Missa
do 4º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 18,15-20; 1Coríntios 7,32-35;
Marcos 1,21-28.
Um dos
filmes mais sérios a respeito da possessão demoníaca de uma pessoa é “O exorcismo
de Emily Rose” (2005). A narrativa, baseada em fatos reais, procura responder a
uma pergunta: Por que Deus permitiria que
uma pessoa fosse possuída pelo espírito maligno? E a resposta é: Para que o mundo não duvide da existência do
mal. De fato, Emily Rose tem a opção de parar de sofrer e partir para o
céu, mas ela escolhe ficar e sofrer até o fim os ataques do maligno em seu
corpo, para que as outras pessoas se convençam de que o mal não é um personagem
fictício, mas algo real e destrutivo.
Onde
você pode encontrar o mau espírito hoje? Nos bailes funks? No tráfico de
drogas? No PCC? Na Polícia? Nas Milícias? Nas favelas? No centro? Na periferia?
Nos investidores estrangeiros? Nas empresas multinacionais? No Governo? Na oposição?
Em Brasília? No mundo? Nas igrejas? O Evangelho que acabamos de ler/ouvir nos
mostra que o mau espírito sempre nos surpreende: ele pode ser encontrado onde
menos imaginamos – numa sinagoga, numa igreja, num templo, numa casa de Deus! Na
verdade, o mau espírito pode ser encontrado onde se encontra o ser humano, quem
quer que seja ele: rico ou pobre; sábio ou ignorante; crente, agnóstico ou
ateu.
A cena
do Evangelho nos revela que o mal pode se esconder no coração de toda e
qualquer pessoa, mas há uma “coisa” que o faz sair do seu esconderijo: a Palavra
de Deus. O evangelista Marcos afirma que Jesus, na sinagoga de Cafarnaum,
ensinava a Palavra de Deus, e o fazia com autoridade (cf. Mc 1,22). De onde
vinha a autoridade de Jesus? Da sua obediência ao Pai, da sua conformação à
vontade (Palavra) do Pai. A autoridade de um pregador não é garantida pelo anel
que ele usa no dedo, nem pela cadeira ou pela cátedra na qual ele se assenta,
nem pelos paramentos que ele veste, nem pela impostação da sua voz, nem pela
sabedoria humana das suas palavras. Um
pregador só fala com autoridade quando ele mesmo se submete à Palavra que está
anunciando aos outros, ou seja, quando ele é o primeiro a se esforçar por viver
aquilo que está ensinando aos demais.
A
Palavra de Deus revela como está o coração de quem a anuncia e de quem a
escuta. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos convida a ter um coração não
dividido, ou seja, um coração que saiba permanecer diante do Senhor sem
distrações, nem preocupações. A Escritura nos ensina que o nosso Deus é “Um”, o
único Senhor (cf. Dt 6,4), ao passo que a palavra Diabo significa “aquele que
divide”. Um coração unido a Deus é um coração unificado, integrado,
harmonizado, pacificado, o que se traduz por saúde física, mental e espiritual.
Por outro lado, quem se deixa arrastar pela sedução do diabo experimenta dentro
de si divisão, desintegração, desarmonia, inquietação, tornando-se doente
física, psicológica e espiritualmente.
Este
homem possuído pelo mau espírito nos questiona: Quem ou o quê me possui? Quem ou
o quê eu permito que tome posse de mim? O mato sempre toma conta de um terreno
abandonado, mas nunca de um terreno cultivado. O que eu cultivo em mim: União
ou divisão? Verdade ou mentira? Coerência ou incoerência? Diante do ensinamento
de Jesus, o mau espírito grita. Seu grito é o grito de um fracassado, de um
derrotado, de quem sabe que não pode nada contra Jesus. Mas o seu grito também é
uma forma de querer nos impedir de ouvir a palavra de autoridade de Jesus.
O grito
do mau espírito se traduz em palavras: “Viste para nos destruir?” (Mc 1,24). Sim!
Jesus veio para destruir o mal, mas não para destruir quem está possuído pelo mal.
Duas coisas precisam ser consideradas neste grito do maligno: 1) O grito do mau
espírito é sempre uma tentativa de nos intimidar: ‘Não se aproxime de mim,
porque eu te destruo!’ ‘Não tente me expulsar de você porque eu te machuco mais
ainda!’; 2) O grito do mau espírito afirma saber quem somos. Ele diz a Jesus: “Eu
sei quem tu és: tu és o santo de Deus” (Mc 1,24). Jesus é Santo porque separado
do mau; Santo porque decidiu pertencer somente a Deus. Por isso, o mau espírito
nunca encontrou lugar para se alojar dentro de Jesus. Mas nós somos santos e
pecadores. O mau espírito conhece o ponto fraco de cada um de nós e é ali que
ele nos visita e nos tenta. É ali que ele nos acusa de sempre fracassarmos em
nossa busca de santidade, de coerência e de obediência à vontade do Pai.
Diante
dos gritos do mau espírito, Jesus fala firme: “Cala-te e sai dele!” (Mc 1,25).
A voz do mau espírito se cala dentro de nós na medida em que escolhemos ouvir a
voz de Jesus: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: ‘Não fecheis o vosso coração...’”
(Sl 95,7-8). Dizer ao mau espírito: “Cale-se!” significa não dar ouvidos ao que
ele nos diz, ao que ele nos sugere fazer. Porém, o mau espírito não aceita nos
deixar facilmente. Ele resiste, nos machuca e a nossa libertação dele só se dá
com muita determinação, luta e perseverança. “Então o espírito mau sacudiu o
homem com violência, deu um grande grito e saiu” (Mc 1,26).
Quem
estava na sinagoga exclamou, a respeito de Jesus: “ele manda até nos espíritos
maus, e eles obedecem!” (Mc 1,27). Jesus tem poder sobre os espíritos maus
porque vive debaixo do poder do Pai. O mal nunca consegue dominar quem se
coloca diariamente sob o domínio de Deus. Os espíritos maus obedecem Jesus
porque Ele obedece o Pai. Quem não vive na obediência a Deus não tem força
contra o mal.
Examinemos
o terreno do nosso coração: só é possível ser curado quem se reconhece doente.
Não tenhamos medo de reconhecer o mal que também habita em nós. Não caiamos na
tentação ilusória de eliminá-lo de nossa vida de uma vez por todas (fanatismo).
Além disso, rezemos pelas pessoas que estão optando pelo mal (seitas satânicas,
por exemplo), justificando que ‘o mal responde rápido; Deus demora’. Não
tenhamos medo de nos colocar diariamente diante da Palavra de Deus, cuja
verdade sempre faz a nossa mentira vir à tona. Lembremos do que disse Santo
Agostinho: “A palavra de Deus é o inimigo da tua vontade, até tornar-se originador
da tua salvação. Então, a palavra de Deus também estará em harmonia contigo”.
Para a
sua oração pessoal: Pelo poder da Tua
palavra (Diego Fernandes)