Missa
da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26;
João 13,1-15.
Assim afirma o salmista a respeito
de Deus: “Os vossos passos são fecundos; transborda a fartura onde passais,
brotam pastos no deserto” (Sl 65,12-13). Onde Deus põe os pés, ou seja, por
onde Deus passa, a miséria se converte em fartura, o deserto se transforma em
terra fértil, a morte é mudada em vida. Como entender, então, o fato de que a
passagem do Senhor pela terra do Egito tenha ferido de morte “todos os
primogênitos, desde os homens até os animais” (Ex 12,12), conforme ouvimos na
narrativa da Páscoa do Antigo Testamento? Ao passar pela terra do Egito, o
Senhor Deus fez justiça ao seu povo, libertando-o do poder opressor do Faraó.
A
praga exterminadora atingiu quase todas as famílias, com exceção daquelas em
que havia o sangue do cordeiro assinalado na porta da casa. Hoje, quais são as
pragas exterminadoras que estão atingindo as famílias? A porta da nossa casa
está aberta a qual tipo de praga exterminadora? Temos nos preocupado em
assinalar a porta da nossa casa com o sangue do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo?
O sangue de Jesus significa o seu amor por nós e por nossa família: “tendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Em nossa
casa, nos esforçamos por nos amar uns aos outros como Jesus nos ama, até o fim?
Nesta
noite da Ceia do Senhor, nós não só recordamos a Páscoa do Antigo Testamento
como também nos preparamos para celebrar a Páscoa do Novo Testamento,
contemplando a atitude de Jesus quando chegou “a sua hora de passar deste mundo
para o Pai” (Jo 13,1). Assim como os discípulos, nos assentamos à mesa da
Eucaristia recordando as palavras do apóstolo Paulo: “Na noite em que foi
entregue, o Senhor Jesus tomou o pão... Do mesmo modo, depois da ceia, tomou
também o cálice...” (1Cor 11,23.25). Antes de ser entregue por Judas (cf. Jo
13,11), Jesus tomou a iniciativa de ele mesmo se entregar a nós, no pão e no
vinho, para que todas as vezes que comermos desse pão e bebermos desse cálice possamos
proclamar que ele morreu porque nos amou até o fim. Uma vez que sua morte foi uma
Páscoa, a passagem dele deste mundo para o Pai, em cada Eucaristia proclamamos
a morte e a ressurreição de Jesus “até que ele venha” (1Cor 11,26) para nos fazer
assentar com ele à mesa do banquete no Reino de Deus.
Você
tem ocupado o seu lugar nesta mesa? Existe alguma “condição” para que você
possa comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor? Segundo o próprio Jesus, a
condição mais necessária é a fé: “Em verdade vos digo que, em Israel, não achei
ninguém que tivesse tal fé. Mas eu vos digo que virão muitos do oriente e do
ocidente e se assentarão à mesa do Reino dos Céus... enquanto os filhos do
Reino serão postos para fora...” (Mt 8,10-12). Muitos que não comungam em
nossas missas poderão ser os primeiros a se assentarem à mesa do Reino dos
Céus, porque têm uma vivência mais próxima do Evangelho, enquanto nós, que
comungamos, poderemos ser postos para fora, na medida em que nossa vivência não
é tão coerente com o Evangelho.
Hoje, em nossas igrejas, não são poucas
as pessoas que não comungam. Isso nos preocupa? O apóstolo Paulo afirma que a
decisão de comungar ou não deve partir da consciência da pessoa (cf. 1Cor
11,28-29). A nós, Igreja, cabe formar bem a consciência das pessoas quanto ao
significado do Corpo e do Sangue do Senhor. São corajosas e questionadoras essas
palavras do Papa Francisco: “A
Eucaristia... não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um
alimento para os fracos” (A Alegria do Evangelho, n.47). Na última ceia,
Jesus se entregou como “remédio generoso” e como “alimento para os fracos”
também a Judas e a Pedro, mesmo sabendo que, após a ceia, o primeiro iria
traí-lo e o segundo iria negá-lo...
“(...) vós estais limpos, mas não
todos” (Jo 13,10). Se há algo que deve nos afastar da mesa da Eucaristia é a
nossa atitude de não querer seguir o exemplo que Jesus nos deu: “Se eu, o
Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos
outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo
13,14-15). Muitos de nós comungamos, mas muitos de nós não estamos nem um pouco
dispostos a lavar os pés uns dos outros. Comungamos o Corpo e Sangue daquele
que veio para servir, mas não nos dispomos a assumir nenhum tipo de serviço em
favor do Evangelho e do bem comum da sociedade.
O
mesmo Jesus, que nesta noite abraça a sua hora de passar deste mundo para o Pai
nos amando até o fim, “passou por este mundo fazendo o bem” (At 10,38). Que a
nossa comunhão com o Corpo e o Sangue do Cordeiro torne os nossos passos
fecundos, para ajudarmos a transformar o deserto num jardim, a morte em vida. Que
possamos passar por este mundo fazendo o bem, ajudando a marcar a porta da casa
de cada família com o Sangue do Cordeiro de Deus, para que nenhuma pessoa seja
atingida pela praga exterminadora do pecado pessoal e social.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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