sexta-feira, 31 de março de 2017

FÉ PARA ALÉM DO QUARTO DIA

Missa do 5º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Ezequiel 37,12-14; Romanos 8,8-11; João 11,1-45.

            Ao longo da vida, a morte costuma cruzar várias vezes o nosso caminho: morreu nosso animal de estimação, morreu uma pessoa que amávamos muito, morreu um conhecido; ouvimos falar de pessoas que morreram num acidente ou numa guerra, e também ouvimos falar de pessoas que se suicidaram. Além disso, as doenças, a fome, as drogas e a violência continuam fazendo morrer inúmeras pessoas, muitas delas precocemente. E sempre que a morte cruza o nosso caminho, nós acabamos por questionar Deus: “Aquele que abriu os olhos ao cego não poderia ter impedido que essa morte acontecesse?” (citação livre de Jo 11,37).
            Sim. Deus não somente poderia como realmente pode impedir todo e qualquer tipo de morte. Mas Ele, muitas vezes, não intervém, principalmente quando a morte ocorre como um processo natural de uma vida que biologicamente caminha para o seu fim. Na verdade, muito mais do que impedir a morte de acontecer, Deus escolheu manifestar a força do seu amor por nós abrindo as nossas sepulturas e nos fazendo viver, conforme a sua promessa: “Quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor” (Ez 37,13).
            Mesmo amando Lázaro e sabendo que ele estava gravemente enfermo, “Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava” (Jo 11,6). Nós temos pressa e queremos que Deus aja imediatamente, para impedir que a morte alcance aqueles que amamos. Mas pode acontecer que Deus demore “ainda dois dias” e escolha chegar tarde, quando, pelo menos aos nossos olhos, não haja mais nada que possa ser feito. Esta é uma verdade difícil de aceitar: Deus pode permitir a morte, seja para nos ensinar algo a respeito da verdadeira Vida, seja para manifestar a grandeza do seu amor, que é mais forte que a morte, amor que nos faz passar da morte para a vida.
            Marta e Maria poderiam ter chegado à seguinte conclusão: De que nos valeu o amor de Jesus, a sua amizade para com a nossa família? Da mesma forma, muitos hoje também poderiam questionar: De que nos valeram as nossas orações, as nossas esperanças em Deus? A verdade é que todos nós, que cremos, precisamos nos livrar de certa mentalidade mágica, ingênua, a respeito de Deus, mentalidade esta que nos faz criar expectativas exageradas e irrealistas em relação aos acontecimentos e à nossa própria finitude humana. Muitas vezes, diante de uma doença, precisamos ter a humildade de reconhecer que não se trata de esperar de Deus a cura, mas de colocar a nossa casa em ordem, porque está chegando a hora de partir, de nos encontrarmos definitivamente com Deus e entrarmos na verdadeira Vida.
            Jesus foi muito realista com seus discípulos: “Lázaro está morto. Mas por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais” (Jo 11,14-15). Para Jesus, a verdadeira fé nunca deve funcionar como garantia absoluta contra a dor, o sofrimento e a morte, mas como força de superação de tudo isso. A verdadeira fé é aquela que nos mantém em pé mesmo depois do terceiro dia, mesmo que seja o quarto dia e que aquilo que morreu já cheire mal, porque começou a apodrecer e não tem mais condições nenhuma de ser recuperado, de voltar a viver (cf. Jo 11,39-40).
Portanto, o Evangelho hoje nos convida a dirigir nossos olhos não para Lázaro, mas para Jesus; não para aquilo que morreu, mas para Aquele que afirmou ser a nossa Ressurreição e a nossa Vida (cf. Jo 11,25). Os mesmos olhos de Jesus, que choraram a morte de Lázaro, foram os olhos que se dirigiram ao céu para suplicar ao Pai pela sua ressurreição (cf. Jo 11,35.41). É neste sentido que o apóstolo Paulo nos lembra: “Embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8,10-11).
Ao iniciarmos esta última semana da quaresma, Jesus exclama com voz forte, na direção do túmulo de cada um de nós: “Vem para fora!” (Jo 11,43). Vem para fora do túmulo do seu medo, da sua raiva, do seu pessimismo, do seu desânimo, da sua acomodação! Vem para fora da sua tristeza, da sua depressão e do seu luto, porque a continuidade da sua vida não depende daquilo que morreu em você, mas da forma como você está lidando com essa morte! Vem para fora, porque há pedras que você pode me ajudar a remover e ataduras que você pode me ajudar a soltar, para que outros Lázaros voltem a viver. Vem para fora e ajude a proclamar ao mundo a minha palavra, que tem poder de fazer passar da morte para a vida todo aquele que a escuta e por meio dela crê em mim (cf. Jo 5,24.28-29).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

        Ressuscita-me – Aline Barros

sexta-feira, 24 de março de 2017

ENXERGAR ALÉM DAS APARÊNCIAS

Missa do 4º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: 1Samuel 16,1b.6-7.10-13a; Efésios 5,8-14; João 9,1-41.

            O nosso mundo é o mundo das imagens. Todos os dias nós somos atingidos por uma infinidade de imagens: algumas verdadeiras, outras mentirosas; algumas, construtivas e edificantes; outras, destrutivas e maléficas. E como é verdade que “o que os olhos não veem, o coração não sente”, para nós só existe aquilo que vimos ou estamos vendo. Mas aqui se esconde um grande perigo: aquilo que os meios de comunicação não nos mostram, aquilo que nossos olhos não veem, é como se não existisse. Desse modo, nós corremos o risco de só enxergar e de só nos deixarmos afetar por aquilo que a mídia quer que vejamos.
            Além do nosso olhar estar “domesticado” pelos meios de comunicação, ele tem se tornado um olhar preguiçoso, de modo que frequentemente nos sentimos muito mais dispostos a ver imagens, a assistir a vídeos, do que a ler um bom livro; ler a Bíblia, então, nem se fala! Isso é lamentável, porque é por meio da sua Palavra que o Senhor pode abrir os nossos olhos e nos fazer ver aquilo que precisamos ver em vista do bem, da cura e da salvação nossa e da humanidade. Quando não permitimos que os nossos olhos sejam lavados nas águas da Sagrada Escritura, seguimos pela vida vendo, mas não enxergando, isto é, vendo superficialmente, mas nunca enxergando em profundidade. Assim, nos esquecemos dessa grande verdade: “O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16,7).      
            Quantas coisas você não consegue enxergar em si ou na pessoa com quem você convive? Quantas coisas você não aceita enxergar em si ou nessa pessoa? Quantas decepções você já teve ao se encantar com a beleza externa do outro, com uma aparência que, depois, se revelou apenas casca, sem um conteúdo significativo e verdadeiro? Neste sentido, é preciso ter um olhar crítico diante da propaganda do Boticário: “Acredite na beleza”. Se você não quiser que suas pérolas sejam jogadas aos porcos, “desconfie da beleza”, isto é, procure ver as pessoas além da textura da pele, da definição dos músculos, da roupa que veste e do carro que possui. A menos que você seja uma pessoa que se contente em se alimentar de vazio, de futilidades, nada disso preenche, nada disso compensa a ausência de afeto, de diálogo, de companheirismo, de fidelidade, ou seja, de valores e atitudes que verdadeiramente levam um coração a experimentar felicidade.   
            Jesus hoje toca em nossos olhos e nos convida a nos lavar, a mergulhar nas águas da Sua verdade para que possamos começar a ver, a enxergar com outros olhos a nós mesmos, aos outros e a realidade à nossa volta. Com seu Evangelho, Jesus quer corrigir certas visões erradas que temos a respeito da vida. Uma dessas visões erradas se chama fatalismo. Algumas pessoas da época de Jesus julgavam que uma pessoa que nascesse com alguma deficiência era “pecadora” (cf. Jo 9,2.34). Talvez você também veja as coisas de maneira errada, achando que tal situação não tem como mudar; faz parte do seu destino. Talvez você também veja de maneira fatalista a política do nosso país: não tem como mudar; o Brasil está fatalmente condenado a viver debaixo da corrupção e da impunidade, vítima da ignorância de um povo sem educação de qualidade, manipulado pelos meios de comunicação e alienado pelo futebol, um povo que não enxerga sua própria força e que, por isso, não acredita na possibilidade de mudança.             
            Ora, este cego de nascença do Evangelho era mendigo; vivia de esmolas. Depois de curado por Jesus, começou a ver as coisas de uma outra forma, a ponto de não ficar mais em silêncio diante dos fariseus e de questioná-los pelo fato deles não quererem enxergar que Jesus era um homem de Deus (cf. Jo 9,30-33)! É assim que Jesus nos quer! Não homens e mulheres fatalistas, sentados à beira do caminho da vida, com os olhos fixos na tela de um celular, anestesiados por vídeos e imagens que nos mantêm distraídos, paralisados, imóveis, sem reação, sem dar passos concretos na direção da mudança que o próprio Deus quer que busquemos, para nós e para a sociedade.
               “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,14). Abra os teus olhos! Enxergue a luz que há em você! Não aceite viver como um cego guiado por outros cegos! Perceba quem é que influencia a sua visão a respeito do casamento, da família, da sexualidade, da política, do meio ambiente etc. Você foi concebido por Deus como um “filho da luz” (Ef 5,8). Viva como tal! Deixe-se guiar na vida por valores como “bondade, justiça e verdade” (cf. Ef 5,9)! Não tenha medo de romper com pessoas e situações que desejam manter você na cegueira, na ignorância de si mesmo e das possibilidades de mudança. Deixe-se conduzir pela luz do Senhor e da sua Palavra.
                Oração: Senhor Jesus, minha visão da vida se encontra estreitada: um pouco, por causa dos meus próprios limites humanos; outro pouco, por causa do excesso de informação, do excesso de imagens da cultura moderna; um pouco ainda, por causa da visão superficial e seletiva da mídia, por meio da qual eu vejo a realidade, ou aquilo que querem me convencer de que é a realidade... Preciso ver a vida de uma outra maneira, Senhor. Preciso sair da minha posição de mendigo, de quem acha que precisa de esmolas para viver. Necessito lavar meus olhos nas águas da tua Verdade, para que eu veja o que preciso ver, em vista do meu bem, do meu crescimento, e em vista da minha colaboração para que outras pessoas deixem de serem guiadas por cegos. Ajuda-me a ver, Senhor, para além das aparências. Ajuda-me a enxergar aquilo que as pessoas que convivem comigo estão me comunicando. Ilumina-me com a tua Luz, para que eu caminhe na vida como filho da luz, vivendo segundo a bondade, a justiça e a verdade. Amém!

