Missa do Natal
do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.
Oito séculos antes de Jesus nascer,
Isaías fez uma profecia: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz;
para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Embora
tal profecia originalmente dissesse respeito ao nascimento do filho de Acaz, rei
de Israel (cf. Is 7,10-15), ela foi aplicada ao nascimento de Jesus, seja pelo
evangelista São Mateus (cf. Mt 1,22-23), seja pelo evangelista São Lucas:
“Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol nascente vem nos
visitar, para iluminar os que se encontram nas trevas e nas sombras da morte”
(Lc 1,78-79).
Natal é a festa da luz porque Jesus
é “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). E,
no entanto, são inúmeras as pessoas em nosso mundo que não foram alcançadas por
essa luz, seja porque muitos de nós, cristãos, não vivemos como “filhos da luz”
(Ef 5,8-9) – isto é, não damos testemunho do Evangelho –, seja porque tais
pessoas se habituaram tanto com a escuridão que se sentem como morcegos,
agredidas pela luz que tenta se aproximar delas, e, portanto, a rejeitam. Mas,
mesmo diante da forte rejeição ao Evangelho no mundo atual, a missão de cada um
de nós é a mesma do anjo do Senhor, na noite de Natal, isto é, fazer chegar ao
coração das pessoas que convivem conosco esta verdade: “nasceu para vocês um
Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,11).
O que precisa ficar claro, nesta
noite/neste dia de Natal é que Jesus não nasceu para Maria, nem para José, nem
apenas e tão somente para o povo judeu; Ele nasceu para cada ser humano; nasceu
como Salvador de cada ser humano, como afirma o apóstolo Paulo: “A graça de
Deus se manifestou trazendo a salvação para todas as pessoas” (Tt 2,11).
Portanto, a festa do Natal não é uma festa simplesmente cristã; ela deveria ser
entendida e celebrada como festa para toda a humanidade, porque Jesus foi dado
por Deus como um presente para toda a humanidade.
Ao narrar o nascimento de Jesus, São
Lucas detalha que “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o
colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7).
“Não havia lugar” para Jesus nascer. Quantas pessoas sentem que, para elas,
“não há lugar” neste mundo? E, no entanto, Deus quis que seu precioso Filho
nascesse como Salvador de todas as pessoas que se sentem “sem lugar”. Desse
modo, o Natal é o anúncio de que, “onde não há lugar, onde tudo parece esgotar-se
e é condenado a crescer em meio às ameaças e às intempéries das situações
humanas” (Pe. Adroaldo), é ali que Jesus escolheu se manifestar como Salvador.
“Na Gruta, Jesus teve sua preferência e escolheu o seu ‘lugar’, o lugar entre
os mais pobres, vítimas daqueles que se fazem donos dos lugares” (Pe. Adroaldo).
Esta breve reflexão sobre o “lugar”
onde Jesus nasceu – mais exatamente, sobre o fato de que “não havia lugar para
eles na hospedaria” (Lc 2,7) –, é oportuna para nos lembrarmos dessas belas palavras
da música “Lugares”, composta por Walmir Alencar: “O mesmo Deus e Senhor hoje
passa aqui; a nossa história também que tocar com a mesma força e poder,
incansável amor, que procura a quem transformar, que transforma a quem
encontrar. Hoje em minha vida, onde eu estiver, Ele continua a passar.
Incansavelmente insiste em me visitar; em meu coração quer ficar”. Neste
sentido, poderíamos também recordar aqui as palavras do poeta Angelus Silesius
(1624): “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, se Ele não nascer dentro de
ti, tua alma ficará perdida”.
Enfim, queridos irmãos, nesta
noite/neste dia de Natal, acolhamos a proclamação do evangelista São João: “E a
Palavra de Deus se fez pessoa humana e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus
nasceu porque Deus tem algo a dizer à humanidade e Ele veio dizê-lo não a
partir de cima ou de longe; veio dizê-lo a partir de baixo, colocando-Se junto
a nós, ao nosso lado, porque é “Deus conosco” (Mt 1,23). Jesus é “Deus
conosco”; encontra-se junto a nós, em nossas lutas, dores, sofrimentos e
esperanças. Ouçamos o que Ele tem a nos dizer não somente com sua Palavra, mas
também a partir da sua imagem no presépio: “nasceu para nós um menino, foi-nos
dado um filho...; seu nome é Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos
futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). Sigamos seus Conselhos, busquemos abrigo debaixo da sua Força, confiemos a Ele nosso Futuro e nossa esperança,
trabalhemos com Ele na promoção da justiça e da Paz.
Ainda
diante do presépio, contemplemos seus personagens bíblicos: MARIA – Foi a
partir do seu “sim” que o Filho de Deus se fez pessoa humana no seu ventre e
veio ao mundo como luz que ilumina todo ser humano (cf. Jo 1,9). Ao dizer: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo tua palavra!” (Lc 1,38), Maria nos convida a permitir que a Palavra
de Deus se encarne em nossa história, realizando tudo aquilo que Deus quer transformar
e renovar. JOSÉ – Foi durante um sonho que José entendeu a sua vocação de pai adotivo
de Jesus (cf. Mt 1,20-21). José nos ensina a ouvir a voz de Deus em nossa
consciência e a ocupar o nosso lugar na história da salvação. Assim como ele,
nós não somos o personagem principal dessa história, mas o nosso lugar é único
e também necessário, para que Deus continue a salvar a humanidade hoje. PASTORES
– Por meio desses pastores Deus revela o sentido do Natal: Ele enviou o seu
Filho “para procurar e salvar o que
estava perdido” (Lc 19,10) porque Jesus é “o Astro das alturas que veio nos visitar, para iluminar os que se
encontram nas trevas e na sombra da morte estão sentados” (Lc 1,78-79).
Hoje cada um de nós é convidado a se tornar portador dessa luz do Natal,
levando-a especialmente a todos aqueles que se encontram numa situação de
escuridão, de abandono ou de exclusão. ANJO – Na noite de Natal, o anjo do
Senhor envolveu os pastores em sua luz e lhes anunciou a grande alegria do
nascimento do Salvador (cf. Lc 2,9-10). O anjo do Senhor aponta para a nossa
vocação de mensageiros do Evangelho. Santa Teresa de Calcutá dizia: “Talvez você seja o único Evangelho que seu
irmão lê”. ESTRELA – Ela foi responsável por guiar os Magos do Oriente até
Jesus (cf. Mt 2,1-2). Cada um de nós precisa cuidar
e valorizar a pequena luz que guarda em si: a luz da fé, da bondade, da retidão
de comportamento, da fidelidade, do serviço em favor da justiça; a luz da
humildade, aquela luz que, de alguma forma, faz com que a pessoa que convive conosco
sinta o desejo de se voltar para Deus. Por fim, os MAGOS – A busca
deles por Jesus foi uma busca sofrida e marcada pela persistência, pela
perseverança. Da mesma forma, nós também temos que atravessar noites escuras em
nossa busca por Deus, levando no coração a Palavra que diz: “Caminhamos pela fé, não pela visão clara”
(2Cor 5,7).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário