Missa
do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 4,42-44; Efésios 4,1-6; João 6,1-15.
A
fome é uma das necessidades mais básicas do ser humano, uma necessidade que
exige ser saciada. Quando não saciada, a fome faz com que o ser humano se torne
agressivo, deixe de lado a noção de certo e de errado, e vá em busca de
sobrevivência, chegando, inclusive, a roubar e matar, se preciso for, para
saciar a sua fome. O filme “Ensaio sobre a cegueira” retrata muito bem essa
realidade.
Mas
o ser humano não tem apenas fome de comida. A própria Escritura afirma que “o
homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt
8,3; Mt 4,4). Assim, você tem hoje crianças bem nutridas e também bem servidas
de estudo e de tecnologia, mas famintas de afeto, de diálogo, de limites, de
presença e de autoridade dos pais. Você tem famílias que não passam fome, mas que
estão desnutridas de diálogo, de proximidade e de afeto. Você tem pessoas que
comem o tempo todo não porque têm fome, mas porque não sabem escutar a sua alma
e interpretar a própria ansiedade...
Embora
a fome seja, de fato, uma necessidade básica do ser humano, ela também é manipulada
pela sociedade de consumo, a qual cria em nós necessidades artificiais, que não
são verdadeiras necessidades. Desse modo, nós nos tornamos escravos do
consumismo e colaboradores da cultura do desperdício. Nada nos preenche. Nada
nos sacia, porque o nosso coração se tornou insaciável, e um coração insaciável
nunca experimenta paz, nunca experimenta alegria.
Ao
ver a grande multidão que vinha ao seu encontro, Jesus perguntou a Filipe: “Onde
vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo 6,5). O evangelista João
afirma que Jesus perguntou isso para colocar Filipe à prova, isto é, para ver
como ele agiria diante de uma dificuldade. Hoje Jesus nos pergunta: ‘Como você entende
e lida com suas necessidades?’ ‘Você é capaz de enxergar as necessidades das
pessoas à sua volta?’ ‘Além do seu corpo, você procura também alimentar a sua
alma e o seu espírito?’ ‘Você alimenta o seu relacionamento como é preciso ou tem
o hábito de deixá-lo desnutrido?’
Filipe
respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a
cada um” (Jo 6,7). Sem perceber, Filipe disse uma verdade: o dinheiro não
basta. O material não sacia. O recurso principal de que cada um de nós dispõe
não é material, mas humano, emocional, espiritual. O problema não é o dinheiro,
mas a vontade, a disposição em usar os recursos que temos. Hoje em dia, para muitas
famílias, a coisa mais fácil é dar coisas materiais aos filhos, mas a coisa
mais difícil é dar-se aos filhos: dar sua presença, seu afeto, seus ouvidos,
seu interesse, seu corpo, para que o filho possa brincar com os pais, e não com
o novo brinquedo que os pais lhe compraram.
“Está
aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes” (Jo 6,9). Geralmente,
nós somos rápidos em detectar a nossa fome, mas lentos em perceber e valorizar
os nossos recursos. Reclamamos daquilo que nos falta e não valorizamos aquilo
que temos: nossos cinco pães e nossos dois peixes. “Jesus tomou os pães, deu
graças e distribuiu-os... E fez o mesmo com os peixes” (Jo 6,11). Jesus nos
ensina a reconhecer os recursos que temos e a agradecermos a Deus por eles
todos os dias, reconhecendo também que “o pouco com Deus é muito; o muito sem
Deus é nada” (sabedoria popular).
Depois
que todos foram saciados, Jesus ordenou: “Recolhei os pedaços que sobraram,
para que nada se perca!” (Jo 6,12). A nossa sobrevivência hoje depende disso:
não desperdiçar! Não desperdiçar alimento, nem água, nem energia. Não
desperdiçar tempo diante do computador ou do celular, quando podemos usar esse
tempo para conviver com as pessoas que têm fome da nossa presença. Não
desperdiçar a oportunidade de falar, de abraçar e de estar junto, enquanto isso
é possível.
Se,
no final do Evangelho, Jesus não aceitou ser coroado rei daquela multidão (cf.
Jo 6,15), foi também para nos dizer que não podemos reduzir Deus a um mero
provedor das nossas necessidades. O pão de cada dia é também fruto do nosso
trabalho, responsabilidade nossa, e não deve ser esperado cair do céu enquanto
nada fazemos para adquiri-lo. Nesta hora histórica de acentuado desemprego em
nossas cidades, o que estamos fazendo em relação aos desempregados? Ainda
outras reflexões necessárias: 1) O outro lado da moeda da fome é a alimentação
errada: na mesa de muitos, a água foi substituída pelo refrigerante, e a comida
caseira pela industrializada... 2) Tem se tornado um péssimo hábito engolir a comida
sem saboreá-la, porque, enquanto comemos, visualizamos mensagens no celular ou teclamos
com alguém...
Cinco
pães e dois peixinhos (Quatro por Um)
https://www.youtube.com/watch?v=DHzsJ-dVvkYPe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário