sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

PREOCUPAR-SE, SIM, MAS COM O QUÊ?

Missa do 8º. dom. comum. Isaías 49,14-15; 1Coríntios 4,1-5; Mateus 6,24-34.
             
            A expressão do rosto está séria, a testa franzida, o sono alterado; a pessoa se ausenta do presente e divaga, pensando no futuro; se irrita com facilidade, quase não tem senso de humor, sente-se frequentemente infeliz... Estamos falando da pessoa excessivamente preocupada. Mas, se existem pessoas exageradamente preocupadas, existem outras que não se preocupam nem com o mínimo necessário, como por exemplo: a sua colaboração para que o ambiente familiar ou profissional seja bom, o seu cuidado para que o meio ambiente seja recuperado ou preservado, a sua conduta justa para que a sociedade se liberte do mal da corrupção etc.
            Normalmente, nossas preocupações estão associadas às nossas necessidades. O problema é que o mundo moderno criou em nós necessidades que não são primárias, essenciais, mas secundárias, supérfluas, artificiais, e essas ‘necessidades’ passaram a atropelar o nosso tempo, desviar o nosso foco, roubar o nosso dinheiro e exigir constantemente a nossa atenção. Desse modo, não basta que você tenha o que comer, mas ‘onde’ e ‘o que’ você come; não basta que você tenha o que vestir, mas ‘que roupa’ você veste; não basta que seu filho possa estudar, mas ‘em qual escola’ ele estuda etc. Assim, neste mundo preocupado com futilidades e dominado pelo consumismo, onde quem pode mais chora menos, nós vamos simplesmente seguindo o fluxo, nos enchendo de preocupações desnecessárias que comprometem a nossa saúde, os nossos relacionamentos e a nossa espiritualidade.
            Para dar conta de sobreviver a tantas preocupações, alguns recorrem a psiquiatras, psicólogos e medicamentos; outros se refugiam na bebida e nas drogas; alguns desistem de sobreviver e se suicidam; outros surtam. Mas existem aqueles que têm o bom senso de se questionarem: ‘O que eu estou fazendo com a minha vida?’ ‘Quais são as minhas verdadeiras prioridades?’ ‘Com o que eu devo realmente me preocupar?’ Quando você faz isso, consegue interromper o círculo vicioso da preocupação, começa a se desintoxicar do medo, da ansiedade e das falsas ameaças que as preocupações desnecessárias lhe impõem e passa a ter mais qualidade de vida.
            Deus hoje está questionando aquelas preocupações que surgem em nós como consequência da falta de fé e de confiança no Seu amor por nós, quando nos sentimos abandonados e esquecidos por Ele: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Is 49,15). Na verdade, frequentemente nós nos distraímos diante de inúmeras preocupações inúteis, e acabamos perdendo a consciência de que só em Deus a nossa alma pode encontrar repouso, porque d’Ele é que nos vem a salvação (cf. Sl 62,2). Por isso, ao invés de nos consumirmos de medo e de ansiedade, precisamos reaprender a esperar sempre no Senhor e abrir diariamente o nosso coração na Sua presença (cf. Sl 62,9), colocando em Suas mãos nossas preocupações, pois é Ele quem cuida de nós (cf. 1Pd 5,7).
            Cuidas de mim, sei que tu cuidas de mim, Senhor... Ainda que eu ande pelo vale, e o atravesse à sombra da morte, cuidas de mim, cuidas de mim. Mesmo que eu não queira a Tua presença, mesmo que eu me afaste de Ti, cuidas de mim, cuidas de mim. Teu amor é como a rocha que não se quebra jamais. Teu amor é como o sol a nascer toda manhã... (Pe. Fábio de Melo, Cuidas de mim).
            O que nos preocupa hoje? Preocupa-nos a impunidade, o descaso de tantos políticos e juízes com a Justiça? Preocupa-nos a violência em nossa sociedade? Preocupa-nos a falta de fé, de testemunho, de simplicidade e de coerência evangélica em diversos líderes da nossa Igreja? Não nos desesperemos, nem deixemos de crer na justiça de Deus e na verdade do seu Espírito, como disse o apóstolo Paulo: “Aguardai que o Senhor venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver merecido” (1Cor 4,5). Portanto, confiemos na justiça e na verdade de Deus; elas prevalecerão sobre a injustiça e a mentira que hoje ditam as regras no coração de muitas pessoas e em não poucos setores da nossa sociedade.     
            No final do seu Evangelho, Jesus nos convida a nos ocupar com algo realmente importante, fundamental: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Que a nossa preocupação seja ter uma conduta adequada a Deus e ao seu Reino, deixando-nos cuidar pelo Pai e amando os irmãos. Se procurarmos viver o nosso dia a dia segundo a vontade do Pai, certamente experimentaremos o Seu cuidado para conosco em todas as nossas necessidades. Afinal, Ele é o Pai não só do nosso hoje, mas também do nosso amanhã. A cada dia, Deus nos dará a força necessária para o peso daquele dia, para que aprendamos a viver da confiança n’Ele.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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