quinta-feira, 7 de junho de 2018

RETOME O COMANDO DA SUA CASA INTERIOR

Missa do 10º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 3,9-15; 2Coríntios 4,13 – 5,1; Marcos 3,20-25.

            Esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, transtorno de ansiedade etc.. Tanto no Brasil quanto no mundo, de maneira geral, tem aumentado o número de pessoas com doenças mentais. Independente da idade, da classe social, do nível de instrução ou da religião, é cada vez maior o número de pessoas internadas em hospitais psiquiátricos. De quem é o problema? Delas? Das suas famílias? O problema é de todos nós! Não há como negar que somos uma sociedade doente. O nosso mundo se tornou um mundo doente e que adoece as pessoas. Nossos relacionamentos são marcados por atitudes doentias. Sobretudo quando pensamos nos ambientes de trabalho, a realidade é esta: nós convivemos com pessoas que nos fazem mal; quando não, somos nós que fazemos mal aos outros, o que significa que o nosso ambiente de trabalho é, com raras exceções, um ambiente doentio.
Na época de Jesus, toda doença mental era associada ao demônio. Com a evolução da psicologia e da psiquiatria, hoje nós podemos “dar nome” a esses “demônios”, no sentido de compreender que os transtornos mentais não são simplesmente um “problema espiritual”, mas quase sempre emocional, afetivo, ligado aos nossos relacionamentos. Além disso, se hoje é cada vez maior o número de crianças com problemas mentais nas escolas, constatamos que essas crianças são filhos de pais usuários de droga: elas não apenas foram geradas sob efeito de droga, mas convivem em ambientes marcados por fortes conflitos por causa do uso de drogas. Portanto, esses “demônios” que causam problemas mentais têm nome, sobrenome e endereço...
O Evangelho de hoje relata um fato interessante: os parentes de Jesus não estavam compreendendo o seu modo de ser e de agir, e julgaram que ele havia enlouquecido. Aliás, o texto bíblico diz que seus parentes “saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Eles “saíram para agarrá-lo”, como se Jesus fosse uma pessoa mentalmente perturbada, agressiva e violenta. Como se não bastasse isso, os mestres da Lei diziam que Jesus estava possuído pelo príncipe dos demônios (v.22). E Jesus tranquilamente respondeu que o Espírito que o animava e o sustentava sempre foi o Espírito Santo. Jesus jamais deu espaço para o espírito do mal agir nele, diferente do que acontece com muitos de nós...
            A maneira como deixamos nos enganar pelo espírito do mal foi retratada no texto do Gênesis (primeira leitura). Nesse texto, Deus faz perguntas ao homem e à mulher, para ajudá-los a perceber como foi que eles permitiram que o espírito do mal entrasse na vida deles e colocasse sua casa interior de pernas pro ar. Eis a pergunta fundamental de Deus ao ser humano: “Onde você está?” (Gn 3,9). Ora, sabemos que Deus conhece todas as coisas. Portanto, essa pergunta não foi feita para que Deus soubesse onde o homem estava depois que pecou e se escondeu d’Ele, mas para que o homem pudesse tomar consciência da sua própria situação. Portanto, a pergunta que Deus faz a cada um de nós, quando permitimos de alguma forma que o mal comece a destruir a nossa vida, é esta: “Como você foi parar aí?” “O que você fez – ou deixou de fazer – para que o seu relacionamento chegasse ao ponto que chegou, para que a sua vida chegasse aonde chegou?” “Qual é a sua parte de responsabilidade no mal, na doença, no sofrimento que está atingindo você nesse momento?”
            Uma vez que Adão achou mais fácil transferir a responsabilidade para sua mulher, Deus perguntou a Eva: “Por que você fez isso?” (Gn 3,13). Notemos que, durante o diálogo de Deus com o homem e a mulher, em nenhum momento Ele os acusa e os condena pelo mal que fizeram; o único que recebe a condenação de Deus aqui é o espírito do mal, simbolizado pela serpente (cf. Gn 3,14-15). Ao invés de condenar o ser humano que erra, Deus o questiona. Assim acontece conosco: Deus constantemente fala à nossa consciência, querendo nos ajudar a revisar nossas atitudes, a perceber não só onde caímos mas, sobretudo, por que caímos, a nos dar conta de que, diante das propostas enganadoras do mal, nós temos que ter senso crítico; não podemos ser ingênuos e brincar com o mal como se ele fosse inofensivo ou uma espécie de “bichinho de estimação”.
            Através de uma comparação, Jesus afirma que o espírito do mal é alguém que nós permitimos que entre em nossa casa interior, nos amarre, isto é, nos prenda nos seus enganos, e quando estamos presos nas suas mentiras, ele saqueia a nossa casa, roubando e destruindo tudo aquilo que temos de mais precioso (cf. Mc 3,27). Por isso, aqui é importante que cada um se pergunte: Por onde o mal tem entrado em minha vida? Quais portas ou janelas, quais brechas eu estou deixando abertas para que ele possa entrar e danificar a minha casa interior? A mulher disse a Deus: “A serpente me enganou...” (Gn 3,13). Por que eu tenho me deixado enganar pelo espírito do mal? Além disso, segundo a Psicologia, nós não rompemos definitivamente com situações que nos adoecem e nos destroem porque elas nos dão ganhos secundários. Quais são os “ganhos secundários” que não tenho a coragem de perder, e, dessa forma, continuo preso a algo que está me adoecendo e me destruindo?
São esclarecedoras as palavra do Papa Francisco, a respeito de como o espírito do mal age no mundo atual: “A vida cristã é uma luta permanente... Não pensemos que (o diabo) seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. O demônio não precisa nos possuir. Ele nos envenena com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades...” (Gaudete et Exsultate 158.161).
Jesus quer nos tornar conscientes das atuais fontes de adoecimento social: o excesso de consumismo; a banalização sexual; a solidão e o isolamento; a inversão de valores; a busca constante por uma vida cômoda e de excessivo conforto, enquanto nos afastamos da simplicidade; o assistir, sem senso crítico, a programas na TV e na Internet, programas pensados por pessoas doentes, corrompidas em seus valores; o mover-se na vida unicamente pelos nossos desejos e necessidades, ao invés de nos orientar pelos valores da nossa consciência e por nossos ideais. Enfim, Jesus quer que estejamos atentos à maior das doenças em nosso mundo atual, que é jogar Deus fora, ou colocá-Lo na periferia das nossas atenções, enquanto colocamos no centro uma porção de lixo, uma porção de coisas estragadas, uma porção de ideias e atitudes tóxicas, nocivas, que nos destroem, assim como destroem tudo à nossa volta.
 “Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres” (Jo 8,36). Deixemo-nos libertar e curar por Jesus. O Pai o ungiu com o Espírito Santo, para nos livrar do poder do mau espírito e para curar todas as feridas que o mal abriu em nós. Não pequemos contra o Espírito Santo! Não rejeitemos Aquele que pode nos curar, nos libertar e nos salvar. Oremos: Senhor Jesus, toma posse da minha mente, da minha casa interior, da minha vida. Expulsa o mal que se alojou dentro de mim. Devolve-me a Deus. Ajuda-me a reconhecer onde estou e como a minha vida afetiva, profissional ou espiritual chegou aonde chegou. Torna-me consciente de que forma eu tenho colaborado com o mal; qual tem sido a minha parcela de responsabilidade na minha doença e nas atitudes doentias que tenho tido em relação aos outros. Cura-me, Senhor! Arranca-me das mãos do mal! Preenche-me com o dom do Teu Espírito. Liberta-me das mentiras e dos enganos do maligno. Devolve-me a saúde física, psíquica e emocional. Concede-me, enfim, o discernimento necessário para rejeitar a voz do mau espírito e obedecer unicamente à voz do Espírito Santo em minha consciência. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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