Missa do 19º. dom. comum. Dia dos pais. Palavra de Deus:
1Reis 19,4-8; Efésios 4,30 – 5,2; João 6,41-51.
Ninguém vive sem pão. Ninguém vive se
não se alimentar. O fato de precisarmos do pão de cada dia para viver revela
que nenhum ser humano é autossuficiente: ele precisa de algo para viver. Mais
do que de “algo”, o ser humano precisa de “alguém” para viver. E quem é esse
“alguém”? É aquela pessoa que, com o seu trabalho, coloca o pão de cada dia
sobre a mesa da nossa casa. Mais do que isso, é aquela pessoa que, gastando sua
vida – morrendo um pouco a cada dia – se faz pão para nós.
Até
tempos atrás, o responsável por garantir o pão em nossa casa era o pai. Hoje já
é não é só ele, mas ele e a mãe. Porém, em muitos casos, a responsável por nos
dar o pão de cada dia é a mãe, uma vez que mais da metade das famílias
brasileiras hoje é sustentada por uma mulher. Ali o pai está ausente tanto
física, como emocional e economicamente falando. Seja como for, hoje, neste dia
dos pais, queremos rezar pela pessoa que – repito – morreu ou tem morrido a
cada dia para se fazer pão para nós.
Depois
de ter saciado a multidão com os pães e os peixes, e de ter desafiado essa
mesma multidão a se esforçar não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento
que dura até a vida eterna, Jesus se descreve aos judeus como “o pão que desceu
do céu” (Jo 6,41), “o pão da vida” (Jo 6,48), “o pão vivo descido do céu” (Jo
6,51). De fato, sobre o altar da cruz, Jesus se ofereceu como “corpo dado” e
“sangue derramado”, alimento de vida eterna para todo aquele que crê, oferenda
esta antecipada na última Ceia.
Que
lugar tem a Eucaristia em sua vida? Com que frequência você comunga? Enquanto
uns passam meses ou anos sem receber a comunhão, outros comungam sempre, mas
nem sempre conscientemente. Você tem consciência de está recebendo
verdadeiramente Jesus Cristo ao comungar, ou a Eucaristia se tornou para você
um alimento insignificante, miserável, “nojento”, banal, como o maná para os
israelitas (cf. Nm 21,5)? “Levanta-te e come!”... Com a força desse alimento,
(Elias) andou... até chegar ao Horeb, o monte de Deus” (1Rs 19,7.8). Você está
convencido(a) de que somente com a força da Eucaristia é que você pode chegar
até Deus?
Depois que Jesus convidou a multidão a buscar o alimento
que dura até a vida eterna, ela começou a ir embora. Agora, são os judeus que
começam a ir embora. Como você se sente, ao perceber que as pessoas à sua volta
se tornam cada vez mais céticas, descrentes, algumas se declarando agnósticas
(Deus sim, religião não); outras, ateias (nem Deus, nem religião)? Por que você
ainda continua na Igreja?
Jesus não se sentiu diminuído como pessoa, nem fracassado
na sua missão, ao começar a ficar praticamente sozinho, porque ele tinha uma
convicção no seu coração: “Ninguém pode vir a mim (crer em mim) se o Pai que me
enviou não o atrai” (Jo 6,44). A fé não é apenas um esforço sério da nossa
parte em permanecermos com Jesus, mas sobretudo uma resposta nossa a um dom que
o Pai nos oferece: termos a vida eterna em Seu Filho Jesus Cristo. Só Deus
suscita a fé no coração do ser humano. Não adianta eu tentar “forçar” uma
pessoa a se abrir para a fé. Onde Deus não entra pela graça, é inútil eu tentar
entrar pela força.
Só o Pai pode nos atrair para Jesus. De que maneira? “Todo
aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído vem a mim” (Jo 6,45). Somente
quando escutamos o Pai, isto é, quando damos chance ou condições para o Pai
falar ao nosso coração é que nos sentimos fortemente atraídos para Jesus e para
a verdade do seu Evangelho. O que atrai hoje o coração das novas gerações, a
não ser a tecnologia? Que espaço as novas tecnologias oferecem para que as
pessoas hoje ouçam o Pai? Quem está disposto a ouvir a voz do Pai em sua consciência
ou em seu coração?
Terminemos essa reflexão considerando a figura do nosso
pai terreno. “Elias entrou deserto adentro... e pediu a morte para si” (1Rs
19,4). Um homem no deserto adentro pode ser um pai fechado em si mesmo,
isolado, desencorajado. Quantos pais, à semelhança de Elias, se sentem mortos, incapazes,
fracassados, ou como marido, ou como pai, ou como profissional? Em que deserto
se encontra seu pai, neste momento? Você poderia fazer-lhe companhia, ou
encorajá-lo a sair desse deserto de isolamento? Elias “adormeceu”, mas seu sono
não é só cansaço; é também fuga da realidade. Alguns pais fogem da realidade na
bebida; outros, no cigarro; outros, nas drogas; outros ainda, na internet. Muitíssimos
pais não se alimentam mais de Deus. O bar os atrai; o futebol os atrai; mas a
Igreja não os atrai...
Não caberia a cada um de nós assumirmos diante dos pais o
papel do anjo que convidou Elias a reagir ao seu desânimo? “Levanta-te e come!”
(1Rs 19,5.7). Levantar = reagir; comer = fortalecer-se. “Ainda tens um caminho
longo a percorrer” (1Rs 19,7). Podemos ajudar o pai a se dar conta de que a sua
vida não termina naquele cansaço, naquele desânimo, naquela crise, naquela queda...
A vida prossegue! Deus é mais, e a missão que Ele confiou a você, pai, ainda não
terminou! O pai não é só o provedor, aquele que se faz pão para a nossa
família. Ele também tem fome. Ele também precisa que nos façamos pão para
alimentá-lo com nossa ajuda, com nosso afeto, com nosso perdão, com nossa
presença, com nossa oração...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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