Age com poder (Eros Biondini): 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 23 de março de 2017

O SACRIFÍCIO ESPIRITUAL

Do Tratado sobre a oração, de Tertuliano, presbítero
(Cap.28-29: CCL 1,273-274)             (Séc. III)

O sacrifício espiritual
A oração é o sacrifício espiritual que aboliu os antigos sacrifícios... Esta oferenda, apresentada de coração sincero, alimentada pela fé, preparada pela verdade, íntegra e inocente, casta e sem mancha, coroada pelo amor, é a que devemos levar ao altar de Deus, acompanhada pelo solene cortejo das boas obras, entre salmos e hinos; ela nos alcançará de Deus tudo o que pedimos.
Nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome; e no entanto ainda não havia recebido de Cristo toda a sua eficácia. Quanto maior não será, portanto, a eficácia da oração cristã! Talvez não faça descer sobre as chamas o orvalho do Anjo, não feche a boca dos leões, não leve a refeição aos camponeses famintos, não impeça milagrosamente o sofrimento; mas vem em auxílio dos que suportam a dor com paciência, aumenta a graça aos que sofrem com fortaleza, para que vejam com os olhos da fé a recompensa do Senhor, reservada aos que sofrem pelo nome de Deus.
Outrora a oração fazia vir as pragas, derrotava os exércitos inimigos, impedia a chuva necessária. Agora, porém, a oração autêntica afasta a ira de Deus, vela pelo bem dos inimigos e roga pelos perseguidores. Será para admirar que faça cair do céu as águas, se conseguiu que de lá descessem as línguas de fogo? Só a oração vence a Deus. Mas Cristo não quis que ela servisse para fazer mal algum; quis antes que toda a eficácia que lhe deu fosse apenas para servir o bem.
Consequentemente, ela não tem outra finalidade senão tirar do caminho da morte as almas dos defuntos, robustecer os fracos, curar os enfermos, libertar os possessos, abrir as portas das prisões, romper os grilhões dos inocentes. Ela perdoa os pecados, afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de alegria os generosos, conduz os peregrinos, acalma as tempestades, detém os ladrões, dá alimento aos pobres, ensina os ricos, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam, confirma os que estão de pé.

sexta-feira, 17 de março de 2017

ESCUTE SUA SEDE MAIS PROFUNDA

Missa do 3º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Êxodo 17,3-7; Romanos 5,1-2.5-8; João 4,5-42.  

