Missa do 4º.
dom. da quaresma. Palavra de Deus: 1Samuel 16,1b.6-7.10-13a; Efésios 5,8-14;
João 9,1-41.
O nosso mundo é o mundo das imagens.
Todos os dias nós somos atingidos por uma infinidade de imagens: algumas
verdadeiras, outras mentirosas; algumas, construtivas e edificantes; outras,
destrutivas e maléficas. E como é verdade que “o que os olhos não veem, o
coração não sente”, para nós só existe aquilo que vimos ou estamos vendo. Mas
aqui se esconde um grande perigo: aquilo que os meios de comunicação não nos
mostram, aquilo que nossos olhos não veem, é como se não existisse. Desse modo,
nós corremos o risco de só enxergar e de só nos deixarmos afetar por aquilo que a mídia quer que vejamos.
Além do nosso olhar estar
“domesticado” pelos meios de comunicação, ele tem se tornado um olhar
preguiçoso, de modo que frequentemente nos sentimos muito mais dispostos a ver
imagens, a assistir a vídeos, do que a ler um bom livro; ler a Bíblia, então,
nem se fala! Isso é lamentável, porque é por meio da sua Palavra que o Senhor
pode abrir os nossos olhos e nos fazer ver aquilo que precisamos ver em vista
do bem, da cura e da salvação nossa e da humanidade. Quando não permitimos que
os nossos olhos sejam lavados nas águas da Sagrada Escritura, seguimos pela
vida vendo, mas não enxergando, isto é, vendo superficialmente, mas nunca enxergando
em profundidade. Assim, nos esquecemos dessa grande verdade: “O homem vê as
aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16,7).
Quantas coisas você não consegue enxergar em si ou na pessoa
com quem você convive? Quantas coisas você não
aceita enxergar em si ou nessa pessoa? Quantas decepções você já teve ao se
encantar com a beleza externa do outro, com uma aparência que, depois, se revelou
apenas casca, sem um conteúdo significativo e verdadeiro? Neste sentido, é
preciso ter um olhar crítico diante da propaganda do Boticário: “Acredite na
beleza”. Se você não quiser que suas pérolas sejam jogadas aos porcos,
“desconfie da beleza”, isto é, procure ver as pessoas além da textura da pele,
da definição dos músculos, da roupa que veste e do carro que possui. A menos
que você seja uma pessoa que se contente em se alimentar de vazio, de
futilidades, nada disso preenche, nada disso compensa a ausência de afeto, de diálogo,
de companheirismo, de fidelidade, ou seja, de valores e atitudes que verdadeiramente
levam um coração a experimentar felicidade.
Jesus hoje toca em nossos olhos e
nos convida a nos lavar, a mergulhar nas águas da Sua verdade para que possamos
começar a ver, a enxergar com outros olhos a nós mesmos, aos outros e a
realidade à nossa volta. Com seu Evangelho, Jesus quer corrigir certas visões
erradas que temos a respeito da vida. Uma dessas visões erradas se chama
fatalismo. Algumas pessoas da época de Jesus julgavam que uma pessoa que
nascesse com alguma deficiência era “pecadora” (cf. Jo 9,2.34). Talvez você
também veja as coisas de maneira errada, achando que tal situação não tem como
mudar; faz parte do seu destino. Talvez você também veja de maneira fatalista a
política do nosso país: não tem como mudar; o Brasil está fatalmente condenado
a viver debaixo da corrupção e da impunidade, vítima da ignorância de um povo
sem educação de qualidade, manipulado pelos meios de comunicação e alienado
pelo futebol, um povo que não enxerga sua própria força e que, por isso, não
acredita na possibilidade de mudança.
Ora, este cego de nascença do
Evangelho era mendigo; vivia de esmolas. Depois de curado por Jesus, começou a
ver as coisas de uma outra forma, a ponto de não ficar mais em silêncio diante
dos fariseus e de questioná-los pelo fato deles não quererem enxergar que Jesus
era um homem de Deus (cf. Jo 9,30-33)! É assim que Jesus nos quer! Não homens e
mulheres fatalistas, sentados à beira do caminho da vida, com os olhos fixos na
tela de um celular, anestesiados por vídeos e imagens que nos mantêm
distraídos, paralisados, imóveis, sem reação, sem dar passos concretos na
direção da mudança que o próprio Deus quer que busquemos, para nós e para a sociedade.
“Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os
mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,14). Abra os teus olhos! Enxergue
a luz que há em você! Não aceite viver
como um cego guiado por outros cegos! Perceba quem é que influencia a sua visão
a respeito do casamento, da família, da sexualidade, da política, do meio
ambiente etc. Você foi concebido por Deus como um “filho da luz” (Ef 5,8). Viva
como tal! Deixe-se guiar na vida por valores como “bondade, justiça e verdade”
(cf. Ef 5,9)! Não tenha medo de romper com pessoas e situações que desejam
manter você na cegueira, na ignorância de si mesmo e das possibilidades de
mudança. Deixe-se conduzir pela luz do Senhor e da sua Palavra.
Oração: Senhor Jesus, minha visão da
vida se encontra estreitada: um pouco, por causa dos meus próprios limites
humanos; outro pouco, por causa do excesso de informação, do excesso de imagens
da cultura moderna; um pouco ainda, por causa da visão superficial e seletiva
da mídia, por meio da qual eu vejo a realidade, ou aquilo que querem me
convencer de que é a realidade... Preciso ver a vida de uma outra maneira,
Senhor. Preciso sair da minha posição de mendigo, de quem acha que precisa de
esmolas para viver. Necessito lavar meus olhos nas águas da tua Verdade, para
que eu veja o que preciso ver, em vista do meu bem, do meu crescimento, e em
vista da minha colaboração para que outras pessoas deixem de serem guiadas por
cegos. Ajuda-me a ver, Senhor, para além das aparências. Ajuda-me a enxergar
aquilo que as pessoas que convivem comigo estão me comunicando. Ilumina-me com
a tua Luz, para que eu caminhe na vida como filho da luz, vivendo segundo a
bondade, a justiça e a verdade. Amém!
Age com poder (Eros Biondini):
Nenhum comentário:
Postar um comentário