sexta-feira, 29 de junho de 2018

DE UMA FÉ INCONSISTENTE PARA UMA FÉ CONVICTA

Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.

            Neste final de semana em que celebramos São Pedro e São Paulo, as duas colunas da Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos (cf. Ef 2,20), vemos o presidente da celebração revestido da cor vermelha, cor que remete para o sangue que Pedro e Paulo derramaram por Jesus Cristo e pelo anúncio do Evangelho, sangue que também o apóstolo Tiago derramou (cf. At 12,2). De fato, sobretudo nos primeiros séculos, inúmeros cristãos foram perseguidos e mortos por causa da sua fé. Mas também precisamos reconhecer que alguns dirigentes da Igreja não hesitaram em derramar o sangue de muitas pessoas, sobretudo na época das Cruzadas e da Inquisição, pensando com isso estar defendo a verdadeira fé.
            Ao recordar a perseguição violenta de Herodes contra a Igreja, podemos nos perguntar: A Igreja hoje sofre perseguição? Quando e por que a Igreja incomoda? A Igreja incomoda sempre que se posiciona contra uma economia e uma política que dão prioridade ao dinheiro em detrimento da pessoa humana. A Igreja igualmente incomoda sempre que defende valores como a família, o casamento e a vida, desde a sua concepção até o seu fim natural. Mas, sobretudo, a Igreja incomoda e sofre ataques quando denuncia as injustiças sociais e cobra das autoridades uma atenção especial aos pobres. Quando isso acontece, não são poucos os que a acusam de ser “de esquerda”, ou comunista.
            Por respeito à verdade, precisamos considerar que a Igreja não é simplesmente “vítima” de inúmeras tentativas de desacreditá-la, dificultando que sua voz profética ouvida. O padrão de vida luxuoso e o consequente distanciamento dos pobres e daqueles que vivem nas periferias existenciais, adotado por alguns de seus representantes, além do inaceitável escândalo da pedofilia, fazem a Igreja atualmente pagar o preço do descrédito, consequência do seu distanciar-se do Evangelho e do não tratar com seriedade e firmeza suas próprias doenças. Portanto, nem todo ataque à Igreja é injusto e gratuito...
            O fato é que a Igreja não é, e nem tem como ser, um espaço sagrado onde existem somente o bem, a verdade e a justiça. Como todo lugar ocupado pelo ser humano, a Igreja é um campo onde crescem juntos o trigo e o joio, o bem e o mal, a verdade e a mentira, a justiça e injustiça. Embora muitos, ao se deparar com as falhas e incoerências de alguns representantes da Igreja, tenham decidido jogar fora o bebê junto com a água do banho, abandonando de vez sua participação nas celebrações e demais atividades da Igreja, o Papa Francisco nos convida a “cultivar o trigo e não perder a paz por causa do joio” (EG 24). Se as feridas que alguns representantes da Igreja causaram a algumas pessoas não são pequenas, muito maiores são as feridas de Cristo para santificar continuamente essa mesma Igreja (cf. Ef 5,25-27).               
            A liturgia de hoje nos fala de Pedro e Paulo presos e aguardando o momento de serem condenados à morte. Pedro foi preso com duas correntes. Quais correntes nos aprisionam, como cristãos: vergonha, medo, comodismo, sentimento de impotência diante do mal que assola o mundo? “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5). Eis a resposta às orações: “O Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes...” (At 12,11). Nós oramos uns pelos outros? Oramos pelo Papa Francisco, criticado e perseguido por pessoas de dentro da nossa própria Igreja? Oramos pelos nossos dirigentes e pelos cristãos que são perseguidos? Nós acreditamos no poder da oração de quebrar as correntes que nos aprisionam?
            Enquanto Paulo, na prisão, aguardava o momento da sua execução, declarou: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Como entendemos a fé? Como uma força, uma energia, um “anestésico”, uma redoma de vidro capaz de nos manter blindados contra os sofrimentos da vida e os ataques do mundo? Paulo entendeu a fé como um combate a ser enfrentado, como uma corrida a ser percorrida, como um bem precioso a ser defendido e guardado. Não são poucas as pessoas hoje que têm uma fé inconsistente: bastou se depararem com uma dificuldade, bastou uma decepção com alguém da Igreja, bastou uma aparente ausência de Deus na vida delas, e sua fé deixou de ter sentido.
            O Evangelho nos revela algo inquietante: ao longo da vida, a nossa fé não será questionada apenas pelo mundo, mas pelo próprio Jesus: “Quem eu sou para vocês? (Mt 16,15). E aqui Jesus não está pedindo nossa opinião sobre Ele, mas perguntando o que Ele verdadeiramente significa para nós. E antes que pensemos qual resposta dar a essa pergunta, tenhamos consciência de que a resposta não está em nossos lábios, mas na maneira como vivemos. Não é aquilo que falamos aos outros que nos define como cristãos, mas a maneira como vivemos o nosso dia a dia. Pedro, apesar da sua inconsistência humana, tinha uma convicção no seu coração a respeito de Jesus: “Tu és o Messias (Cristo), o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Aquilo que nos mantém em pé diante das dificuldades, aquilo que não nos deixa afundar, diante deste mundo mergulhado em tantas incertezas, é ter convicção da nossa fé. Justamente por isso, Jesus disse: “(...) tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18).
Jesus disse: “minha Igreja” – a Igreja é d’Ele! Jesus quis a Igreja como “lugar” onde os Seus se reúnem para ouvir Sua palavra e se alimentar do Seu Corpo e Sangue. Que hoje possamos recobrar a consciência de que somos “membros da família de Deus” (Ef 2,19); estamos “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra principal” (Ef 2,20). Não somos folhas secas empurradas pelo vento da desorientação, nem pessoas que afundam no pântano da angústia, da incerteza e da falta de fé; somos como Pedro, somos “pedras vivas” (1Pd 2,5), pessoas que escolheram apoiar-se em Jesus Cristo, a pedra principal. É sobre Ele e sobre sua Igreja que hoje reafirmamos o desejo de fundar a nossa própria vida, porque é em Cristo e na sua Igreja que encontramos estabilidade, segurança, proteção e salvação.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 21 de junho de 2018

PARA QUE VOCÊ EXISTE?

Missa da Natividade de São João Batista – Palavra de Deus: Isaías 49,1-6; Atos dos Apóstolos 13,22-26; Lucas 1,57-66.80     
           
            Por que uma criança nasce e vem ao mundo? Por que eu nasci e vim ao mundo? Muitas pessoas ainda não sabem por que nasceram e por que vieram ao mundo. No entanto, a pergunta mais importante não é “por que?”, mas “para que?”: Para que uma criança nasce e vem ao mundo? Para que eu nasci e vim ao mundo? Enquanto a pergunta “por que?” costuma nos colocar no papel de vítimas diante da vida, a pergunta “para que?” nos convida a ocupar o lugar para o qual nós nascemos, o lugar de pessoas responsáveis por sua própria história de vida, tendo consciência de que a nossa existência não é simplesmente uma vida a ser desfrutada; muito mais que isso, ela é uma história a ser construída.  
A festa que celebramos hoje – nascimento de São João Batista – nos convida a redescobrir a finalidade da nossa existência, tornando-nos mais conscientes de que não nascemos e não existimos por acaso, mas por um desígnio de Deus: “O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome” (Is 49,1). “O Senhor chamou-me antes de eu nascer”. A sua existência não foi uma escolha sua, nem de seus pais, nem muito menos de um destino cego e sem sentido, mas uma escolha de Deus. Além disso, a palavra “antes” também significa: antes do sentimento de ter sido rejeitado(a); antes da tomada de consciência da própria identidade sexual; antes do abuso sexual ou da falta de cuidado; antes de ser mimado, superprotegido e, consequentemente, fragilizado pelos pais; antes de tudo o que aconteceu com você nos primeiros anos de vida, existe a verdade do amor de Deus como razão originária da sua existência.
“(...) ele tinha na mente o meu nome”. Antes de seus pais se darem conta da sua gravidez e começarem a pensar na escolha do seu nome, Deus já tinha na mente d’Ele o seu nome. Na Bíblia, o nome significa duas coisas: a nossa identidade e a nossa missão. O nome diz que nós não somos a repetição de ninguém; não somos a reencarnação de ninguém. Nós somos únicos e temos uma missão única. “Importante é que cada fiel entenda o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quando Deus colocou nele algo de muito especial (1Cor 12,7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele” (Papa Francisco, GE 11)*. Cada um de nós é uma marca única do Evangelho. Há uma palavra, uma mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a sua vida. “O Senhor a levará ao cumprimento mesmo no meio dos teus erros e momentos negativos, desde que não abandones o caminho do amor e permaneças sempre atento à sua ação sobrenatural que purifica e ilumina” (Papa Francisco, GE 24)*.
Além de indicar a identidade única e original da pessoa, o nome indica, na Bíblia, a nossa missão. O para que da existência e do nascimento de cada um de nós é em vista de uma missão: “Que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele” (Is 49,5). A nossa presença num determinado ambiente nunca é por acaso. Cada um de nós precisa ter essa consciência: ‘Se a mão de Deus me colocou aqui, é porque há algo que eu devo e posso fazer para recuperar alguém para Ele, para reaproximar alguém d’Ele’. E ainda que às vezes pensemos que estamos trabalhando em vão e gastando nossas forças inutilmente (cf. Is 49,4), lembremos que o Senhor nos sustenta a cada dia, para que a salvação d’Ele chegue, por meio de nós, ao coração das pessoas que ainda não fizeram a experiência do Seu amor (cf. Is 49,6).
