domingo, 2 de agosto de 2015

CONSERTAR OU JOGAR FORA E SUBSTITUIR POR UM NOVO?


            Numa conversa com um pedreiro, dias atrás, ele me disse que, atualmente, alguns profissionais (eletricistas, encanadores etc.), quando chamados a uma residência para consertar um problema, convencem a pessoa a jogar fora aquilo que está dando problema e a substituí-lo por um novo. Esses profissionais até poderiam consertar o que está estragado ou dando problema, mas isso dá mais trabalho. Jogar fora e substituir por um novo dá menos trabalho...
            É assim que nós estamos hoje administrando a nossa vida. Consertar, corrigir, quebrar a cabeça (e o coração) para fazer a coisa voltar a funcionar, além de exigir de nós tempo, paciência e esforço, dá trabalho. É muito mais fácil jogar fora e substituir por um novo. Pra quê “perder tempo” tentando consertar? Com isso, vamos agredindo mais ainda o planeta com um monte de entulho que, na verdade, não é entulho, mas algo que foi jogado fora porque não quisemos ter o trabalho de consertar.
            Não é assim que fazemos também com tantos dos nossos relacionamentos? Seja no campo afetivo/familiar, seja no campo da amizade ou profissional, quando algo ficou machucado, trincado, ofendido, quebrado, ou seja, quando algo se estragou ou começou a se estragar, nós não pensamos duas vezes: jogamos fora e substituímos por um novo. Assim, no “lixão” da nossa consciência, do nosso coração, da nossa história de vida, vai se acumulando um monte de entulho, um entulho desnecessário, que não estaria ali se tivéssemos tido um pouco de paciência e de boa vontade para dedicar um pouco mais do nosso tempo e do nosso esforço até que aquilo pudesse ser consertado.
            Deus não nos joga fora. Pelo contrário: Ele “reconstrói Jerusalém... Ele cura os corações despedaçados e cuida dos seus ferimentos” (Sl 147,2.3); Ele “perdoa todas as tuas culpas e cura todos os teus males” (Sl 103,3). Foi Ele quem ordenou ao profeta Jeremias descer à casa do oleiro... “Eu desci à casa do oleiro, e eis que ele estava trabalhando no torno. E estragou-se o vaso que ele estava fazendo, como acontece com a argila na mão do oleiro. Então, a palavra do Senhor me foi dirigida nestes termos: Não posso eu agir convosco como este oleiro, ó casa de Israel?, oráculo do Senhor. Eis que, como a argila na mão do oleiro, assim sereis vós na minha mão, ó casa de Israel!” (Jr 18,3-6).
            Não é porque algo se estragou em nós que temos que nos jogar no lixo. Não é porque algo se estragou nos nossos relacionamentos que temos que jogar as pessoas fora. Por que é que a Bíblia usa simbolicamente a imagem do barro para falar do ser humano (cf. Gn 2,7)? Porque aquilo que se machuca, que se fere ou que se estraga nos nossos relacionamentos pode ser tratado, curado, consertado, restaurado. Para isso, precisamos nos colocar como barro nas mãos do nosso oleiro. Deus é o nosso Oleiro. Sua palavra nos molda, nos corrige, nos conserta, nos aperfeiçoa. É por isso que o salmista declara, e ao mesmo tempo suplica: “Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!” (Sl 90,17).     
             Neste mês de agosto, em que celebramos a Semana da Família, oremos, jejuemos e trabalhemos para que o Senhor restaure a nossa casa e os nossos relacionamentos. Que tenhamos a coragem de olhar para o entulho da nossa história de vida e modificar aquelas atitudes que costumam estragar os nossos relacionamentos. Se olharmos com atenção, veremos que, no meio desse entulho todo, existem coisas que ainda podem ser recuperadas, consertadas e restauradas. Se nos dispusermos todos os dias a nos colocar como barro nas mãos do nosso Oleiro, por meio da oração, experimentaremos o quanto Ele tem, de fato, o poder de fazer de nós e dos nossos relacionamentos um vaso novo!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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