            Todos nós passamos por períodos de aridez. É quando parece que secamos por dentro: nossos afetos, nossas ideias, nossas forças e até mesmo nossos desejos estão como que apagados, enfraquecidos, sem vida. Mas, de onde vem a aridez? Ela pode ser consequência de um descuido nosso em relação à nossa própria fonte interior, ou de um descuido em relação à nossa espiritualidade, descuido revelado pelo próprio Deus ao denunciar: “Eles abandonaram a mim, fonte de água vida, e cavaram para si cisternas, cisternas furadas, que não podem conter água” (Jr 2,13).
            “Minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo” (Sl 42,3). No coração de todo ser humano há uma sede, uma busca, uma procura por Deus. Mas, às vezes, não sabemos interpretar essa sede: buscamos fora aquilo que está dentro; procuramos longe aquilo que está perto. Pior ainda, nós não aceitamos caminhar pelo deserto da nossa aridez até reencontrarmos Aquele que é fonte de água viva. Ao invés disso, improvisamos: colocamos um remendo em nossa espiritualidade; damos respostas superficiais a uma sede que é muito mais profunda; desperdiçamos nossas energias cavando cisternas incapazes de conter água, porque são furadas.
O descuido com a nossa fonte interior pode fazer com que ela se torne seca, árida e dura como uma rocha. É possível que sintamos a nossa alma assim, neste momento: seca e dura, como uma pedra. Mas Deus disse a Moisés: “Eu estarei lá, (...) sobre o rochedo... Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber” (Ex 17,6). Quando nos tornamos secos, áridos e endurecidos por dentro, precisamos ser “feridos”: a Palavra de Deus precisa bater duramente em nós, para que a nossa fonte interior seja desobstruída. Por isso, sentado junto ao poço de Jacó, Jesus hoje pergunta a cada um de nós: Qual é a sua sede, o seu anseio? De que forma você se reabastece? Onde você busca água para saciar a sua sede? A água que você bebe é uma água suja, contaminada? Você já parou para analisar o que pode estar obstruindo a sua fonte interior?  
            Sem nos dar conta, nós vamos permitindo que o mundo jogue um monte de entulho sobre a nossa fonte interior e aí não conseguimos mais ter acesso a ela. A resposta está dentro, mas não conseguimos entrar; a resposta está no fundo, mas não temos coragem de cavar. Nós nos habituamos com a superficialidade; nos habituamos a beber qualquer tipo de água para atenuar a nossa sede, ainda que ela continue clamando por Aquele que é fonte de água vida; como uma cisterna, nos contentamos em recolher algum pouco de água que o mundo nos oferece, mas esta água escoa rapidamente pelas brechas que estão abertas em nossa vida. Assim, quando pessoas à nossa volta nos pedem “Dá-me de beber”, nós não temos como ajudá-las.  
            Jesus hoje nos convida a desobstruir a nossa fonte interior. Embora desejemos encontrar, sem muito trabalho, uma água que sacie rapidamente a nossa sede, respostas rápidas para as nossas perguntas, remédios de efeito imediato para as nossas dores, Jesus nos revela que a nossa fonte interior só pode ser desobstruída quando nos dispomos a corrigir aquilo que em nossa vida está em desacordo com a Palavra de Deus, em oposição à Sua verdade. Foi por isso que a samaritana teve que admitir que o homem com quem ela vivia não era verdadeiramente seu marido. Nem todo homem é marido. Nem toda igreja ou grupo religioso que fala de Deus conduz para o verdadeiro Deus.
            Se neste tempo quaresmal Jesus diz a você o que disse à samaritana – “Vai chamar teu marido e volta aqui” – é para que você tenha a coragem de jogar fora seus remendos, abrir mão de suas mentiras, desfazer-se de suas máscaras, remover aquela camada de concreto que está sobre a terra árida da sua alma, a fim de que ela possa receber a água viva capaz de devolver fecundidade ao seu coração. Ao nos desfazer dos nossos falsos maridos, podemos ter o coração livre para aprender a adorar a Deus em espírito e verdade, pois “estes são os adoradores que o Pai procura”. Adorar o Pai em espírito e verdade significa buscá-Lo mais pelo desejo de estar em Sua presença do que pela necessidade de Lhe pedir alguma coisa. Só adora a Deus em espírito e verdade quem aprendeu a suportar a sua sede e a deixar-se conduzir para aquele que é Fonte de água viva, ao invés de beber de águas contaminadas.  
            No final do Evangelho aprendemos que toda pessoa que faz uma verdadeira experiência de Deus, isto é, que se encontra com a Fonte de água viva e bebe dela, torna-se um sinal para os outros: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz” (Jo 4,29); ‘Venham ver um homem que me fez tomar consciência de que o dom de Deus habita em mim; mais ainda, que Deus é dom, amor gratuito. Venham ver um homem que, com a sua Palavra, me ajudou a reconhecer meus enganos e despertou em mim a coragem de mudar’... Num mundo tão cheio de falsos maridos como o nosso, com tantas cisternas furadas que aparentam ser poços verdadeiros, precisamos ser para as pessoas um sinal que aponta para o verdadeiro Poço, a verdadeira Fonte, de modo que elas mesmas possam beber da água viva do Evangelho e nos dizer: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo” (Jo 4,42).  
             Assim como fez a mulher samaritana, deixemos com que do nosso interior jorre o testemunho do Evangelho para saciar a sede que as pessoas que convivem conosco têm do Deus vivo e da vida eterna... Em um mundo onde nada é gratuito, onde tudo tem seu preço, ajudemos as pessoas a compreenderem que em Jesus Cristo podem encontrar o dom de Deus, o Deus que é dom, que é amor gratuito, o Deus que, conhecendo a profunda sede que todo ser humano tem dentro de si, continua a Se oferecer como dom de salvação: “Que o sedento venha, e quem o deseja, receba gratuitamente água da vida” (Ap 22,17).  
(Receba – Ministério Adoração e Vida)
                                                                       ou
(O poço – Juninho)