            João Batista foi gerado num ventre idoso, e apesar disso nasceu porque sua mãe Isabel permitiu que o tempo da gravidez se completasse (cf. Lc 1,57). Você também acolhe as promessas de Deus e espera o tempo necessário até que elas amadureçam e você possa dar à luz aquilo que permitiu que Deus gerasse na sua vida? Como você se posiciona em relação ao aborto? Com qual frase você se identifica: “Meu corpo, minhas regras” ou “Meu corpo, santuário da vida”? Como você enxerga o seu embrião ou seu feto: como uma vida confiada por Deus aos seus cuidados ou simplesmente como um órgão do seu corpo que você pode decidir extirpar ou não? Você também comunga da ideia de que ‘filho é sinônimo de problema’, e por isso é melhor substituí-lo por um animal de estimação?  
            Todos os que ficaram sabendo do nascimento miraculoso de João Batista se perguntavam: “O que virá a ser este menino?” (Lc 1,66). O que virá a ser um aluno que estuda numa escola adepta da ideologia de gênero e que por isso não permite que a criança se sinta com uma identidade sexual? O que virá a ser uma criança que tem tudo na mão e que é tratada como príncipe ou princesa por seus pais, pais que agem o tempo todo como se fossem serviçais dela? O que virá a ser uma criança que desde cedo é exposta excessivamente à TV e à Internet, que tem diariamente nas mãos um celular, mas raramente ou nunca um livro? O que virá a ser uma criança que raramente ou nunca é corrigida por seus pais? O que virá a ser uma criança que cresce longe de qualquer igreja ou religião, lembrando o fato já constatado que “pais que levam seu filho a uma igreja dificilmente irão visitá-los numa cadeia” (Içami Tiba, médico psiquiatra, autor de “Quem ama, educa” e vários outros livros)? “O que virá a ser este menino?” (Lc 1,66). Seu filho virá a ser um juiz corrupto, um político corrupto, um empresário corrupto, um médico corrupto? O que o seu filho virá a ser depende, por um lado, daquilo que ele está recebendo agora de você, pai/mãe, e do ambiente em que ele vive e, por outro, da maneira como ele vai lidar com aquilo que está recebendo. Se o seu filho virá a ser uma pessoa de caráter, íntegro e temente a Deus, depende, em boa parte, do tipo de valores que você, pai/mãe, cultiva em casa.
            Ainda a respeito de João Batista o Evangelho diz: “a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1,66). Em relação a quanto(a)s menino(a)s hoje contatamos que a mão do traficante está com ele(a); a mão do consumismo está com ele(a); a mão da internet está com ele(a), alimentando nele(a) solidão e isolamento, os quais se tornam terreno fértil para ideias suicidas; a mão do ateísmo está com ele(a); a mão do maligno está com ele(a)? “E o menino crescia e se fortalecia em espírito” (Lc 1,80). Cada vez mais os pais se admiram como seus filhos crescem rápido, tanto fisicamente quanto na inteligência e na agilidade, sobretudo ao lidar com as novas tecnologias. Eles também têm crescido e se fortalecido “em espírito”? Concretamente, como você, pai/mãe, está cuidando do crescimento espiritual de seu filho?
            “E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1,80). João cresceu “nos lugares desertos”, longe dos olhares dos outros – hoje diríamos: longe das redes sociais –, ignorado pelo mundo. Habituados com a cultura do narcisismo, um dos nossos maiores medos é o de não sermos vistos, notados, percebidos pelos outros. O que dizer das crianças cujas fotos são excessivamente expostas nas redes sociais? O que dizer dos pais que, escravos do consumismo, celebram o “mesversário” (perdão pelo termo ridículo) do filho recém-nascido, alimentando nele a ideia doentia de que o mundo gira em torno dele e da sua beleza? A vida terá muito a ensinar a uma criança que cresce nesse meio, até que ela entenda que a felicidade não está em aparecer, mas em ser. Que os nossos breves dias neste mundo sejam vividos não sob os olhares do mundo e as curtidas nas redes sociais, mas sob o olhar d’Aquele que nos formou ocultamente no seio de nossa mãe (cf. Sl 139,15) e que ama a verdade (não a vaidade) no fundo do nosso ser (cf. Sl 51,8).   
           
* Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e exultai), sobre a chamada à santidade no mundo atual.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 14 de junho de 2018

A GRAÇA NÃO DISPENSA O ESFORÇO, MAS SEMPRE O SUPERA

Missa do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: Ezequiel 17,22-24; 2Coríntios 5,6-10; Marcos 4,26-34

            A vida tem uma “lei” imutável: nós colhemos aquilo que semeamos. A própria Sagrada Escritura confirma essa lei: “Porque semeiam vento, colherão tempestade!” (Os 8,7); “O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna” (Gl 6,7-8). Apesar dessa “lei”, apesar de ser verdade que nós colhemos aquilo que semeamos, existe uma grande contradição em muitos de nós: todos querem colher paz, mas alguns semeiam conflitos; todos querem colher alegria, mas alguns semeiam tristeza; todos querem colher justiça, mas alguns semeiam injustiças; todos querem colher respeito, mas alguns semeiam atitudes de desrespeito... Portanto, se em nossa vida afetiva, profissional e espiritual não estamos colhendo aquilo que gostaríamos de colher, muito provavelmente o problema está naquilo que estamos semeando – ou, quem sabe, deixando de semear... 
Jesus compara a ação de Deus em nós a uma semente que, após ser semeada na terra, germina por si mesma, sem a nossa interferência, sem o nosso controle. Ora, todos nós vivemos num mundo que constantemente cobra de nós eficiência; sem eficiência, não há resultados. Se os resultados esperados não surgem é porque não estamos sendo eficientes o bastante. Além disso, uma vez que estamos mal acostumados com a rapidez da tecnologia, nós queremos resultados rápidos, imediatos. Não temos paciência nem conosco, nem com outros, nem com Deus, nem com a vida. Desse modo, quando os resultados não surgem rápida ou imediatamente, abandonamos os nossos projetos, jogamos fora os nossos sonhos, desistimos daquilo que estávamos cultivando.
Ao falar da ação de Deus em nós a partir da imagem da semente, Jesus nos lembra que semear supõe confiança, perseverança e paciência. Deus confia e acredita na força da semente da sua graça em nós, mas nós precisamos recuperar a consciência de que a semente leva em si mesma uma força e uma fecundidade que não dependem do nosso controle, nem do nosso esforço. A imagem da semente que germina debaixo da terra, sem que o semeador saiba como, nos ensina que o nosso crescimento e a nossa transformação dependem muito mais da graça de Deus do que do nosso esforço. Por isso, Jesus nos convida a abrir mão do controle, a parar de dizer para Deus o quê, como e quando Ele deve agir em nosso favor, e a termos a humildade de reconhecer que existem coisas/mudanças que só vão acontecer em nós pela graça de Deus e não pelo nosso esforço humano.
Agora a pouco o apóstolo Paulo disse: “caminhamos na fé e não na visão clara” (2Cor 5,7). Da mesma forma que o agricultor não está vendo a semente germinar debaixo da terra, mas confia que ela está germinando, assim devemos seguir pela vida jamais deixando de semear só porque não estamos vendo resultados em nosso trabalho. O mesmo apóstolo Paulo que afirma: “O que o homem semear, isso colherá” (Gl 6,7) também nos aconselha: “Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desanimarmos, a seu tempo colheremos” (Gl 6,9). Se não desanimarmos, se não deixarmos de semear só porque não estamos vendo o resultado do nosso trabalho, se não desistirmos, colheremos.
Após comparar a ação de Deus em nós com a semente que germina por si mesma, Jesus faz uma segunda comparação: Deus se manifesta em nossa vida de maneira humilde e simples, como um minúsculo grão de mostarda. Com isso, Jesus nos ensina que a solução de um problema nem sempre está em fazer coisas grandiosas, mas em semear pequenas sementes. Nós estamos mal acostumados a valorizar somente aquilo que é grande e forte, ao mesmo tempo em que desprezamos e jogamos fora aquilo que aparentemente é pequeno e fraco. Ora, toda mudança, toda cura, toda transformação começa com pequenas atitudes. Não nos enganemos quanto ao “tamanho” daquilo que estamos vendo. Não desprezemos as pequenas sementes que podemos semear: justamente nelas pode estar a resposta daquilo que estamos procurando...
Numa época onde a maioria das pessoas está em busca de “resultados”, não se dando ao trabalho de lançar sementes e de respeitar o tempo necessário de germinação e crescimento das mesmas; numa época em que tantos abortam as transformações mais importantes que poderiam acontecer em sua vida porque elas se apresentaram em forma de “grãos de mostarda”, erroneamente interpretados como “coisas insignificantes”, a Palavra de Deus nos convida à confiança e à perseverança. Deus, o Pai que enviou seu Filho ao mesmo tempo como Semeador e como Semente do seu Reino entre nós, disse algo muito importante na liturgia de hoje: “Eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24). Ele não apenas semeou sua graça em nós, mas também nos semeou como árvores capazes de produzir o fruto da justiça, da paz e do bem em favor da humanidade.
Se ao longo da vida nos tornamos uma árvore alta, isto é, uma pessoa arrogante e autossuficiente, aceitemos ser rebaixados e humilhados por Ele, para o nosso próprio bem. Se nos sentimos uma árvore baixa, uma pessoa humilhada e desprezada pelos outros, entreguemos tal humilhação a Deus, para que no momento certo Ele nos exalte (cf. 1Pd 5,6). Se, pela graça de Deus, estamos vivendo como uma árvore verde, fecunda, capaz de produzir frutos, não permitamos que o orgulho nos adoeça e não nos esqueçamos de que “aquele que pensa estar de pé, tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12) – o Senhor pode tirar de nós a sua fecundidade e nos fazer murchar e secar. Por fim, se estamos nos sentindo como uma árvore seca, uma pessoa que não consegue ver mais fecundidade em alguma área da sua vida, entreguemos nossos galhos secos a Deus; entreguemos a Ele nossas raízes, sobretudo, e confiemos: Ele tem o poder de nos devolver fecundidade. Confiemos na sua Palavra: até mesmo as pessoas que estão em idade avançada e que, aos olhos da sociedade, são vistas como improdutivas, até mesmo essas pessoas podem se tornar fecundas, como diz o salmista: “Mesmo no tempo da velhice darão frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes” (Sl 92,15).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Oração da serenidade (Papa Jão XXIII)

Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez. Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém, não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma. Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém o saiba. Só por hoje farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim, como se existisse somente eu no mundo, ainda que as circunstâncias manifestem o contrário. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

RETOME O COMANDO DA SUA CASA INTERIOR

Missa do 10º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Coríntios 4,13 – 5,1; Marcos 3,20-25.

            Esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, transtorno de ansiedade etc.. Tanto no Brasil quanto no mundo, de maneira geral, tem aumentado o número de pessoas com doenças mentais. Independente da idade, da classe social, do nível de instrução ou da religião, é cada vez maior o número de pessoas internadas em hospitais psiquiátricos. De quem é o problema? Delas? Das suas famílias? O problema é de todos nós! Não há como negar que somos uma sociedade doente. O nosso mundo se tornou um mundo doente e que adoece as pessoas. Nossos relacionamentos são marcados por atitudes doentias. Sobretudo quando pensamos nos ambientes de trabalho, a realidade é esta: nós convivemos com pessoas que nos fazem mal; quando não, somos nós que fazemos mal aos outros, o que significa que o nosso ambiente de trabalho é, com raras exceções, um ambiente doentio.
Na época de Jesus, toda doença mental era associada ao demônio. Com a evolução da psicologia e da psiquiatria, hoje nós podemos “dar nome” a esses “demônios”, no sentido de compreender que os transtornos mentais não são simplesmente um “problema espiritual”, mas quase sempre emocional, afetivo, ligado aos nossos relacionamentos. Além disso, se hoje é cada vez maior o número de crianças com problemas mentais nas escolas, constatamos que essas crianças são filhos de pais usuários de droga: elas não apenas foram geradas sob efeito de droga, mas convivem em ambientes marcados por fortes conflitos por causa do uso de drogas. Portanto, esses “demônios” que causam problemas mentais têm nome, sobrenome e endereço...
O Evangelho de hoje relata um fato interessante: os parentes de Jesus não estavam compreendendo o seu modo de ser e de agir, e julgaram que ele havia enlouquecido. Aliás, o texto bíblico diz que seus parentes “saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Eles “saíram para agarrá-lo”, como se Jesus fosse uma pessoa mentalmente perturbada, agressiva e violenta. Como se não bastasse isso, os mestres da Lei diziam que Jesus estava possuído pelo príncipe dos demônios (v.22). E Jesus tranquilamente respondeu que o Espírito que o animava e o sustentava sempre foi o Espírito Santo. Jesus jamais deu espaço para o espírito do mal agir nele, diferente do que acontece com muitos de nós...
            A maneira como deixamos nos enganar pelo espírito do mal foi retratada no texto do Gênesis (primeira leitura). Nesse texto, Deus faz perguntas ao homem e à mulher, para ajudá-los a perceber como foi que eles permitiram que o espírito do mal entrasse na vida deles e colocasse sua casa interior de pernas pro ar. Eis a pergunta fundamental de Deus ao ser humano: “Onde você está?” (Gn 3,9). Ora, sabemos que Deus conhece todas as coisas. Portanto, essa pergunta não foi feita para que Deus soubesse onde o homem estava depois que pecou e se escondeu d’Ele, mas para que o homem pudesse tomar consciência da sua própria situação. Portanto, a pergunta que Deus faz a cada um de nós, quando permitimos de alguma forma que o mal comece a destruir a nossa vida, é esta: “Como você foi parar aí?” “O que você fez – ou deixou de fazer – para que o seu relacionamento chegasse ao ponto que chegou, para que a sua vida chegasse aonde chegou?” “Qual é a sua parte de responsabilidade no mal, na doença, no sofrimento que está atingindo você nesse momento?”
