Missa
do 10º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Coríntios 4,13 – 5,1;
Marcos 3,20-25.
Esquizofrenia, transtorno bipolar,
depressão, transtorno de ansiedade etc.. Tanto no Brasil quanto no mundo, de
maneira geral, tem aumentado o número de pessoas com doenças mentais. Independente
da idade, da classe social, do nível de instrução ou da religião, é cada vez
maior o número de pessoas internadas em hospitais psiquiátricos. De quem é o
problema? Delas? Das suas famílias? O problema é de todos nós! Não há como
negar que somos uma sociedade doente. O nosso mundo se tornou um mundo doente e
que adoece as pessoas. Nossos relacionamentos são marcados por atitudes
doentias. Sobretudo quando pensamos nos ambientes de trabalho, a realidade é
esta: nós convivemos com pessoas que nos fazem mal; quando não, somos nós que
fazemos mal aos outros, o que significa que o nosso ambiente de trabalho é, com
raras exceções, um ambiente doentio.
Na
época de Jesus, toda doença mental era associada ao demônio. Com a evolução da
psicologia e da psiquiatria, hoje nós podemos “dar nome” a esses “demônios”, no
sentido de compreender que os transtornos mentais não são simplesmente um “problema
espiritual”, mas quase sempre emocional, afetivo, ligado aos nossos
relacionamentos. Além disso, se hoje é cada vez maior o número de crianças com
problemas mentais nas escolas, constatamos que essas crianças são filhos de
pais usuários de droga: elas não apenas foram geradas sob efeito de droga, mas
convivem em ambientes marcados por fortes conflitos por causa do uso de drogas.
Portanto, esses “demônios” que causam problemas mentais têm nome, sobrenome e
endereço...
O
Evangelho de hoje relata um fato interessante: os parentes de Jesus não estavam
compreendendo o seu modo de ser e de agir, e julgaram que ele havia
enlouquecido. Aliás, o texto bíblico diz que seus parentes “saíram para
agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Eles “saíram para
agarrá-lo”, como se Jesus fosse uma pessoa mentalmente perturbada, agressiva e
violenta. Como se não bastasse isso, os mestres da Lei diziam que Jesus estava
possuído pelo príncipe dos demônios (v.22). E Jesus tranquilamente respondeu
que o Espírito que o animava e o sustentava sempre foi o Espírito Santo. Jesus
jamais deu espaço para o espírito do mal agir nele, diferente do que acontece
com muitos de nós...
A maneira como deixamos nos enganar
pelo espírito do mal foi retratada no texto do Gênesis (primeira leitura).
Nesse texto, Deus faz perguntas ao homem e à mulher, para ajudá-los a perceber
como foi que eles permitiram que o espírito do mal entrasse na vida deles e colocasse
sua casa interior de pernas pro ar. Eis a pergunta fundamental de Deus ao ser
humano: “Onde você está?” (Gn 3,9). Ora, sabemos que Deus conhece todas as
coisas. Portanto, essa pergunta não foi feita para que Deus soubesse onde o
homem estava depois que pecou e se escondeu d’Ele, mas para que o homem pudesse
tomar consciência da sua própria situação. Portanto, a pergunta que Deus faz a
cada um de nós, quando permitimos de alguma forma que o mal comece a destruir a
nossa vida, é esta: “Como você foi parar aí?” “O que você fez – ou deixou de
fazer – para que o seu relacionamento chegasse ao ponto que chegou, para que a
sua vida chegasse aonde chegou?” “Qual é a sua parte de responsabilidade no
mal, na doença, no sofrimento que está atingindo você nesse momento?”
Uma vez que Adão achou mais fácil transferir
a responsabilidade para sua mulher, Deus perguntou a Eva: “Por que você fez
isso?” (Gn 3,13). Notemos que, durante o diálogo de Deus com o homem e a mulher,
em nenhum momento Ele os acusa e os condena pelo mal que fizeram; o único que
recebe a condenação de Deus aqui é o espírito do mal, simbolizado pela serpente
(cf. Gn 3,14-15). Ao invés de condenar o ser humano que erra, Deus o questiona.