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 9 de março de 2017

SER PRESENÇA QUE TRANSFIGURA

Missa do 2º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gn 12,1-4; 2Timóteo 1,8b-10; Mt 17,1-9.

            Com o passar do tempo as cores vão perdendo o brilho, a beleza, e se tornando opacas; também a pele vai sendo modificada na sua textura e se tornando enrugada. Com o passar do tempo, o vigor físico vai se enfraquecendo, os cabelos vão ficando brancos, os pensamentos e os movimentos vão ficando mais lentos. Fisicamente, exteriormente, é normal que tudo vá aos poucos se desfigurando. Mas há algo em nós que precisa fazer o caminho contrário da desfiguração: a nossa fé precisa amadurecer de tal modo que, por meio dela, possamos ter um olhar transfigurado, um olhar que nos faça enxergar a luz da ressurreição para além da sombra da cruz.
            Depois de ter tornado seus discípulos conscientes da realidade da cruz que O aguardava, e percebendo o quanto isso havia perturbado o coração deles (cf. Mt 16,21-28), Jesus quis revelar-lhes a outra face da realidade: toda pessoa que se desfigura, que sofre, que se desgasta, que se doa para transfigurar a realidade à sua volta, experimentará em si mesma a força da transfiguração. Ainda que externamente nós passemos por um processo de desfiguração, no fim de tudo resplandecerá a glória de Deus em nós, glória que por enquanto permanece guardada, escondida, em nossa carne mortal (cf. 2Cor 4,6-10). Por isso, ao invés de nos lamentar por tantas coisas bonitas, sagradas e importantes que vão se desfigurando à nossa volta, precisamos nos perguntar o que temos feito para transfigurar a realidade que nos cerca.
            O livro do Gênesis nos fala de Abrão, um homem desfigurado não só pela idade avançada, mas por ver o horizonte da sua vida sombrio, fechado, sem futuro, pois ele não tinha terra, nem filhos. Foi quando Deus o chamou e lhe desafiou a romper com o desânimo e com uma vida sem sentido, para caminhar com Ele rumo a uma terra, a um horizonte aberto, a uma vida com sentido. “E Abrão partiu”, dispondo-se a caminhar com Deus mesmo não sabendo ao certo para onde seria levado; partiu apenas confiando que Deus tinha poder para transfigurar a sua vida e, por meio dele, a vida de todos os que decidissem crer na Sua palavra.  
            Hoje a mesma Palavra é dirigida a nós: “Saia”. ‘Saia do seu desânimo, da sua passividade, do seu egoísmo, do seu mundo fechado; enxergue a vida para além dos seus interesses. Saia do seu medo, das suas reclamações, do seu pessimismo diante da desfiguração em que se encontra a realidade à sua volta. Eu te transfigurarei, para que você se torne também uma presença de transfiguração junto às outras pessoas. Meus olhos estão voltados para aqueles que confiam esperando em meu amor. Eu posso libertar você das desfigurações que o mundo provoca em sua vida e alimentar em você a força da transfiguração. Escute o meu Filho, que “não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho”’ (2Tm 1,10).             
            Assim como aconteceu com os discípulos, nós costumamos nos sentir impotentes diante das forças de morte que desfiguram a vida do nosso país: a corrupção e a impunidade de grande parte do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, a violência não só dos bandidos, mas também de alguns policiais, a ação devastadora das drogas, o desemprego, os juros injustos, desonestos e absurdos cobrados pelos Bancos etc. Mas Jesus hoje nos ensina que o problema maior não é força da desfiguração, e sim o nosso silêncio, a nossa omissão, a nossa falta de vontade em reagir e fazer valer a força da transfiguração que o Espírito Santo nos dá para que possamos ajudar a modificar a realidade à nossa volta.
            Qual é a chance que temos de ver o nosso país transfigurado? Qual é a chance de você ver seu local de trabalho transfigurado, a escola do seu filho transfigurada, sua rua, seu bairro, sua cidade, sua igreja transfigurada? “Uma sociedade só tem chance quando os homens de bem tem a mesma audácia dos corruptos” (Professora Lucia Helena Galvão, comentando a frase de Benjamin Disraeli: “O momento exige que os homens de bem tenham a audácia dos canalhas”). Por isso Jesus nos diz hoje o que disse aos discípulos sobre a montanha: “Levantem-se e não tenham medo!” (Mt 17,7). Levante-se! Não se deixe derrubar por aqueles que são audaciosos em desfigurar a vida pública. Não tenha medo de sacrificar parte de sua vida e de seus interesses em favor do bem comum. Não tenha medo de doar a sua vida para que a vida e a imortalidade resplandeçam no mundo por meio do meu Evangelho. Não tenha medo de ser uma pessoa com ideias, sentimentos e atitudes transfigurados no meio de uma sociedade domesticada pela grande mídia e habituada com a desfiguração. Levante-se e siga-me no caminho que, embora tenha a cruz como ponto de passagem, tem a vida transfigurada como ponto de chegada.     
            Oração: Levanta-me, Senhor! Envolve-me com a luz da tua transfiguração. Afasta de mim o espírito de medo, de covardia, de acomodação, que me impede de trabalhar para transfigurar a realidade à minha volta. Reaviva em mim a força do teu Espírito, para que eu tenha a audácia necessária para combater as estruturas desfiguradas e desfiguradoras da nossa sociedade. Em comunhão com a tua Cruz, aceito desfigurar-me, doar-me, desgastar-me, para que a vida e a imortalidade do teu Evangelho prevaleçam sobre a morte e a desfiguração em que se encontra hoje grande parte da humanidade. Ensina-me a ouvir-te, como o Pai me pediu (cf. Mt 17,5), e assim eu sempre terei a luz da tua Palavra para que guiar, até que todos nós sejamos transfigurados definitivamente na luz da tua glória (cf. Fl 3,20-21). Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 3 de março de 2017