            Uma vez que Adão achou mais fácil transferir a responsabilidade para sua mulher, Deus perguntou a Eva: “Por que você fez isso?” (Gn 3,13). Notemos que, durante o diálogo de Deus com o homem e a mulher, em nenhum momento Ele os acusa e os condena pelo mal que fizeram; o único que recebe a condenação de Deus aqui é o espírito do mal, simbolizado pela serpente (cf. Gn 3,14-15). Ao invés de condenar o ser humano que erra, Deus o questiona. Assim acontece conosco: Deus constantemente fala à nossa consciência, querendo nos ajudar a revisar nossas atitudes, a perceber não só onde caímos mas, sobretudo, por que caímos, a nos dar conta de que, diante das propostas enganadoras do mal, nós temos que ter senso crítico; não podemos ser ingênuos e brincar com o mal como se ele fosse inofensivo ou uma espécie de “bichinho de estimação”.
            Através de uma comparação, Jesus afirma que o espírito do mal é alguém que nós permitimos que entre em nossa casa interior, nos amarre, isto é, nos prenda nos seus enganos, e quando estamos presos nas suas mentiras, ele saqueia a nossa casa, roubando e destruindo tudo aquilo que temos de mais precioso (cf. Mc 3,27). Por isso, aqui é importante que cada um se pergunte: Por onde o mal tem entrado em minha vida? Quais portas ou janelas, quais brechas eu estou deixando abertas para que ele possa entrar e danificar a minha casa interior? A mulher disse a Deus: “A serpente me enganou...” (Gn 3,13). Por que eu tenho me deixado enganar pelo espírito do mal? Além disso, segundo a Psicologia, nós não rompemos definitivamente com situações que nos adoecem e nos destroem porque elas nos dão ganhos secundários. Quais são os “ganhos secundários” que não tenho a coragem de perder, e, dessa forma, continuo preso a algo que está me adoecendo e me destruindo?
São esclarecedoras as palavra do Papa Francisco, a respeito de como o espírito do mal age no mundo atual: “A vida cristã é uma luta permanente... Não pensemos que (o diabo) seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. O demônio não precisa nos possuir. Ele nos envenena com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades...” (Gaudete et Exsultate 158.161).
Jesus quer nos tornar conscientes das atuais fontes de adoecimento social: o excesso de consumismo; a banalização sexual; a solidão e o isolamento; a inversão de valores; a busca constante por uma vida cômoda e de excessivo conforto, enquanto nos afastamos da simplicidade; o assistir, sem senso crítico, a programas na TV e na Internet, programas pensados por pessoas doentes, corrompidas em seus valores; o mover-se na vida unicamente pelos nossos desejos e necessidades, ao invés de nos orientar pelos valores da nossa consciência e por nossos ideais. Enfim, Jesus quer que estejamos atentos à maior das doenças em nosso mundo atual, que é jogar Deus fora, ou colocá-Lo na periferia das nossas atenções, enquanto colocamos no centro uma porção de lixo, uma porção de coisas estragadas, uma porção de ideias e atitudes tóxicas, nocivas, que nos destroem, assim como destroem tudo à nossa volta.
 “Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres” (Jo 8,36). Deixemo-nos libertar e curar por Jesus. O Pai o ungiu com o Espírito Santo, para nos livrar do poder do mau espírito e para curar todas as feridas que o mal abriu em nós. Não pequemos contra o Espírito Santo! Não rejeitemos Aquele que pode nos curar, nos libertar e nos salvar. Oremos: Senhor Jesus, toma posse da minha mente, da minha casa interior, da minha vida. Expulsa o mal que se alojou dentro de mim. Devolve-me a Deus. Ajuda-me a reconhecer onde estou e como a minha vida afetiva, profissional ou espiritual chegou aonde chegou. Torna-me consciente de que forma eu tenho colaborado com o mal; qual tem sido a minha parcela de responsabilidade na minha doença e nas atitudes doentias que tenho tido em relação aos outros. Cura-me, Senhor! Arranca-me das mãos do mal! Preenche-me com o dom do Teu Espírito. Liberta-me das mentiras e dos enganos do maligno. Devolve-me a saúde física, psíquica e emocional. Concede-me, enfim, o discernimento necessário para rejeitar a voz do mau espírito e obedecer unicamente à voz do Espírito Santo em minha consciência. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 1 de junho de 2018

