quinta-feira, 6 de agosto de 2015

FAZER-SE PÃO PARA AQUELE/A QUE NOS DÁ/DEU O PÃO DE CADA DIA

Missa do 19º. dom. comum. Dia dos pais. Palavra de Deus: 1Reis 19,4-8; Efésios 4,30 – 5,2; João 6,41-51.

            Ninguém vive sem pão. Ninguém vive se não se alimentar. O fato de precisarmos do pão de cada dia para viver revela que nenhum ser humano é autossuficiente: ele precisa de algo para viver. Mais do que de “algo”, o ser humano precisa de “alguém” para viver. E quem é esse “alguém”? É aquela pessoa que, com o seu trabalho, coloca o pão de cada dia sobre a mesa da nossa casa. Mais do que isso, é aquela pessoa que, gastando sua vida – morrendo um pouco a cada dia – se faz pão para nós.
             Até tempos atrás, o responsável por garantir o pão em nossa casa era o pai. Hoje já é não é só ele, mas ele e a mãe. Porém, em muitos casos, a responsável por nos dar o pão de cada dia é a mãe, uma vez que mais da metade das famílias brasileiras hoje é sustentada por uma mulher. Ali o pai está ausente tanto física, como emocional e economicamente falando. Seja como for, hoje, neste dia dos pais, queremos rezar pela pessoa que – repito – morreu ou tem morrido a cada dia para se fazer pão para nós.  
            Depois de ter saciado a multidão com os pães e os peixes, e de ter desafiado essa mesma multidão a se esforçar não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que dura até a vida eterna, Jesus se descreve aos judeus como “o pão que desceu do céu” (Jo 6,41), “o pão da vida” (Jo 6,48), “o pão vivo descido do céu” (Jo 6,51). De fato, sobre o altar da cruz, Jesus se ofereceu como “corpo dado” e “sangue derramado”, alimento de vida eterna para todo aquele que crê, oferenda esta antecipada na última Ceia.
           Que lugar tem a Eucaristia em sua vida? Com que frequência você comunga? Enquanto uns passam meses ou anos sem receber a comunhão, outros comungam sempre, mas nem sempre conscientemente. Você tem consciência de está recebendo verdadeiramente Jesus Cristo ao comungar, ou a Eucaristia se tornou para você um alimento insignificante, miserável, “nojento”, banal, como o maná para os israelitas (cf. Nm 21,5)? “Levanta-te e come!”... Com a força desse alimento, (Elias) andou... até chegar ao Horeb, o monte de Deus” (1Rs 19,7.8). Você está convencido(a) de que somente com a força da Eucaristia é que você pode chegar até Deus?  
    Depois que Jesus convidou a multidão a buscar o alimento que dura até a vida eterna, ela começou a ir embora. Agora, são os judeus que começam a ir embora. Como você se sente, ao perceber que as pessoas à sua volta se tornam cada vez mais céticas, descrentes, algumas se declarando agnósticas (Deus sim, religião não); outras, ateias (nem Deus, nem religião)? Por que você ainda continua na Igreja?
   Jesus não se sentiu diminuído como pessoa, nem fracassado na sua missão, ao começar a ficar praticamente sozinho, porque ele tinha uma convicção no seu coração: “Ninguém pode vir a mim (crer em mim) se o Pai que me enviou não o atrai” (Jo 6,44). A fé não é apenas um esforço sério da nossa parte em permanecermos com Jesus, mas sobretudo uma resposta nossa a um dom que o Pai nos oferece: termos a vida eterna em Seu Filho Jesus Cristo. Só Deus suscita a fé no coração do ser humano. Não adianta eu tentar “forçar” uma pessoa a se abrir para a fé. Onde Deus não entra pela graça, é inútil eu tentar entrar pela força.
   Só o Pai pode nos atrair para Jesus. De que maneira? “Todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído vem a mim” (Jo 6,45). Somente quando escutamos o Pai, isto é, quando damos chance ou condições para o Pai falar ao nosso coração é que nos sentimos fortemente atraídos para Jesus e para a verdade do seu Evangelho. O que atrai hoje o coração das novas gerações, a não ser a tecnologia? Que espaço as novas tecnologias oferecem para que as pessoas hoje ouçam o Pai? Quem está disposto a ouvir a voz do Pai em sua consciência ou em seu coração?
   Terminemos essa reflexão considerando a figura do nosso pai terreno. “Elias entrou deserto adentro... e pediu a morte para si” (1Rs 19,4). Um homem no deserto adentro pode ser um pai fechado em si mesmo, isolado, desencorajado. Quantos pais, à semelhança de Elias, se sentem mortos, incapazes, fracassados, ou como marido, ou como pai, ou como profissional? Em que deserto se encontra seu pai, neste momento? Você poderia fazer-lhe companhia, ou encorajá-lo a sair desse deserto de isolamento? Elias “adormeceu”, mas seu sono não é só cansaço; é também fuga da realidade. Alguns pais fogem da realidade na bebida; outros, no cigarro; outros, nas drogas; outros ainda, na internet. Muitíssimos pais não se alimentam mais de Deus. O bar os atrai; o futebol os atrai; mas a Igreja não os atrai...
  Não caberia a cada um de nós assumirmos diante dos pais o papel do anjo que convidou Elias a reagir ao seu desânimo? “Levanta-te e come!” (1Rs 19,5.7). Levantar = reagir; comer = fortalecer-se. “Ainda tens um caminho longo a percorrer” (1Rs 19,7). Podemos ajudar o pai a se dar conta de que a sua vida não termina naquele cansaço, naquele desânimo, naquela crise, naquela queda... A vida prossegue! Deus é mais, e a missão que Ele confiou a você, pai, ainda não terminou! O pai não é só o provedor, aquele que se faz pão para a nossa família. Ele também tem fome. Ele também precisa que nos façamos pão para alimentá-lo com nossa ajuda, com nosso afeto, com nosso perdão, com nossa presença, com nossa oração...


 Pe. Paulo Cezar Mazzi

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