sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PRESENÇA DIFERENCIADA

Missa do 5º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 58,7-10; 1Coríntios 2,1-5; Mateus 5,13-16. 

            # SOMOSTODOSCHAPE. Muito provavelmente você viu em algum lugar esta afirmação, por ocasião da tragédia com o avião da Chapecoense, e compartilhou da ideia. Existem muitas diferenças entre os povos, as raças, as culturas e as religiões: diferenças quanto ao aspecto físico, à língua, à maneira de entender a vida e à maneira de se conceber Deus. Mas nós, que vivemos na era da globalização, temos nos acostumado a ver essas diferenças diminuírem, se diluírem, se apagarem, de tal forma que elas até mesmo parecem deixar de existir. As pessoas são diferentes, mas a globalização faz com que hoje todos sejam alcançados pelas mesmas notícias, seduzidos pelas mesmas propagandas, doutrinados pelas mesmas ideias, de modo que, embora sejamos diferentes quanto ao aspecto físico, à linguagem, à visão de mundo, à fé e a tantas outras coisas, todos hoje estamos adotando um estilo de vida paganizado, ou seja, um estilo de vida onde a nossa FÉ só pode ser vivida e manifestada de modo que ela NÃO DESTOE DO CONJUNTO.
            No mundo globalizado em que vivemos está proibido ser SAL da terra e LUZ do mundo. #SOMOSTODOSMCDONALDS, #SOMOSTODOSCOCACOLA, #SOMOSTODOSREDEGLOBO,
#SOMOSTODOSAFAVORDOABORTO, #SOMOSTODOSGAYSOUAFAVORDACULTURAGAY, e assim por diante. Numa sociedade onde os valores se corrompem e a vida perde rapidamente o sabor, você está proibido de ser o sal que preserva da corrupção e que dá sabor/sentido à vida. Numa época em que as pessoas se habituaram a viver na escuridão, como cegos que se deixam conduzir por outros cegos, sem questionar para onde estão sendo conduzidos, você está proibido de ser luz que destoa dessa escuridão e sinaliza para Aquele que é a verdadeira luz: Jesus Cristo.
            Nós, cristãos, não somos melhores do que ninguém. Somos limitados, falhos e passíveis de erro, como qualquer outro ser humano. Mas, na visão de Jesus, nós, cristãos, discípulos Seus, SOMOS uma PRESENÇA DIFERENCIADA na sociedade humana. Jesus nos quer exatamente assim: fiéis à nossa essência de SAL e LUZ, pessoas que estão no mundo sem ser do mundo, pessoas que comunguem das alegrias e das esperanças, das dores e dos sofrimentos humanos, fazendo ecoar, principalmente com a nossa conduta diária, a alegria do Evangelho. Portanto, não deixe que o seu sal se estrague ou que sua luz se apague por você aderir ao paganismo do mundo moderno. Aprenda a analisar tudo o que lhe é proposto e a ficar somente com aquilo que contribui para que o sabor e a luz do Evangelho de Cristo permaneçam vivos dentro de você e sejam comunicados àqueles que deles tanto necessitam. Lembre-se de que você, como sal e luz, é uma missão neste mundo. Não renuncie a esta missão só para não destoar na onda de degradação em que vive o nosso mundo.       
            Da mesma forma como o sal deve ser colocado na comida e a luz deve iluminar os que estão no ambiente, a nossa PRESENÇA cristã é necessária FORA das nossas igrejas. Da mesma forma como não tem sentido pescar em aquário, não tem sentido dar testemunho da nossa fé somente dentro da igreja. É no seio da família, no local de trabalho, no ambiente de estudo, na vida cotidiana e, sobretudo, nas periferias existenciais – situações onde se encontram pessoas expostas à degradação física, psicológica, moral e espiritual –, é ali que o nosso sal e a nossa luz são necessários. O problema é o medo, a timidez, o sentimento de inferioridade, a acomodação, a preguiça espiritual e, mais do que tudo, o não querer destoar para não ser rejeitado ou criticado que nos atrofia e nos fecha em nós mesmos; é isso o que faz com que permaneçamos com a nossa consciência anestesiada, cuidando da única ovelha que ficou conosco ao invés de ir atrás das 99 que se extraviaram.  
            O profeta Isaías nos recorda que a nossa primeira forma de estar na sociedade como sal e luz é a maneira como vivemos: “Reparta o pão com o faminto... Quando você encontrar um nu, cubra-o, e não despreze aquele que é humano como você... Se você (...) deixar os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se você acolher de coração aberto o indigente e prestar todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a sua luz e sua vida obscura será como o meio-dia” (Is 58,7.8.9.10). Por outro lado, o apóstolo Paulo nos convida a viver a nossa vocação de sal da terra e luz do mundo a partir da nossa fraqueza (cf. 1Cor 2,1-5). As nossas falhas, imperfeições e limitações não são um impedimento ao anúncio do Evangelho, mas são como que frestas por meio das quais a luz de Cristo pode passar e chegar àqueles para os quais devemos ser um Evangelho vivo.
            Enfim, quanto mais pessoas ao seu redor aderem consciente ou inconscientemente ao #SOMOSTODOSPAGÃOS, que você possa manter viva a sua consciência de ser fiel à própria essência, não somente cuidando do sal e da luz que é, mas inserindo-se no seio da humanidade de forma que a sua PRESENÇA DIFERENCIADA ajude a devolver gosto e sentido à vida das pessoas, contribuindo também para que elas possam aderir livremente Àquele que veio como luz para iluminar todo ser humano (cf. Jo 1,9): Jesus Cristo.

Pe. Paulo Cezar Mazzi
           



3 comentários:

  1. Padre Paulo, a sua reflexão é significativa no sentido de sermos a diferença positiva. Agora, vejo a sua comparação infeliz. #SomosTodosChape teve todo um sentido de solidariedade ao invés de seguir a onda de uma globalização da informação. Acredito que se usasse outro exemplo seria mais feliz no comentário da liturgia deste final de semana. Abraço.

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    1. Sim, Evandro. De fato, eu quis mostrar o efeito da globalização mas, neste caso, foi um efeito positivo, de solidariedade. Obrigado pela observação.

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