sexta-feira, 31 de julho de 2015

SEM ESFORÇO, NADA DE VIDA ETERNA

Missa do 18º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 16,2-4.12-15; Efésios 4,17.20-24; João 6,24-35.

            Sem esforço, nenhum objetivo é atingido em nossa vida. Sem esforço, não há amadurecimento, nem superação, nem vitória, nem realização. O problema é: devemos nos esforçar em vista do quê? Alguns se esforçam para fazer uma faculdade; outros, para terem um corpo “sarado”. Alguns se esforçam para passar de fase nos jogos eletrônicos; outros, para vencer uma prova. Alguns se esforçam para realizar determinado “sonho de consumo”; outros, para sobreviverem, para formarem seus filhos, para superarem uma crise, para manterem sua família em pé.
            Todo esforço exige renúncia. A multidão, que havia se saciado com os pães e os peixes, renuncia à segurança de suas casas para ir atrás de Jesus. No entanto, Jesus faz este alerta: “Esforcem-se não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna...” (Jo 6,27). Alcançar a vida eterna exige sacrifícios da nossa parte. Estamos dispostos a fazê-los? Acreditamos na vida eterna? Desejamos a vida eterna? Se o nosso desejo pela vida eterna é fraco ou inexistente, nós nunca aceitaremos fazer qualquer esforço, qualquer sacrifício, qualquer renúncia para alcançá-la.
            “Estais me procurando... porque comestes pão e ficastes saciados” (Jo 6,26). Por qual motivo você costuma procurar Deus? Sua fé está reduzida ao seu estômago, aos seus interesses imediatos? Que esforço você faz para alimentar a sua vida espiritual, para se encontrar com Deus, para estar na presença d’Ele, para fazer a Sua vontade, para enfrentar a travessia do deserto rumo à Terra Prometida? Que tipo de sacrifício você está disposto(a) a fazer: enfrentar a fome do deserto, para alcançar a liberdade na Terra Prometida, ou suportar a escravidão do Egito, só porque ali você tem carne e pão com fartura (cf. Ex 16,3)?
            O verdadeiro esforço, necessário para alcançarmos a vida eterna, consiste em crer em Jesus Cristo, aquele que o Pai enviou como Salvador do mundo (cf. Jo 6,29). Mas, por que “crer” em Jesus significa “esforço”? Porque quem crê em Jesus Cristo “deve também andar (se comportar) como ele andou (se comportou)” (1Jo 2,6). Quem de nós está disposto a isto? Quem de nós tem Jesus Cristo como verdadeiro modelo de vida e de conduta? Quem de nós se esforça hoje por conhecer, amar e seguir Jesus Cristo, permanecendo com Ele e crendo n’Ele também na hora da cruz, da provação, da ausência de sinais, da doença, do fracasso e da dor?
            O apóstolo Paulo nos dá uma outra pista sobre qual esforço é necessário para alcançarmos a vida eterna: despojar-nos do “velho homem” e revestir-nos do “homem novo”. O “velho homem” é a pessoa que vai se habituando com seus vícios e seus comportamentos errados, uma pessoa arrastada por emoções cegas, atrofiada na razão e na consciência. Se hoje o envelhecimento mais temido é o da pele, o qual pode ser retardado ou disfarçado, o que nós de fato devemos temer é o envelhecimento da mente, desnutrida de espiritualidade, corrompida nos seus valores. Aqui não se trata de retardar o envelhecimento da nossa mente, mas de renová-la por meio de uma transformação espiritual, buscando ouvir o Espírito Santo e nos deixar guiar por ele. Enfim, ser um “homem novo” significa esforçar-se a cada dia por se comportar verdadeiramente de maneira justa e santa (cf. Ef 4,24).  
            Assim termina, por ora, o diálogo da multidão com Jesus: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34). O que nós queremos dizer com “este pão”? Talvez estejamos pedindo a Jesus: ‘Senhor, dá-nos sempre consolação! Dá-nos sempre paz! Dá-nos sempre vitória! Dá-nos sempre libertação!’ O perigo aqui está na palavra “sempre”. É a tentação de querer uma vida “sempre” saciada, de querer perguntas “sempre” respondidas, de querer dores “sempre” amenizadas.
            Ao dizer: “Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35), creio que Jesus esteja dizendo: “Sempre” que você esforçar-se por me encontrar, Eu estarei aqui. “Sempre” que você me buscar, Eu me deixarei encontrar por você. Mas não espere de mim por um “sempre” que seja sinônimo de já ter encontrado, de já ter alcançado, e, portanto, de não precisar mais se esforçar por alcançar. Seu esforço será necessário a cada dia, assim como sua renúncia e seu sacrifício, até que você aprenda a se comportar na vida como Eu me comportei, até que você alcance a vida eterna.  

Para sua oração pessoal: FOME DE TI (Radicais livres)



Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Padre Paulo, já pensou transformar suas homilias em livro? A Igreja Católica agradeceria.Particularmente já me reserve um exemplar. Obrigado.

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