ENXERGAR A VIDA PARA ALÉM DA LEI

Missa do 9º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 5,12-15; 2Coríntios 4,6-11; Marcos 2,23 – 3,1-6.  

            “A lei existe para ser cumprida” – você já deve ter ouvido essa frase alguma vez. A sociedade humana se organiza a partir de leis. Não só; as religiões e as igrejas também têm suas leis. Até mesmo a Sagrada Escritura está repleta de leis, sobretudo no Antigo Testamento. Mas a atitude de Jesus no Evangelho de hoje nos traz uma importante pergunta: Em que circunstância uma lei deve ser obedecida e em que circunstância ela deve ser questionada?
Ao colocar um homem doente no centro da sinagoga de Cafarnaum, Jesus está nos dizendo que, tanto no centro da sociedade humana como no centro da religião, quem deve estar ali não é a lei, mas o ser humano, sobretudo aquele prejudicado, injustiçado ou não contemplado pelas leis. Portanto, toda lei – seja ela civil, seja ela religiosa – deve ser respeitada enquanto protege e favorece a vida, e deve igualmente ser questionada quando prejudica ou se coloca contra a vida e a dignidade do ser humano.
            O pano de fundo da cura desse homem na sinagoga é o problema do sábado. Como ouvimos no texto do Deuteronômio, o sábado é um dia sagrado e deve ser “guardado”, “santificado”, por dois motivos: 1º. Em consideração ao descanso de Deus (cf. Ex 20,11); 2º. Em consideração à liberdade do ser humano, que não deve se tornar escravo de nada, nem de ninguém (cf. Dt 5,15). Desde que nosso Senhor Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana, o sentido religioso do sábado passou para o domingo, mudança testemunhada pela própria Sagrada Escritura (cf. Lc 24,1.13; Jo 20,19.26; At 20,7; 1Cor 16,2; Ap 1,10 – para maior aprofundamento, leia https://pt.aleteia.org/2017/01/20/por-que-a-igreja-guarda-o-domingo-e-nao-o-sabado/).
            Aqui cabe nos perguntar se o domingo ainda tem um sentido cristão para nós, ou se ele tem sido vivido num sentido pagão. Como as pessoas vivem o final de semana? Elas descansam física e emocionalmente ou o vivem escravas do dinheiro e do consumismo? Elas têm o cuidado de “santificar” o dia do Senhor, alimentando sua espiritualidade e sua comunhão com Deus? Quantos de nós vivemos o final de semana como escravos do dinheiro e do consumismo, descuidando das coisas essenciais, como a saúde física e emocional, a vida espiritual, a presença e a convivência em família? Além disso, se o apóstolo Paulo se refere a nós, cristãos, como “vasos de barro” (cf. 2Cor 4,7), é importante lembrar que o domingo é o momento privilegiado e oportuno para que cada um de nós, vaso de barro, se coloque nas mãos de Deus, o Oleiro, para que Ele restaure esse vaso e continue a depositar dentro dele o tesouro da Sua graça...
            Voltemos ao Evangelho. Diante da frieza dos homens religiosos do seu tempo em estarem mais preocupados com a lei do que com a necessidade de salvação do ser humano, Jesus “olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de oração” (Mc 3,5). Hoje esse olhar de Jesus, cheio de ira e tristeza, se dirige para o Congresso e para o Senado, em Brasília, onde a maioria dos nossos políticos cria leis em benefício de si mesmos, dos seus interesses financeiros, assim como cria leis para que se mantenham fora do alcance da lei (Justiça). Esse mesmo olhar de Jesus, cheio de ira e tristeza, se dirige igualmente para o Supremo Tribunal Federal, onde parte daqueles juízes trabalha a favor da manutenção da injustiça, virando as costas para todos os brasileiros cuja vida está prejudicada por uma política e uma economia centrada nos interesses do Mercado e não nas necessidades do ser humano.
