Quando percorremos a Sagrada Escritura,
vamos nos dando conta de que o período de quarenta dias tem um importante
significado para a nossa vida espiritual. Moisés permaneceu sobre a montanha “quarenta
dias e quarenta noites” (Ex 24,18; 34,28), para receber de Deus a Sua vontade,
expressa nos Dez Mandamentos. “Quarenta dias” foi o tempo dado à cidade de
Nínive para se converter dos seus pecados (cf. Jn 3,4). “Quarenta dias e
quarenta noites” foi o tempo gasto pelo profeta Elias para chegar ao Horeb, para
o encontro com o Senhor (cf. 1Rs 19,8). O próprio Jesus jejuou “quarenta dias e
quarenta noites” no deserto (cf. Mt 4,2).
O que significa esse período de
quarenta dias? Simbolicamente, ele é o tempo necessário para que haja uma
mudança, uma cura, uma transformação, um renascimento. Embora a nossa geração
esteja mal habituada a querer resolver tudo na base de uma senha, de uma tecla,
de um passar de dedo sobre a tela do celular, Deus nos ensina que existe um
tempo para que algo de significativo aconteça em nossa vida. Não se cura uma
ferida de forma instantânea. Não se passa de uma situação de morte para uma
situação de vida de maneira mágica. Existe um processo, e esse processo exige
de nós tempo, paciência, confiança, determinação, firmeza de caráter.
Mas o número quarenta pode indicar
uma outra coisa... Quando o povo de Israel, depois de aproximadamente dois anos
de caminhada, chegou às portas da Terra Prometida, não quis subir a montanha e
atravessar para o outro lado, para possuir a Terra, porque teve medo. Este medo
se traduziu em falta de confiança em Deus, em teimosia e obstinação em querer
resolver as coisas do seu jeito, sem obedecer ao que o Senhor dizia (cf. Dt 1,19-28.34-46).
Resultado: Israel ficou vagueando pelo deserto mais 38 anos, para somente
depois entrar na Terra Prometida. Portanto, o longo período de quarenta anos
que o povo caminhou pelo deserto foi resultado da sua teimosia e da sua falta
de confiança em Deus. Neste início de Quaresma, procuremos
colaborar com a graça de Deus, para que a vida nova que Ele quer fazer surgir
em nós aconteça neste tempo favorável para a nossa salvação. Não aconteça que,
dificultando a ação da graça de Deus, acabemos por prolongar indefinidamente a
transformação que poderia dar-se em nós neste abençoado e importante tempo de Quaresma.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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