Missa
do 2º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Samuel 3,3b-10.19; 1Coríntios 6,13c-15a.17-20;
João 1,35-42.
Dizem que os momentos mais delicados
para os pilotos de avião são basicamente dois: quando o avião decola e quando ele
aterriza. Nesses momentos, tudo praticamente depende dos pilotos. Depois que o
avião está no ar, seguindo a sua rota, ele normalmente é colocado no “piloto
automático”, e então piloto e co-piloto ficam relativamente tranquilos, quase
que apenas observando os equipamentos, enquanto que o avião segue por si mesmo
a rota.
Nós também gostaríamos que a vida
fosse assim, que funcionasse no piloto automático, que não precisássemos ser
questionados se estamos ou não no rumo certo, se devemos ou não fazer
reajustes, revisão de metas ou mudança de rota. Aliás, o que nós mais
costumamos fazer, sem nos dar conta, é funcionar no piloto automático: fazemos
tudo quase que mecanicamente. É a rotina nossa de cada dia...
De repente, Jesus aparece no Evangelho
de hoje e nos faz uma pergunta: “O que vocês estão procurando?” (Jo 1,38). Essa
pergunta pode se desdobrar em várias outras: O que você procura? Aonde você quer ir com a sua vida? O que é que
realmente queremos? Vale a pena fazer o que estamos fazendo? Nosso caminhar está
nos conduzindo efetivamente a algum lugar? A pergunta de Jesus nos obriga a
sair do piloto automático e a entender que a direção da nossa vida não está
predeterminada, mas ela depende exatamente do que nós estamos procurando. O que
eu procuro orienta a direção que dou à minha vida. Se eu não busco nada, não
chego a lugar nenhum.
Santo Agostinho dizia: “Senhor, o nosso
coração foi feito para vós, e só achará descanso em vós”. Isso significa que se
a direção que temos dado à nossa vida não estiver nos levando para Deus, estamos
correndo o risco de falhar em nossa existência, de trair a nossa vocação e de nos
afastar da nossa verdade mais profunda. Sim. Talvez você se pergunte: “Mas,
qual é a minha vocação?” Você descobre qual é a sua verdadeira vocação quando aquilo
que você faz te realiza de tal forma que você reconhece: “Eu nasci para isso!
Eu vim ao mundo para isso! É aqui que está a minha verdade, a minha essência
como pessoa!”
Diante da pergunta de Jesus, os discípulos
responderam: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38). Querer saber onde Jesus mora
significa não se contentar em escutar o que os outros dizem d’Ele, mas em
querer ter uma experiência pessoal de encontro com Ele. Aqueles discípulos quiseram
ficar com Jesus porque sentiram que Ele podia lhes ensinar algo que ainda não
conheciam; eles sabiam que Jesus poderia ajudá-los a viver a vida de uma
maneira mais profunda, uma vida que enchesse o coração deles de sentido.
Todos nós preferimos respostas, não
perguntas. No entanto, são as perguntas que nos fazem caminhar; são elas que
nos desacomodam e nos tiram da nossa zona de conforto; são elas que podem trazer
a cura para a nossa doença e libertação para aquilo que nos aprisiona. O que
você tem procurado com a sua vida? O que você procura com a forma como lida com
seu corpo, com sua afetividade e com sua sexualidade? (ver 2ª. leitura). O que
você procura quando bebe, quando se droga, quando trai? O que você procura no
consumismo, no exibicionismo, no narcisismo, naquilo que você posta no seu Face? O que você procura quando vai – ou
deixar de ir – a uma igreja? O que você procura entre os seus contatos no watts zap?
Não tenha medo de ficar diante dessa
pergunta. Não tenha medo de permitir que ela permaneça dentro de você: “O que
eu estou procurando?” Mas também não tenha medo de saber onde Jesus mora. Não
se surpreenda se você descobrir que Ele mora nas pessoas e nas situações às
quais você vive evitando e pagando para não se confrontar. Não se surpreenda se
descobrir que Jesus mora naquele lugar dentro de você onde você detesta ir,
aquele lugar do qual você vive fugindo, porque te parece assustador e ameaçador.
Quanto mais você se aproximar do lugar onde Jesus mora dentro de você e mais
tiver a coragem de permanecer ali, maior será a sua chance de cura e de
libertação.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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