                Mas, com certeza, o olhar de Jesus, cheio de ira e tristeza, se dirige também a toda Igreja e religião que “mantém a verdade prisioneira da injustiça” (Rm 1,18), que se preocupa com a observância da lei, ao mesmo tempo em que se mantém distante do drama real da vida das pessoas, cuja maioria vive “fora” das leis religiosas, muitas vezes porque esta mesma Igreja ou religião não se faz próxima das periferias existenciais onde vivem tais pessoas. Aqui são extremamente oportunas as palavras do Pe. Pagola: “Não é suficiente defender a disciplina da Igreja, se esta disciplina não ajuda, de fato, a viver com alegria e generosidade o Evangelho. Não é suficiente defender a ordem e a segurança do Estado, se este Estado não oferece, de fato, segurança alguma para os mais fracos. No nosso meio existem pessoas necessitadas. Continuamos a defender a ordem, a segurança e a disciplina ou nos preocupamos em ‘salvar’ realmente as pessoas? Se nos calamos, deveríamos sentir sobre nós o olhar duro de Jesus”.
            Para curar aquele homem com a mão atrofiada, Jesus lhe disse: “‘Estende a mão’. Ele a estendeu e a mão ficou curada” (Mc 3,5). Hoje Jesus diz a cada um de nós, cuja mão, cujos olhos e cuja boca talvez estejam atrofiados por causa do egoísmo, do individualismo ou da acomodação: “Estende a mão! Estende o teu olhar para além da lei, para que você possa enxergar as pessoas que à sua volta precisam ser salvas. Estende a tua voz para questionar toda lei civil ou religiosa que está a serviço da injustiça e não a serviço da verdade. Estende a compreensão que você tem da vida, para acolher aquilo que a realidade está pedindo de você. Reconhece aquilo que está atrofiado em você por comodismo, por ignorância ou por medo. Enfim, não reduza o seu relacionamento com Deus a uma observância fria e mecânica de leis religiosas, mas permita com que Ele faça de você uma presença de misericórdia diante de todo ser humano necessitado de que alguém lhe faça o bem, independente do dia da semana”.   
            Ao encerrarmos esta reflexão, lembremos de que, enquanto algumas pessoas vivem sua fé na estreiteza míope de leis que ignoram o drama da vida humana, existem muitas outras pessoas que, em nome da “ditadura” da felicidade pessoal, rejeitam toda e qualquer lei; rejeitam, inclusive, a distinção entre certo e errado, justo e injusto, porque a única “lei” que vale para elas é a “lei” do seu bem estar, a “lei” da sua felicidade pessoal, “lei” que todos os demais devem não apenas respeitar, mas à qual devem se sujeitar.

Oração: Senhor Jesus, hoje eu entrego a Ti o meu vaso de barro. Tu és o meu Oleiro; restaura-me, Senhor! Ajuda-me a acolher o barro que eu sou; ajuda-me a reconhecer e a acolher a minha fragilidade. Sobretudo, torna-me consciente do tesouro que eu carrego em mim, o tesouro da fé, da esperança e da caridade, o tesouro do Evangelho, o tesouro da solidariedade para com todo ser humano que necessita do bem que eu posso fazer não apenas sábado ou domingo, mas sempre. Liberta-me de uma vivência religiosa reduzida ao cumprimento mecânico de leis, devoções e tradições. Que no centro da minha vida esteja a verdade do Teu Evangelho, e que em nome dessa verdade eu tenha um posicionamento crítico e livre diante de toda lei, seja ela civil, seja ela religiosa. Que no centro da minha vida de fé não esteja a pergunta: ‘Que lei devo observar hoje?’, mas ‘A quem eu sou chamado a fazer o bem hoje?’. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi