Missa do 3º.
dom. da páscoa. Atos dos Apóstolos 2,14.22-33; 1Pedro 1,17-21; Lucas 24,13-35.
No domingo de páscoa, ou seja, no
próprio dia em que ressuscitou, Jesus se pôs a caminhar com dois discípulos
seus, que estavam tristes e decepcionados por causa da sua morte de cruz.
Tristeza e decepção são sentimentos muito conhecidos por todos nós. Seja em
relação a nós mesmos, seja em relação aos outros, à vida, aos acontecimentos ou
ao próprio Deus, nós também podemos nos sentir tristes e decepcionados. Mas, de
onde vêm a tristeza e a decepção? Elas vêm das nossas esperanças frustradas.
Assim como aconteceu com os discípulos de Emaús – “nós esperávamos..., mas...”
(Lc 24,21) –, assim algumas ou muitas das nossas esperanças não se confirmam, e
isso pode nos frustrar profundamente.
O diálogo entre o Senhor
Ressuscitado e esses discípulos – tristes, decepcionados e frustrados – nos
ensina que Deus se interessa pela nossa tristeza; Ele quer que falemos com Ele
sobre isso; Ele quer nos ajudar a interpretar melhor o que aconteceu ou está
acontecendo conosco e nos levando a abandonar Jerusalém e caminhar para Emaús,
isto é, a abandonar nossos ideais, nossos sonhos, nossas esperanças, nossa fé,
e caminhar na direção de uma vida desencantada e sem sentido.
Dialogar
com Deus sobre aquilo que nos entristece ou nos desencanta é necessário para
que possamos ter uma interpretação mais objetiva a respeito daquilo que está
nos afetando. Quando os nossos olhos ficam presos na dor, na tristeza ou na
decepção, não conseguimos enxergar Deus caminhando ao nosso lado: “os
discípulos... estavam como que cegos, e não o reconheceram” (Lc 24,16). Por
isso, assim como Jesus fez com aqueles dois discípulos, hoje quer fazer
conosco: falar ao nosso coração por meio da sua Palavra, para que os nossos
olhos se abram e possamos reinterpretar os fatos que nos deixam tristes,
desencantados e sem esperança.
Fica conosco, abre os nossos olhos,
manda o teu Espírito e te reconheceremos, e te reconheceremos ao partir o pão.
Aleluia, Aleluia, Aleluia!
Para
abrir os olhos daqueles dois discípulos, o Senhor Ressuscitado disse-lhes uma
palavra dura: “Como sois sem inteligência e lentos para crer...!” (Lc 24,25).
Olhando para a nossa geração, Ele certamente nos diria: ‘Como vocês facilmente
desistem dos ideais e dos sonhos que o Pai tem a respeito de vocês e da
humanidade! Como vocês rapidamente abandonam a fé, a alegria e a esperança e se
trancam na dor, na solidão e no pessimismo! Como os caprichos, o bem estar e o
desejo de felicidade falam mais alto em vocês do que a fé, a justiça e a
fidelidade! Será que eu não deveria sofrer na cruz antes de entrar na glória (cf.
Lc 24,26)? Será que as dificuldades, os problemas e o sofrimento não fazem
parte do caminho existencial de qualquer ser humano? Será que as coisas ruins
podem acontecer com os outros, mas nunca com você?! Não está na hora de você
buscar na Palavra (Escritura) a luz para interpretar o que Deus pode estar te
dizendo por meio desse acontecimento? Será que a sua esperança não está
contaminada pelo exagero ou pelo seu egoísmo?’.
Mesmo
não tendo ainda reconhecido o Senhor Ressuscitado naquele homem que caminhava
com eles, mas tendo o coração reaquecido por suas palavras, os dois discípulos
lhe pediram: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando” (Lc 24,29).
Hoje, o nosso pedido ao Senhor Ressuscitado é o mesmo: Fica conosco, Senhor
Jesus, quando caminhamos na vida como que cegos, sem enxergar a Tua presença
junto a nós! Fica conosco, e com a luz da tua Palavra, ajuda-nos a interpretar
corretamente os acontecimentos que nos atingem. Fica conosco, pois a noite escura
se faz sentir sobre a humanidade por meio das guerras e da violência; por meio
do desemprego, da injustiça da corrupção e da impunidade; por meio da fome, da migração
forçada e da desintegração de muitas famílias. Fica conosco, Senhor Jesus, e
devolve o ardor da fé ao nosso coração!
Fica conosco, abre os nossos olhos,
manda o teu Espírito e te reconheceremos, e te reconheceremos ao partir o pão.
Aleluia, Aleluia, Aleluia!
O
Evangelho nos diz que “Jesus entrou para ficar com eles”, e quando, sentado à
mesa, “tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía... os olhos dos
discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da
frente deles” (Lc 24,29-31). O fato de aqueles discípulos terem reconhecido
Jesus “ao partir o pão” (Lc 24,35) nos coloca alguns questionamentos: Nós ainda
reconhecemos Jesus Ressuscitado na Eucaristia? A maneira como as nossas
celebrações são realizadas tem ajudado a abrir os nossos olhos e devolver o
ardor da fé ao nosso coração? E ainda: “O mundo de hoje reconhece o Cristo
quando os cristãos sabem verdadeiramente ‘partir o pão’, (o que significa
assumir)... um compromisso de justiça, de solidariedade, de defesa daqueles
cujo pão é roubado pelas injustiças dos homens e dos sistemas sociais errados”
(Missal dominical, p.369). O que isso tem a nos dizer, sobretudo neste tempo
pascal? Como cristãos, nós somos uma expressão viva do Senhor Ressuscitado para
os que se encontram nas periferias existenciais das nossas paróquias?
Fica
conosco, abre os nossos olhos, manda o teu Espírito e te reconheceremos, e te
reconheceremos ao partir o pão. Aleluia, Aleluia, Aleluia!
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