TOME CUIDADO COM OS ESPELHOS

Missa do 1º. domingo da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 2,7-9; 3,1-7; Romanos 5,12-19; Mateus 4,1-11.
                    
            Conta a História que, na época em que os colonizadores chegaram ao Brasil, os índios que aqui habitavam ficaram fascinados com algo que nunca tinham visto: espelhos. Então, alguns colonizadores convenciam os índios a trocar suas riquezas, como ouro e outros objetos com os quais costumavam se enfeitar, pelos espelhos dos colonizadores. Alguns séculos mais tarde, o grupo Legião Urbana fez uma crítica a esta realidade na música “Índios”, ao cantar: “Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente”.    
             A Sagrada Escritura descreve para nós o homem e a mulher colocados num Jardim – o planeta Terra –, tendo a liberdade de comer de todos os frutos da terra, respeitando, porém, o limite de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn 2,16-17). De repente, surge a tentação da ambição, a tentação de anular os limites estabelecidos por Deus, a tentação de não precisar consultar Deus para saber o que é o bem e o que é o mal, mas de decidir por si mesmo o que é o bem e o que é o mal; pior ainda – e é o nosso caso hoje – a tentação de inverter os valores, chamando o bem de mal e o mal de bem (cf. Is 5,20).
            A tentação deu ao homem e à mulher o espelho da ambição, o espelho que os fez achar que “o que é demais nunca é o bastante” (Legião Urbana, Teatro dos Vampiros). Desse modo, o ser humano deixou de cuidar do Jardim e de respeitar os limites da natureza, para se apropriar dele segundo a sua ganância. E o Jardim foi aos poucos sendo devastado, transformando-se naquilo que conhecemos hoje: uma Terra onde a cultura de diversos alimentos, necessários e suficientes para a vida dos seres humanos, deu lugar à monocultura de poucos alimentos e de bens que visam o enriquecimento de poucos, causando, consequentemente, o empobrecimento de muitos. “Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente”. Olhando a vida através do espelho da ganância, nós passamos a ver como normal a injustiça que fere e que mata não só o Jardim, mas as pessoas que dele precisam para viver com dignidade.
            O apóstolo Paulo nos tornou conscientes de que todos nós pecamos (cf. Rm 5,12); todos nós achamos normal decidir por nós mesmos o que é bem e o que é mal, segundo os nossos interesses; todos nós nos habituamos a olhar a realidade através do espelho do individualismo e da indiferença para com as necessidades do meio ambiente e das pessoas empobrecidas. Além disso, quem de nós hoje não fica maravilhado com os espelhos de última geração que a tecnologia pode nos vender (celulares, especialmente)? Estes espelhos nos encantam de tal forma que ficamos anestesiados, viciados e até mesmo alienados diante da realidade que nos cerca. Eles influenciam muito mais a compreensão de mundo das novas gerações do que a família, a escola ou a religião.
            Jesus, como qualquer outro ser humano, também se viu diante da proposta de olhar a realidade da sua vida e da sua missão através do espelho do tentador. “Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Enquanto o homem e a mulher escolheram desobedecer a Deus, Jesus escolheu obedecer, e a sua obediência se tornou caminho de salvação para todos nós (cf. Hb 5,9). Hoje Ele nos ensina a importância de dialogar com as tentações que surgem dentro de nós.
Toda tentação chega a nós disfarçada de um bem aparente; ela nos promete o bem, mas produz em nós o mal. Daí a importância do discernimento: “‘Posso fazer tudo o que quero’, mas nem tudo me convém” (1Cor 6,12). Sou livre, mas não vou permitir que a minha liberdade me torne escravo de alguma coisa. Se os espelhos que me deram – mídia e novas tecnologias – estão me fazendo ver o mundo de maneira doentia, eu preciso ter um olhar crítico para estes espelhos e procurar enxergar a realidade à luz de Deus.
Assim como o Espírito de Deus conduziu Jesus para o deserto, Ele também nos conduz ao deserto quaresmal, para que ali Deus possa falar ao nosso coração (cf. Os 2,16). Ao mesmo tempo, é numa experiência de deserto que nos damos conta de que o maligno também fala conosco, nos propondo falsas soluções para os nossos problemas, falsas consolações para a desolação que porventura estejamos passando. Assim como Jesus, precisamos nos aproximar da Palavra de Deus, para que ela nos dê condições de separar o trigo do joio, a voz de Deus da voz do maligno, e usarmos a nossa liberdade para escolher a vida e não a morte, escolher obedecer a Deus e não às nossas tentações.
Como vimos na liturgia da quarta-feira de cinzas, a Quaresma é o “momento favorável” para a nossa cura, a nossa conversão, a nossa purificação, a nossa restauração. No horizonte da nossa vida espiritual está a Páscoa, a passagem da morte para a vida, passagem que desejamos fazer e que o próprio Deus quer que façamos. Mas tal passagem não depende só da graça de Deus; ela depende também da nossa colaboração humana, da firme decisão da nossa liberdade em obedecer à voz de Deus em nossa consciência. Façamos como Jesus: obedeçamos à voz de Deus em nossa consciência; resistamos ao mal e ele fugirá de nós; aproximemo-nos de Deus e Ele se aproximará de nós (cf. Tg 4,7-8).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 2 de março de 2017

O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DE "QUARENTA DIAS"


            Quando percorremos a Sagrada Escritura, vamos nos dando conta de que o período de quarenta dias tem um importante significado para a nossa vida espiritual. Moisés permaneceu sobre a montanha “quarenta dias e quarenta noites” (Ex 24,18; 34,28), para receber de Deus a Sua vontade, expressa nos Dez Mandamentos. “Quarenta dias” foi o tempo dado à cidade de Nínive para se converter dos seus pecados (cf. Jn 3,4). “Quarenta dias e quarenta noites” foi o tempo gasto pelo profeta Elias para chegar ao Horeb, para o encontro com o Senhor (cf. 1Rs 19,8). O próprio Jesus jejuou “quarenta dias e quarenta noites” no deserto (cf. Mt 4,2).
        O que significa esse período de quarenta dias? Simbolicamente, ele é o tempo necessário para que haja uma mudança, uma cura, uma transformação, um renascimento. Embora a nossa geração esteja mal habituada a querer resolver tudo na base de uma senha, de uma tecla, de um passar de dedo sobre a tela do celular, Deus nos ensina que existe um tempo para que algo de significativo aconteça em nossa vida. Não se cura uma ferida de forma instantânea. Não se passa de uma situação de morte para uma situação de vida de maneira mágica. Existe um processo, e esse processo exige de nós tempo, paciência, confiança, determinação, firmeza de caráter.
            Mas o número quarenta pode indicar uma outra coisa... Quando o povo de Israel, depois de aproximadamente dois anos de caminhada, chegou às portas da Terra Prometida, não quis subir a montanha e atravessar para o outro lado, para possuir a Terra, porque teve medo. Este medo se traduziu em falta de confiança em Deus, em teimosia e obstinação em querer resolver as coisas do seu jeito, sem obedecer ao que o Senhor dizia (cf. Dt 1,19-28.34-46). Resultado: Israel ficou vagueando pelo deserto mais 38 anos, para somente depois entrar na Terra Prometida. Portanto, o longo período de quarenta anos que o povo caminhou pelo deserto foi resultado da sua teimosia e da sua falta de confiança em Deus.                                                                                                    Neste início de Quaresma, procuremos colaborar com a graça de Deus, para que a vida nova que Ele quer fazer surgir em nós aconteça neste tempo favorável para a nossa salvação. Não aconteça que, dificultando a ação da graça de Deus, acabemos por prolongar indefinidamente a transformação que poderia dar-se em nós neste abençoado e importante tempo de Quaresma. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quarta-feira, 1 de março de 2017

QUARENTA DIAS: O MOMENTO FAVORÁVEL

Missa da quarta-feira de cinzas. Palavra de Deus: Joel 2,12-18; 2Coríntios 5,20 – 6,2; Mateus 6,1-6.16-18.

