sábado, 15 de abril de 2017

RECOMEÇAR, MOVIDOS PELA ESPERANÇA

Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,1.26-31a; Êxodo 14,15 – 15,1; Baruc 3,9-15.32 – 4,4; Romanos 6,3-11; Mateus 28,1-10.

            Esta é uma noite de vigília. Vigília tem a ver com espera; mais que isso, vigília tem a ver com esperança: nós esperamos pela luz do amanhecer; nós esperamos porque acreditamos que “nunca houve noite que pudesse impedir o nascer do sol e a esperança”. Para nós, cristãos, a noite escura é também um símbolo da nossa fé: nós não vemos a Deus, mas cremos na Sua existência e no Seu amor por nós. Mesmo nas nossas noites escuras, e sobretudo nelas, nossa fé precisa se mover, pois, como dia a Escritura, “nós caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7).
            Na noite em que foi liberto do Egito, Israel não conseguia enxergar claramente o que estava acontecendo. E ele só conseguiu atravessar o mar Vermelho porque era noite e, ao invés de ser amedrontado pelo mar, foi encorajado pela coluna de fogo, pela nuvem luminosa que o guiava, retirando-o do Egito e conduzindo-o para a Terra Prometida. Isso significa que só faz páscoa, só faz a passagem da morte para a vida quem aceita caminhar na noite escura da fé. A páscoa exige que você caminhe também quando é noite; que você confie e se deixe guiar por Aquele que vê o caminho que você não consegue ver, pois Ele vê do alto!
Na noite da páscoa, Israel foi liberto pelo Senhor das correntes da escravidão do Egito. Mas a passagem mais difícil nem sempre é livrar-se das correntes externas e sim das internas. Mais difícil do que quebrar correntes é ter a coragem de cortar aquele pequeno fio de ouro que nos mantém amarrados aos nossos erros, às falsas compensações que o pecado nos oferece. Mesmo que Deus nos faça passar de uma situação de morte para uma situação de vida, quantas vezes nós retrocedemos, jogando fora o dom recebido e voltando a nos tornar escravos de coisas, pessoas ou situações que nos afastam da nossa “terra prometida”?
Nesta noite de vigília pascal, São Paulo apóstolo nos lembra que, embora nenhum de nós tenha passado pelo mar Vermelho, todos nós passamos por uma outra água, muito mais salvífica: a água do batismo, a qual nos mergulhou na morte de Cristo para com Ele ressurgir numa vida nova. Cada vez que a Igreja nos oferece a oportunidade de renovar as promessas do nosso batismo, está nos convidando a atualizar a nossa identificação com Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, para que sejamos identificados com Ele por uma ressurreição semelhante à sua (cf. Rm 6,5). Assim, quando procuramos viver de maneira coerente com o nosso batismo, fazemos esse exercício cotidiano de nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus, semelhantes a seu Filho Jesus. 
Voltemo-nos para o Evangelho. Ele começa com essas palavras: “Depois do sábado” (Mt 28,1), isto é, depois do grande silêncio de Deus, que nada respondeu a Jesus quando perguntou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). “Depois do sábado” significa o recomeço da semana. Mas, como recomeçar a vida depois que a morte sepultou consigo as nossas esperanças?
            As duas mulheres que foram ver o sepulcro foram surpreendidas por um grande tremor de terra. Este tremor foi a intervenção de Deus na morte de seu Filho: o anjo do Senhor desceu e retirou a pedra que lacrava o sepulcro. Aquela pedra foi retirada não para que Jesus saísse, e sim para que as mulheres pudessem entrar e constatar que Ele não estava ali, pois havia ressuscitado: “Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que ele estava” (Mt 28,5-6).
Neste relato da ressurreição, vemos duas atitudes opostas: medo e alegria. O anjo e o próprio Jesus ressuscitado dizem às mulheres: “Não tenhais medo!” (Mt 28,5.10). Quais são os nossos medos? Medo de fracassar, medo da solidão, medo de ficar doente, medo de perder alguém, medo da violência, medo de morrer? Nós podemos ter motivos bastante concretos para ter medo, mas, como nos lembra o Papa Francisco, “quando tudo parece perdido, quando não resta ninguém... é aí, então, que Deus intervém com o poder da ressurreição. A ressurreição de Jesus é a intervenção de Deus Pai quando a esperança humana estava perdida. No momento em que tudo parece perdido, no momento de dor, no qual muitas pessoas sentem que precisam descer da cruz, é o momento mais próximo da Ressurreição... No momento mais sombrio, Deus intervém e ressuscita”.
O Senhor Ressuscitado nos convida à alegria! ‘Alegrem-se, porque eu ressuscitei para estar com vocês todos os dias!’ (cf. Mt 28,20). ‘Alegrem-se, porque a morte foi vencida!’ ‘Alegrem-se porque, aconteça o que acontecer, vocês nunca deverão se considerar vencidos ou mortos!’ ‘Alegrem-se porque toda lágrima será enxugada, todo luto será removido e toda morte será transformada!’. A alegria que Jesus nos traz com a sua ressurreição não tem razões humanas, isto é, ela não depende de condições humanas para surgir em nós. Essa alegria é um dom do Cristo ressuscitado e também fruto da nossa fé n’Aquele cujo amor se levanta acima de toda esperança humana que se perdeu. A Ele cada um de nós pode suplicar nesta vigília pascal: “Ressuscita-me, Senhor, pelo poder do teu amor!”
   

                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi

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