Missa do 16º.
dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 23,1-6; Efésios 2,13-18; Marcos 6,30-34.
Ao nascer, todo ser humano necessita
de cuidados. Mas, na medida em que vamos crescendo, vamos também aprendendo a
cuidar de nós mesmos, e, assim, nos tornamos menos dependentes do cuidado dos
outros. Quando nos tornamos pessoas adultas, o ideal é que nós já soubéssemos
cuidar de nós mesmos e também nos dispuséssemos a cuidar daquilo ou daqueles
que a vida confia aos nossos cuidados. No entanto, existem muitos adultos
infantilizados, que passam o tempo todo querendo ser cuidados e não se dispõem
a cuidar de nada à sua volta, nem de ninguém...
Na Bíblia, a imagem do cuidado tem
um nome: “pastor”. Cuidar significa ser pastor. Ou, dizendo de outra maneira,
ser pastor significa abraçar a missão de cuidar daquilo ou daqueles que a vida
colocou sob os nossos cuidados. Isso explica a indignação de Deus para com os
pastores de Israel: “Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não
cuidastes dele” (Jr 23,2). A quem são dirigidas essas palavras hoje? A tantos pais
(a tantas famílias), políticos, líderes religiosos, policiais, empresários,
isto é, a muitos que têm alguém sob seus cuidados, mas está sendo infiel a essa
missão.
Se a humanidade hoje se assemelha a
um imenso rebanho perdido, tomado pelo medo e pela angústia, é porque muitos
pastores decidiram ir atrás daquilo que eles entendem ser sua própria felicidade, deixando o rebanho entregue a si mesmo. Sem
dúvida que o pastor não pode esquecer o cuidado
consigo mesmo. Não foi à toa que Jesus ordenou aos discípulos, que não estavam
nem tendo tempo para comer: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai
um pouco” (Mc 6,31). Quantos casais, por exemplo, cuidam “excessivamente” do
filho e se esquecem de cuidar do próprio relacionamento? Quantas mulheres vivem
cuidando da casa e dos filhos, enquanto o marido ou companheiro cuida somente
de si e dos seus interesses?
O cuidado consigo mesmo
é importante. Na última quarta, divulgou-se a notícia de que, nos últimos 12
anos, a AIDS diminuiu no mundo todo, mas aumentou no Brasil (especificamente,
40% entre jovens de 14 a 18 anos). Por quê? Porque os meninos abandonaram o uso
do preservativo e deixaram para as meninas a “responsabilidade” de tomarem a
“pílula do dia seguinte” depois da relação. Sem mencionar a questão moral, aqui
nós temos, ao menos, dois problemas: a visão machista de que cabe à mulher
evitar a gravidez, sem nenhum tipo de “sacrifício” da parte do homem, e a
questão dos danos graves causados ao corpo das meninas com as pílulas do dia
seguinte. É a geração que “sabe” fazer sexo, mas não sabe cuidar de si mesma...
Os
textos bíblicos de hoje querem nos fazer refletir: quem está sob os meus
cuidados? Qual realidade (meio ambiente, sociedade) ou quais pessoas a vida colocou
sob os meus cuidados? Eu sei equilibrar meu tempo entre cuidar dos outros e
cuidar de mim, ou me deixo “devorar” pelas necessidades dos outros? Jesus nunca
aceitou “ser devorado” pelas pessoas. No entanto, ao ver uma numerosa multidão, “teve compaixão,
porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Compaixão significa sentir a
dor do outro. Ela nos faz enxergar que, apesar do nosso cansaço, há algo que
ainda podemos fazer pelo outro. Quando você tem compaixão, consegue mudar seus
planos por causa da dor do outro; consegue esquecer por um momento de si para
“focar” no outro, para ir atrás, resgatar e salvar aquilo ou aqueles que foram
confiados aos seus cuidados.
Por fim, o apóstolo Paulo nos dá uma indicação
importante sobre a atitude do pastor, daquele que cuida: do que está
dividido, ele deve trabalhar no sentido de fazer uma unidade; colaborar para derrubar
o muro de separação, que é a inimizade. Se trata do cuidado para com a paz. Como
nos lembrou a oração da Campanha da Fraternidade 2005, “que a nossa segurança não venha das armas, mas do
respeito. Que a nossa força não seja a violência, mas o amor. Que a nossa
riqueza não seja o dinheiro, mas a partilha. Que o nosso caminho não seja
a ambição, mas a justiça. Que a nossa vitória não seja a vingança, mas o
perdão”.
Duas considerações
finais: 1) Jesus viu a numerosa
multidão e sentiu compaixão. Como
sentir compaixão hoje, se os nossos olhos estão frequentemente focados numa
tela de celular e não enxergam quem está ao nosso lado? 2) A falta de descanso
produz estresse e esgotamento. Se algumas pessoas estão estressadas e esgotadas
é porque outras estão “excessivamente descansadas”, sem querer cuidar de nada à
sua volta, a não ser dos seus interesses pessoais.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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