Assim acontece conosco: Deus constantemente fala à nossa consciência, querendo
nos ajudar a revisar nossas atitudes, a perceber não só onde caímos mas,
sobretudo, por que caímos, a nos dar conta de que, diante das propostas
enganadoras do mal, nós temos que ter senso crítico; não podemos ser ingênuos e
brincar com o mal como se ele fosse inofensivo ou uma espécie de “bichinho de
estimação”.
Através de uma comparação, Jesus
afirma que o espírito do mal é alguém que nós permitimos que entre em nossa
casa interior, nos amarre, isto é, nos prenda nos seus enganos, e quando
estamos presos nas suas mentiras, ele saqueia a nossa casa, roubando e destruindo
tudo aquilo que temos de mais precioso (cf. Mc 3,27). Por isso, aqui é
importante que cada um se pergunte: Por onde o mal tem entrado em minha vida?
Quais portas ou janelas, quais brechas eu estou deixando abertas para que ele
possa entrar e danificar a minha casa interior? A mulher disse a Deus: “A serpente
me enganou...” (Gn 3,13). Por que eu tenho me deixado enganar pelo espírito do
mal? Além disso, segundo a Psicologia, nós não rompemos definitivamente com
situações que nos adoecem e nos destroem porque elas nos dão ganhos
secundários. Quais são os “ganhos secundários” que não tenho a coragem de
perder, e, dessa forma, continuo preso a algo que está me adoecendo e me
destruindo?
São
esclarecedoras as palavra do Papa Francisco, a respeito de como o espírito do
mal age no mundo atual: “A vida cristã é uma luta permanente... Não pensemos
que (o diabo) seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma
ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar
mais expostos. O demônio não precisa nos possuir. Ele nos envenena com o ódio, a
tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele
aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas
comunidades...” (Gaudete et Exsultate
158.161).
Jesus
quer nos tornar conscientes das atuais fontes de adoecimento social: o excesso
de consumismo; a banalização sexual; a solidão e o isolamento; a inversão de
valores; a busca constante por uma vida cômoda e de excessivo conforto,
enquanto nos afastamos da simplicidade; o assistir, sem senso crítico, a
programas na TV e na Internet, programas pensados por pessoas doentes,
corrompidas em seus valores; o mover-se na vida unicamente pelos nossos desejos
e necessidades, ao invés de nos orientar pelos valores da nossa consciência e
por nossos ideais. Enfim, Jesus quer que estejamos atentos à maior das doenças
em nosso mundo atual, que é jogar Deus fora, ou colocá-Lo na periferia das
nossas atenções, enquanto colocamos no centro uma porção de lixo, uma porção de
coisas estragadas, uma porção de ideias e atitudes tóxicas, nocivas, que nos
destroem, assim como destroem tudo à nossa volta.
“Se, pois, o Filho vos libertar, sereis,
realmente, livres” (Jo 8,36). Deixemo-nos libertar e curar por Jesus. O Pai o
ungiu com o Espírito Santo, para nos livrar do poder do mau espírito e para
curar todas as feridas que o mal abriu em nós. Não pequemos contra o Espírito
Santo! Não rejeitemos Aquele que pode nos curar, nos libertar e nos salvar. Oremos: Senhor Jesus, toma posse da
minha mente, da minha casa interior, da minha vida. Expulsa o mal que se alojou
dentro de mim. Devolve-me a Deus. Ajuda-me a reconhecer onde estou e como a
minha vida afetiva, profissional ou espiritual chegou aonde chegou. Torna-me
consciente de que forma eu tenho colaborado com o mal; qual tem sido a minha parcela
de responsabilidade na minha doença e nas atitudes doentias que tenho tido em
relação aos outros. Cura-me, Senhor! Arranca-me das mãos do mal! Preenche-me
com o dom do Teu Espírito. Liberta-me das mentiras e dos enganos do maligno.
Devolve-me a saúde física, psíquica e emocional. Concede-me, enfim, o
discernimento necessário para rejeitar a voz do mau espírito e obedecer
unicamente à voz do Espírito Santo em minha consciência. Amém.
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