer não somente com sua Palavra, mas também a partir da sua imagem no presépio: “nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho...; seu nome é Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). Sigamos seus Conselhos, busquemos abrigo debaixo da sua Força, confiemos a Ele nosso Futuro e nossa esperança, trabalhemos com Ele na promoção da justiça e da Paz.
Ainda diante do presépio, contemplemos seus personagens bíblicos: MARIA – Foi a partir do seu “sim” que o Filho de Deus se fez pessoa humana no seu ventre e veio ao mundo como luz que ilumina todo ser humano (cf. Jo 1,9). Ao dizer: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!” (Lc 1,38), Maria nos convida a permitir que a Palavra de Deus se encarne em nossa história, realizando tudo aquilo que Deus quer transformar e renovar. JOSÉ – Foi durante um sonho que José entendeu a sua vocação de pai adotivo de Jesus (cf. Mt 1,20-21). José nos ensina a ouvir a voz de Deus em nossa consciência e a ocupar o nosso lugar na história da salvação. Assim como ele, nós não somos o personagem principal dessa história, mas o nosso lugar é único e também necessário, para que Deus continue a salvar a humanidade hoje. PASTORES – Por meio desses pastores Deus revela o sentido do Natal: Ele enviou o seu Filho “para procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10) porque Jesus é “o Astro das alturas que veio nos visitar, para iluminar os que se encontram nas trevas e na sombra da morte estão sentados” (Lc 1,78-79). Hoje cada um de nós é convidado a se tornar portador dessa luz do Natal, levando-a especialmente a todos aqueles que se encontram numa situação de escuridão, de abandono ou de exclusão. ANJO – Na noite de Natal, o anjo do Senhor envolveu os pastores em sua luz e lhes anunciou a grande alegria do nascimento do Salvador (cf. Lc 2,9-10). O anjo do Senhor aponta para a nossa vocação de mensageiros do Evangelho. Santa Teresa de Calcutá dizia: “Talvez você seja o único Evangelho que seu irmão lê”. ESTRELA – Ela foi responsável por guiar os Magos do Oriente até Jesus (cf. Mt 2,1-2). Cada um de nós precisa cuidar e valorizar a pequena luz que guarda em si: a luz da fé, da bondade, da retidão de comportamento, da fidelidade, do serviço em favor da justiça; a luz da humildade, aquela luz que, de alguma forma, faz com que a pessoa que convive conosco sinta o desejo de se voltar para Deus. Por fim, os MAGOS – A busca deles por Jesus foi uma busca sofrida e marcada pela persistência, pela perseverança. Da mesma forma, nós também temos que atravessar noites escuras em nossa busca por Deus, levando no coração a Palavra que diz: “Caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7).

Pe. Paulo Cezar Mazzi    

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