Missa do 7º.
dom. comum. Palavra de Deus: Levítico 19,1-2.17-18; 1Coríntios 3,16-23; Mateus
5,38-48.
Todos os dias nós vemos e sentimos
os efeitos da agressão: o Governo nos agride como povo brasileiro, dificultando
que a Justiça puna os políticos corruptos; inúmeras empresas continuam a agredir
o meio ambiente; alguns líderes agridem seus subordinados por meio de
humilhações e ameaças; alunos agridem seus professores; filhos e pais se
agridem mutuamente; por meio do contratestemunho, líderes religiosos agridem a
fé dos seus fiéis; o fanatismo religioso agride inúmeras pessoas mundo afora...
Como nós estamos lidando com a agressão nossa de cada dia?
Sempre que somos agredidos, seja em
que sentido for, nosso instinto de defesa reage imediatamente, e a nossa resposta
instintiva é “olho por olho, dente por dente”: chega de impunidade! Chega de
tolerância! Chega de fazer papel de bobo! Já passou da hora de revidar, de dar
o troco, de pagar com a mesma moeda, de fazer o outro beber do mesmo veneno que
ele destila contra nós. No entanto, Jesus nos lança um desafio: “Eu, porém, vos
digo: Não enfrenteis quem é malvado!” (Mt 5,39). “Não enfrentar” significa “não
revidar”, não usar as mesmas armas do mal para combatê-lo. “Não enfrentar”
significa não permitir que a pessoa que te agride determine a tua reação para
com ela.
Jesus não é a favor da impunidade,
muito menos da passividade perante o mal. O mal que existe dentro de nós e em
nossa sociedade precisa ser combatido, mas combatido com inteligência, firmeza,
determinação e sabedoria. A agressão é uma bomba que precisa ser desarmada.
Além disso, Jesus quer nos lembrar de que toda pessoa que nos agride e nos fere
foi antes agredida e ferida por alguém. Por isso, não tem sentido cuidar de uma
ferida abrindo uma ferida ainda maior naquele que nos fere. A agressão é um
grito, um pedido de ajuda de alguém que, ou foi profundamente ferido na sua
necessidade de ser amado, ou nunca soube o que significado ser amado. Não se
luta contra o mal quando se destrói as pessoas. Deve-se combater o mal, mas sem
buscar a destruição do adversário.
As orientações que o Senhor nos dá
hoje, do tipo “não tenha no coração ódio contra seu irmão”, “não procure
vingança, nem guarde rancor”, “ame teu próximo”, “ame teu inimigo e reze por
quem te persegue”, todas elas têm um único motivo: “Sejam santos porque eu, o
Senhor Deus de vocês, sou santo” (Lv 19,2). O que a santidade de Deus tem a ver
com a raiva ou a ira que sentimos quando somos agredidos por alguém? Deixemos o
próprio Senhor nos responder: “Não executarei o ardor de minha ira,... porque
eu sou Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti” (Os 11,9). A santidade
do nosso Deus manifesta-se pela Sua misericórdia que perdoa, ao passo que nós,
seres humanos, costumamos dar livre curso à nossa ira.
Embora tenhamos sido criados à
imagem e semelhança de Deus, há uma diferença muito grande entre a maneira como
Deus lida com a ira e a maneira como nós lidamos. Deus sente ira, mas Ele tem,
segundo a terminologia hebraica do Antigo Testamento, “um respiro longo”, isto
é, Ele dialoga com o que sente e respira longamente, fazendo a Sua ira
dissipar-se, ao invés de usá-la contra aquele que pecou. Nós, ao contrário,
costumamos fazer duas coisas: ou explodimos em nossa ira, agredindo o nosso
próximo, ou a implodimos dentro de nós, agredindo a nós mesmos. Precisamos
aprender com Deus a “alongar o nosso pavio”, a “respirar longamente”, dissipando
o nosso sentimento de ira de modo que, ao invés de agredir a pessoa que nos fez
mal, tomemos a atitude de procurar corrigi-la com firmeza, mas também com
mansidão.
Dois apelos da Palavra de Deus se tocam
hoje: “Sejam santos porque eu, o Senhor Deus de vocês, sou santo” (Lv 19,2) e
“Sejam perfeitos como o Pai de vocês que está no céu é perfeito” (Mt 5,48). Deus
é Santo, no sentido de ser separado da realidade profana do mundo. Se não queremos
perder a nossa identidade de filhos de Deus, precisamos aprender a nos separar
(no sentido de “não compactuar com”) da violência, da intolerância e da
agressividade que hoje marcam o cotidiano do nosso mundo. A santidade de Deus
nos habita por meio do Espírito Santo, conforme ouvimos hoje do apóstolo Paulo:
“Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em
vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário
de Deus é santo, e vós sois esse santuário” (1Cor 3,16-17). Não nos destruamos
a nós mesmos e aos outros por meio do embrutecimento do nosso caráter.
No final do Evangelho, Jesus nos
convida a buscar a nossa perfeição como filhos de Deus. Essa perfeição não
consiste numa vida sem falhas, sem pecado ou sem retrocesso, mas numa vida que
vai se abrindo diariamente à graça de Deus, de modo que a obra que Ele começou
em nós possa chegar aos poucos à sua conclusão. Aprendamos a enxergar a
humanidade como o nosso Pai celeste a enxerga. “Deus derrama o sol e a chuva
sobre todos porque reconhece a todos como filhos, na esperança de alguém que O
reconheça como Pai e aceite os outros como irmãos. Deus não tem inimigos; tem
filhos, os quais estão na minha vida para que eu os ame como irmãos” (J.A.
Pagola).
Muito significativa essa reflexão...
ResponderExcluirObrigada Pe. Paulo, pela unção e sensatez em abordar assuntos tão importantes! A clareza de suas palavras traz luz ao meu viver.
Abraço fraterno! Deus te abençoe...
na juventude queremos vingança Na maturidade queremos paz nada como a idade da sabedoria para alcançarmos o plano que Deus espera de os
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