Missa do 15º. dom.
comum. Palavra de Deus: Amós 7,12-15; Efésios 1,3-14; Marcos 6,7-13.
Há uma diferença entre o vidro de
uma janela e um espelho. O vidro da janela te dá a possibilidade de enxergar
para além de você, de ver as outras pessoas e de se tornar consciente do que
acontece além do seu mundo particular. O espelho, por ter uma camada fina e
prateada atrás do vidro, não te deixa ver além de si mesmo(a): tudo se resume
em você e as suas necessidades, você e os seus desejos; os outros não existem.
Ao chamar os doze e enviá-los em
missão, Jesus está raspando aquela camada fina e prateada, que o individualismo
colocou na janela dos nossos sentidos, e nos tornando conscientes de que o
mundo à nossa volta é muito mais amplo do que as nossas necessidades e os
nossos desejos egocêntricos. Para além da tela da nossa TV e do nosso
computador/tablet/celular, existem pessoas reais precisando de nós. Para além
das nossas necessidades e dos nossos desejos particulares, existe uma missão
que nos foi confiada, uma missão que somente nós podemos realizar.
Quando o sacerdote Amasias tentou
convencer o profeta Amós a exercer seu trabalho de profeta em outro lugar, ao
invés de ficar incomodando a consciência do rei com suas profecias, Amós
respondeu que sua profissão nunca foi ser um profeta, mas o próprio Deus lhe
deu a ordem de profetizar para Israel (cf. Am 7,12-15). Enquanto a profissão
consiste em trabalhar em algo para ganhar dinheiro e me sustentar, a vocação
consiste em obedecer a um chamado de Deus e a compreender que o sentido da minha
vida não está em apenas ganhar dinheiro para sobreviver, mas em ser uma
presença de esperança, de alegria, de amor, de justiça e de paz para as pessoas
às quais Deus me enviar durante minha breve existência neste mundo.
Através do Papa Francisco, Jesus tem
proclamado em alto e bom som a cada um de nós, católicos: ‘Eu quero minha
Igreja em saída! Eu quero você enxergando a vida além de si e das suas
necessidades! Eu te desafio a raspar a camada prateada de individualismo dos
seus sentidos e se deixar afetar pela dor das pessoas à sua volta! Quero você
como presença viva do meu Evangelho junto às outras pessoas. Quero você como
uma presença de paz junto a quem se “habituou” com a violência; como uma
presença de verdade e de justiça junto a quem se “acostumou” com a mentira e a
injustiça; como uma presença do Deus vivo e verdadeiro junto a quem só se sente
seguro a partir do dinheiro; como uma presença de família e de fidelidade junto
a quem nunca experimentou um amor que ama até o fim; por fim, quero você como
uma presença de cruz junto a toda pessoa que não aceita ter que lidar com a renúncia,
com o sacrifício e com a dor’.
A nossa presença junto às outras
pessoas deve, segundo Jesus, provocar dois efeitos: conversão e cura. Todos nós
precisamos de conversão. O Espírito Santo tem provocado nossa Igreja a passar
por um processo de conversão pastoral, ou seja, a superar as estruturas
ultrapassadas que não estão nos ajudando a ser uma presença viva do Evangelho
junto às outras pessoas, sobretudo junto aos que sofrem. Por outro lado, todos
nós precisamos de cura, e a cura vem pela remoção da película do individualismo
que tem nos desumanizado e nos mantido afastados uns dos outros.
O Evangelho termina mencionando que
os discípulos curavam os doentes ungindo-os com óleo. A unção com esse óleo nos
remete às palavras do apóstolo Paulo, quando afirma que o Pai nos abençoou com
toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo (cf. Ef 1,3).
Fortalecidos pelo Espírito Santo, somos enviados para anunciar às pessoas que,
por meio de Jesus Cristo, Deus Pai nos escolheu para sermos santos e
irrepreensíveis, e para vivermos a cada dia sob o seu olhar, no amor (cf. Ef
1,4). Cada ser humano deve se tornar consciente de que é uma pessoa redimida,
absolvida, liberta e salva, pelo sangue de Cristo derramado na cruz: n’Ele as nossas
faltas são perdoadas (cf. Ef 1,7). Nele também nós ouvimos a palavra da verdade,
o evangelho que nos salva. Por fim, crendo no Evangelho, somos marcados com o
selo do Espírito Santo, que é a garantia da nossa redenção (cf. Ef 1,13-14).
Abracemos, portanto, a missão que o
Pai confia a cada um de nós, por meio de seu Filho Jesus e na unção do Espírito
Santo: CORAÇÃO ADORADOR (Banda Dom)
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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