quarta-feira, 1 de março de 2017

QUARENTA DIAS: O MOMENTO FAVORÁVEL

Missa da quarta-feira de cinzas. Palavra de Deus: Joel 2,12-18; 2Coríntios 5,20 – 6,2; Mateus 6,1-6.16-18.

            Algo pode nos ajudar a compreender o sentido do tempo que estamos começando a viver hoje em nossa Igreja, o tempo da quaresma. É a pregação de Jonas à cidade de Nínive: “Dentro de quarenta dias Nínive será destruída” (Jn 3,4). Na verdade, dentro de quarenta dias nós vamos solenemente fazer memória da Páscoa de Jesus, a Sua vitória sobre o nosso pecado e a nossa morte. Mas a quaresma quer justamente nos lembrar que não existe vitória sem luta. Nós só podemos experimentar a força da Páscoa em nossa vida na medida em que nos damos conta dos estragos que o pecado tem feito em nossa vida pessoal e social, estragos que nos conduzem individual e comunitariamente para a morte.
            Justamente por isso, na celebração de hoje vamos receber as cinzas sobre a nossa cabeça, recordando o que o Senhor Deus disse a Adão, após o pecado: “Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3,19). A quaresma quer nos ajudar a recuperar a consciência de que todo pecado nos leva para a morte (cf. Rm 6,23). Mas não só isso. Quanto mais estivermos conscientes de que vamos morrer, mais podemos compreender o quanto é inútil a nossa arrogância, a nossa soberba, o nosso orgulho; o quanto é mentirosa essa cultura em que vivemos mergulhados, especialmente por causa das redes sociais: a cultura da vaidade, onde só nos sentimos vivos se aparecemos, se somos vistos e “curtidos” pelos outros.
            O tempo da quaresma, que iniciamos hoje, é verdadeiramente “o momento favorável” para a nossa cura, a nossa conversão, a nossa purificação, a nossa restauração. Por isso, precisamos viver este tempo voltando-nos para o nosso Deus com todo o nosso coração, isto é, com todo o nosso ser e não apenas com uma parte de nós. Trata-se de nos deixar reconciliar com Deus, de permitir que a verdade do seu Espírito remova a mentira da máscara que usamos no dia a dia e nos reconcilie com a nossa verdade, de modo que possamos acolher a nossa fraqueza como o lugar onde a força de Deus pode se manifestar e nos transformar.
            Se o tempo da quaresma existe em função da Páscoa, e se a Páscoa é a festa da libertação, nós somos chamados a reconhecer tudo aquilo que nos prende, nos aprisiona e nos escraviza sob o poder do mal. Jesus, como veremos no próximo domingo, permaneceu quarenta dias no deserto, confrontando-se com o mal, antes de iniciar a sua missão de nos salvar. Ele nos lembra as três “armas” que podemos usar para nos libertar das mentiras do maligno: a esmola, a oração e o jejum.
A esmola nos liberta do nosso egoísmo e nos levar a sair de nós mesmos, para irmos ao encontro de toda pessoa que precisa de nós. Dar esmola significa perguntar-se: o que eu posso fazer para tornar essa sociedade menos injusta? O jejum, por sua vez, é uma atitude de desintoxicação. Precisamos nos desintoxicar de pensamentos, de imagens, de palavras, de sentimentos, de atitudes que, além de nos afastar de Deus, fazem mal a nós mesmos e aos outros. Jejuar significa perguntar-se: como eu posso recuperar a liberdade interior diante de tudo aquilo que o mundo me oferece? Como eu posso purificar o meu olhar de modo a voltar a enxergar Deus em minha vida e o meu próximo como verdadeiro irmão? Enfim, a oração tem por objetivo recolocar-nos numa posição correta diante de Deus: estamos ali para ouvi-Lo e para obedecê-Lo, procurando conformar nossa vida à Sua vontade, que é a nossa comunhão com seu Filho Jesus Cristo e com a sua salvação.
Durante a quaresma deste ano, a Campanha da Fraternidade nos falará especificamente dos Biomas brasileiros e da defesa da vida. Bioma é o conjunto dos seres vivos de uma área. Mais uma vez, somos convidados a cuidar da criação, da qual fazemos parte, procurando proteger, preservar e cuidar da vida não só animal e vegetal, mas também humana, sobretudo dos pobres. Eis a oração da CF que nos inspirará ao longo da quaresma: Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade. Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor. Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum. Cresça, em nosso imenso Brasil, o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas, e da beleza e riqueza da criação, alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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