Missa do 11º.
dom. comum. Palavra de Deus: Ezequiel 17,22-24; 2Coríntios 5,6-10; Marcos
4,26-34
A vida tem uma “lei” imutável: nós
colhemos aquilo que semeamos. A própria Sagrada Escritura confirma essa lei:
“Porque semeiam vento, colherão tempestade!” (Os 8,7); “O que o homem semear,
isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear
no espírito, do espírito colherá a vida eterna” (Gl 6,7-8). Apesar dessa “lei”,
apesar de ser verdade que nós colhemos aquilo que semeamos, existe uma grande
contradição em muitos de nós: todos querem colher paz, mas alguns semeiam
conflitos; todos querem colher alegria, mas alguns semeiam tristeza; todos
querem colher justiça, mas alguns semeiam injustiças; todos querem colher
respeito, mas alguns semeiam atitudes de desrespeito... Portanto, se em nossa
vida afetiva, profissional e espiritual não estamos colhendo aquilo que
gostaríamos de colher, muito provavelmente o problema está naquilo que estamos semeando
– ou, quem sabe, deixando de semear...
Jesus
compara a ação de Deus em nós a uma semente que, após ser semeada na terra,
germina por si mesma, sem a nossa interferência, sem o nosso controle. Ora, todos
nós vivemos num mundo que constantemente cobra de nós eficiência; sem
eficiência, não há resultados. Se os resultados esperados não surgem é porque
não estamos sendo eficientes o bastante. Além disso, uma vez que estamos mal
acostumados com a rapidez da tecnologia, nós queremos resultados rápidos, imediatos.
Não temos paciência nem conosco, nem com outros, nem com Deus, nem com a vida. Desse
modo, quando os resultados não surgem rápida ou imediatamente, abandonamos os
nossos projetos, jogamos fora os nossos sonhos, desistimos daquilo que
estávamos cultivando.
Ao
falar da ação de Deus em nós a partir da imagem da semente, Jesus nos lembra
que semear supõe confiança, perseverança e paciência. Deus confia e acredita na
força da semente da sua graça em nós, mas nós precisamos recuperar a consciência
de que a semente leva em si mesma uma força e uma fecundidade que não dependem
do nosso controle, nem do nosso esforço. A imagem da semente que germina
debaixo da terra, sem que o semeador saiba como, nos ensina que o nosso
crescimento e a nossa transformação dependem muito mais da graça de Deus do que
do nosso esforço. Por isso, Jesus nos convida a abrir mão do controle, a parar
de dizer para Deus o quê, como e quando Ele deve agir em nosso favor, e a
termos a humildade de reconhecer que existem coisas/mudanças que só vão acontecer
em nós pela graça de Deus e não pelo nosso esforço humano.
Agora
a pouco o apóstolo Paulo disse: “caminhamos na fé e não na visão clara” (2Cor
5,7). Da mesma forma que o agricultor não está vendo a semente germinar debaixo
da terra, mas confia que ela está germinando, assim devemos seguir pela vida jamais
deixando de semear só porque não estamos vendo resultados em nosso trabalho. O
mesmo apóstolo Paulo que afirma: “O que o homem semear, isso colherá” (Gl 6,7)
também nos aconselha: “Não desanimemos na prática do bem, pois, se não
desanimarmos, a seu tempo colheremos” (Gl 6,9). Se não desanimarmos, se não
deixarmos de semear só porque não estamos vendo o resultado do nosso trabalho,
se não desistirmos, colheremos.
Após
comparar a ação de Deus em nós com a semente que germina por si mesma, Jesus
faz uma segunda comparação: Deus se manifesta em nossa vida de maneira humilde
e simples, como um minúsculo grão de mostarda. Com isso, Jesus nos ensina que a
solução de um problema nem sempre está em fazer coisas grandiosas, mas em
semear pequenas sementes. Nós estamos mal acostumados a valorizar somente
aquilo que é grande e forte, ao mesmo tempo em que desprezamos e jogamos fora
aquilo que aparentemente é pequeno e fraco. Ora, toda mudança, toda cura, toda
transformação começa com pequenas atitudes. Não nos enganemos quanto ao
“tamanho” daquilo que estamos vendo. Não desprezemos as pequenas sementes que
podemos semear: justamente nelas pode estar a resposta daquilo que estamos
procurando...
Numa
época onde a maioria das pessoas está em busca de “resultados”, não se dando ao
trabalho de lançar sementes e de respeitar o tempo necessário de germinação e
crescimento das mesmas; numa época em que tantos abortam as transformações mais
importantes que poderiam acontecer em sua vida porque elas se apresentaram em
forma de “grãos de mostarda”, erroneamente interpretados como “coisas
insignificantes”, a Palavra de Deus nos convida à confiança e à perseverança. Deus,
o Pai que enviou seu Filho ao mesmo tempo como Semeador e como Semente do seu
Reino entre nós, disse algo muito importante na liturgia de hoje: “Eu sou o
Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore
verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24). Ele não
apenas semeou sua graça em nós, mas também nos semeou como árvores capazes de
produzir o fruto da justiça, da paz e do bem em favor da humanidade.
Se
ao longo da vida nos tornamos uma árvore alta, isto é, uma pessoa arrogante e
autossuficiente, aceitemos ser rebaixados e humilhados por Ele, para o nosso
próprio bem. Se nos sentimos uma árvore baixa, uma pessoa humilhada e
desprezada pelos outros, entreguemos tal humilhação a Deus, para que no momento
certo Ele nos exalte (cf. 1Pd 5,6). Se, pela graça de Deus, estamos vivendo
como uma árvore verde, fecunda, capaz de produzir frutos, não permitamos que o
orgulho nos adoeça e não nos esqueçamos de que “aquele que pensa estar de pé,
tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12) – o Senhor pode tirar de nós a sua
fecundidade e nos fazer murchar e secar. Por fim, se estamos nos sentindo como
uma árvore seca, uma pessoa que não consegue ver mais fecundidade em alguma
área da sua vida, entreguemos nossos galhos secos a Deus; entreguemos a Ele nossas
raízes, sobretudo, e confiemos: Ele tem o poder de nos devolver fecundidade. Confiemos
na sua Palavra: até mesmo as pessoas que estão em idade avançada e que, aos
olhos da sociedade, são vistas como improdutivas, até mesmo essas pessoas podem
se tornar fecundas, como diz o salmista: “Mesmo no tempo da velhice darão
frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes” (Sl 92,15).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Oração da serenidade (Papa Jão XXIII)
Só
por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o
problema da minha vida, todo de uma vez. Só por hoje terei o máximo cuidado com
o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar
ninguém, não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim. Só por
hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só
no outro mundo, mas também neste. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias,
sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos. Só
por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que
assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é
necessária para alimentar a vida da minha alma. Só por hoje praticarei uma boa
ação sem contá-la a ninguém. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se
for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém o saiba. Só por hoje farei
um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em
todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a
indecisão. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se
ocupa de mim, como se existisse somente eu no mundo, ainda que as
circunstâncias manifestem o contrário. Só por hoje não terei medo de nada. Em
particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na
bondade.
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