Numa
conversa com um pedreiro, dias atrás, ele me disse que, atualmente, alguns
profissionais (eletricistas, encanadores etc.), quando chamados a uma
residência para consertar um problema, convencem a pessoa a jogar fora aquilo
que está dando problema e a substituí-lo por um novo. Esses profissionais até
poderiam consertar o que está estragado ou dando problema, mas isso dá mais trabalho.
Jogar fora e substituir por um novo dá menos trabalho...
É
assim que nós estamos hoje administrando a nossa vida. Consertar, corrigir,
quebrar a cabeça (e o coração) para fazer a coisa voltar a funcionar, além de
exigir de nós tempo, paciência e esforço, dá trabalho. É muito mais fácil jogar
fora e substituir por um novo. Pra quê “perder tempo” tentando consertar? Com
isso, vamos agredindo mais ainda o planeta com um monte de entulho que, na
verdade, não é entulho, mas algo que foi jogado fora porque não quisemos ter o
trabalho de consertar.
Não
é assim que fazemos também com tantos dos nossos relacionamentos? Seja no campo
afetivo/familiar, seja no campo da amizade ou profissional, quando algo ficou
machucado, trincado, ofendido, quebrado, ou seja, quando algo se estragou ou
começou a se estragar, nós não pensamos duas vezes: jogamos fora e substituímos
por um novo. Assim, no “lixão” da nossa consciência, do nosso coração, da nossa
história de vida, vai se acumulando um monte de entulho, um entulho
desnecessário, que não estaria ali se tivéssemos tido um pouco de paciência e
de boa vontade para dedicar um pouco mais do nosso tempo e do nosso esforço até
que aquilo pudesse ser consertado.
Deus
não nos joga fora. Pelo contrário: Ele “reconstrói Jerusalém... Ele cura os
corações despedaçados e cuida dos seus ferimentos” (Sl 147,2.3); Ele “perdoa
todas as tuas culpas e cura todos os teus males” (Sl 103,3). Foi Ele quem
ordenou ao profeta Jeremias descer à casa do oleiro... “Eu desci à casa do
oleiro, e eis que ele estava trabalhando no torno. E estragou-se o vaso que ele
estava fazendo, como acontece com a argila na mão do oleiro. Então, a palavra
do Senhor me foi dirigida nestes termos: Não posso eu agir convosco como este
oleiro, ó casa de Israel?, oráculo do Senhor. Eis que, como a argila na mão do
oleiro, assim sereis vós na minha mão, ó casa de Israel!” (Jr 18,3-6).
Não
é porque algo se estragou em nós que temos que nos jogar no lixo. Não é porque
algo se estragou nos nossos relacionamentos que temos que jogar as pessoas
fora. Por que é que a Bíblia usa simbolicamente a imagem do barro para falar do
ser humano (cf. Gn 2,7)? Porque aquilo que se machuca, que se fere ou que se
estraga nos nossos relacionamentos pode ser tratado, curado, consertado,
restaurado. Para isso, precisamos nos colocar como barro nas mãos do nosso
oleiro. Deus é o nosso Oleiro. Sua palavra nos molda, nos corrige, nos
conserta, nos aperfeiçoa. É por isso que o salmista declara, e ao mesmo tempo
suplica: “Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis
inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!” (Sl 90,17).
Neste mês de agosto, em que celebramos a
Semana da Família, oremos, jejuemos e trabalhemos para que o Senhor restaure a nossa
casa e os nossos relacionamentos. Que tenhamos a coragem de olhar para o
entulho da nossa história de vida e modificar aquelas atitudes que costumam
estragar os nossos relacionamentos. Se olharmos com atenção, veremos que, no
meio desse entulho todo, existem coisas que ainda podem ser recuperadas,
consertadas e restauradas. Se nos dispusermos todos os dias a nos colocar como
barro nas mãos do nosso Oleiro, por meio da oração, experimentaremos o quanto
Ele tem, de fato, o poder de fazer de nós e dos nossos relacionamentos um vaso
novo!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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