            Algo pode nos ajudar a compreender o sentido do tempo que estamos começando a viver hoje em nossa Igreja, o tempo da quaresma. É a pregação de Jonas à cidade de Nínive: “Dentro de quarenta dias Nínive será destruída” (Jn 3,4). Na verdade, dentro de quarenta dias nós vamos solenemente fazer memória da Páscoa de Jesus, a Sua vitória sobre o nosso pecado e a nossa morte. Mas a quaresma quer justamente nos lembrar que não existe vitória sem luta. Nós só podemos experimentar a força da Páscoa em nossa vida na medida em que nos damos conta dos estragos que o pecado tem feito em nossa vida pessoal e social, estragos que nos conduzem individual e comunitariamente para a morte.
            Justamente por isso, na celebração de hoje vamos receber as cinzas sobre a nossa cabeça, recordando o que o Senhor Deus disse a Adão, após o pecado: “Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3,19). A quaresma quer nos ajudar a recuperar a consciência de que todo pecado nos leva para a morte (cf. Rm 6,23). Mas não só isso. Quanto mais estivermos conscientes de que vamos morrer, mais podemos compreender o quanto é inútil a nossa arrogância, a nossa soberba, o nosso orgulho; o quanto é mentirosa essa cultura em que vivemos mergulhados, especialmente por causa das redes sociais: a cultura da vaidade, onde só nos sentimos vivos se aparecemos, se somos vistos e “curtidos” pelos outros.
            O tempo da quaresma, que iniciamos hoje, é verdadeiramente “o momento favorável” para a nossa cura, a nossa conversão, a nossa purificação, a nossa restauração. Por isso, precisamos viver este tempo voltando-nos para o nosso Deus com todo o nosso coração, isto é, com todo o nosso ser e não apenas com uma parte de nós. Trata-se de nos deixar reconciliar com Deus, de permitir que a verdade do seu Espírito remova a mentira da máscara que usamos no dia a dia e nos reconcilie com a nossa verdade, de modo que possamos acolher a nossa fraqueza como o lugar onde a força de Deus pode se manifestar e nos transformar.
            Se o tempo da quaresma existe em função da Páscoa, e se a Páscoa é a festa da libertação, nós somos chamados a reconhecer tudo aquilo que nos prende, nos aprisiona e nos escraviza sob o poder do mal. Jesus, como veremos no próximo domingo, permaneceu quarenta dias no deserto, confrontando-se com o mal, antes de iniciar a sua missão de nos salvar. Ele nos lembra as três “armas” que podemos usar para nos libertar das mentiras do maligno: a esmola, a oração e o jejum.
A esmola nos liberta do nosso egoísmo e nos levar a sair de nós mesmos, para irmos ao encontro de toda pessoa que precisa de nós. Dar esmola significa perguntar-se: o que eu posso fazer para tornar essa sociedade menos injusta? O jejum, por sua vez, é uma atitude de desintoxicação. Precisamos nos desintoxicar de pensamentos, de imagens, de palavras, de sentimentos, de atitudes que, além de nos afastar de Deus, fazem mal a nós mesmos e aos outros. Jejuar significa perguntar-se: como eu posso recuperar a liberdade interior diante de tudo aquilo que o mundo me oferece? Como eu posso purificar o meu olhar de modo a voltar a enxergar Deus em minha vida e o meu próximo como verdadeiro irmão? Enfim, a oração tem por objetivo recolocar-nos numa posição correta diante de Deus: estamos ali para ouvi-Lo e para obedecê-Lo, procurando conformar nossa vida à Sua vontade, que é a nossa comunhão com seu Filho Jesus Cristo e com a sua salvação.
Durante a quaresma deste ano, a Campanha da Fraternidade nos falará especificamente dos Biomas brasileiros e da defesa da vida. Bioma é o conjunto dos seres vivos de uma área. Mais uma vez, somos convidados a cuidar da criação, da qual fazemos parte, procurando proteger, preservar e cuidar da vida não só animal e vegetal, mas também humana, sobretudo dos pobres. Eis a oração da CF que nos inspirará ao longo da quaresma: Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade. Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor. Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum. Cresça, em nosso imenso Brasil, o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas, e da beleza e riqueza da criação, alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi