quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

MERGULHAR POR INTEIRO NA FONTE DE ÁGUA VIVA

                Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7;       
                Atos dos Apóstolos 10,34-38; Marcos 1,7-11.

       Uma das imagens que a Bíblia usa para nos falar de Deus é “fonte de água viva” (Jr 2,13). Aproximar-se dessa fonte é viver; afastar-se dela é morrer. Ao falar para nós sobre o batismo de Jesus, a liturgia de hoje quer nos fazer refletir: de qual fonte eu tenho bebido? Além disso, “batismo” significa “mergulho”: onde estou mergulhado(a) neste momento? Ouvimos dizer que tal país mergulhou na recessão, tal empresa está mergulhada em dívidas, tal pessoa está mergulhada na depressão ou nas drogas, tal relacionamento está mergulhado numa crise, tal cidade está mergulhada na violência, tal governo está mergulhado na corrupção etc.
          Se Deus é fonte de água viva, como é o seu relacionamento com Ele? Você mergulha de cabeça nas águas dessa fonte, ou apenas coloca a ponta dos pés? Quando entra no rio de água viva que é Deus, você se solta, flutua nele e deixa a correnteza te levar mansamente, ou começa a nadar desesperadamente contra a corrente, tornando esse mergulho uma experiência por demais cansativa e desgastante?
           Se você quiser de fato mergulhar na fonte de água viva, terá que olhar com coragem para dentro de si mesmo(a), e estar disposto(a) a romper aquela camada de concreto que você mesmo(a) construiu ao longo da vida para manter-se separado(a) da fonte de água viva, por medo que ela o(a) afogasse. Você terá que confiar que o mergulho não é para te afogar, mas para ajudá-lo(a) a aprofundar a sua comunhão com Deus e com o seu Espírito.
          Sim. O mergulho na fonte de água viva é um mergulho no Espírito de Deus; é um deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus (cf. Rm 8,14): “Coloquei meu espírito sobre ele” (Is 42,1). Quando o Espírito de Deus está sobre nós, ou seja, quando nos submetemos a Ele, há uma mudança em nosso comportamento: não gritamos, não fazemos estardalhaço, não agredimos as pessoas com palavras. Pessoas que gritam, que falam alto e que agridem os outros com palavras são pessoas perturbadas interiormente, pessoas que inconscientemente estão pedindo socorro.
           Além disso, quando nos deixamos conduzir pelo Espírito de Deus não quebramos a cana que já está rachada, nem apagamos o pavio que está quase por apagar-se, porque o Espírito nos faz acreditar no bem que pode ser recuperado, que ainda existe dentro de nós e de cada ser humano. O Espírito nos ensina a não violentar a natureza humana, mas a entender que a graça de Deus sempre leva em conta a nossa natureza, com as suas imperfeições e também com a sua capacidade de crescer e de se transformar. Enfim, o Espírito de Deus nos torna pacientes, misericordiosos e otimistas, seja em relação a nós mesmos, seja em relação aos outros; Ele nos encoraja e nos anima diante das adversidades.
          “Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua voz sobre as águas imensas” (Sl 29,3). Segundo Jung, a água simboliza o nosso inconsciente. Nele estão guardados os nossos opostos: a nossa dor e a nossa delícia, o nosso medo e a nossa coragem, o nosso lado ruim e o nosso lado bom, o nosso lobo e o nosso cordeiro: ambos precisam ouvir a voz de Deus, ambos precisam se deixar conduzir pelo Espírito de Deus, ambos precisam aprender a conviver juntos, porque ambos contém uma parte da nossa verdade.
          O batismo que recebemos, o mergulho na fonte de água viva que é Deus, não existe em função de nós mesmos, como se fosse um sacramento exclusivamente de autoajuda. Ele é um sacramento “para”: “Eu, o Senhor, te chamei... eu te formei e te constituí como... luz das nações..., para abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,6.7). Da mesma forma como aconteceu com Jesus, o batismo que recebemos nos unge com o Espírito Santo e com poder a fim de que possamos andar por toda a parte fazendo o bem, restaurando a verdade e a justiça no seio da sociedade humana.  
         No momento do batismo de Jesus, o céu se abriu e do céu veio uma voz: “Tu és o meu filho amado, em ti ponho meu benquerer” (Mc 1,11). Quantas pessoas à nossa volta sentem o céu fechado sobre elas? Quantas ignoram a presença do Espírito Santo dentro delas? Quantas não se sabem amadas por Deus como filhas? Quantas permanecem à beira da fonte de água viva, mas impedidas de mergulhar por causa das normas que criamos, mais para favorecer tradições humanas do que para conscientizá-las a respeito do que esse mergulho significa para a vida do dia a dia? Quantas desistiram de se aproximar dessa fonte graças a nós, que lhes fechamos a porta? Mas também quantas ainda hoje mergulham na fonte de água viva, mas nada absorvem dela, porque são como um copo cheio, onde nada mais pode ser colocado?
           Peçamos ao Senhor que nos leve às águas profundas e avive de novo o Espírito que recebemos em nosso batismo. Que nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo, vivendo a partir de dentro, a partir de Deus, a partir da profundeza da verdade e da justiça, e não a partir da superficialidade do mundo. Além disso, assumamos a atitude concreta de não desperdiçar água...  
           
Para a sua oração pessoal:
ÁGUAS PROFUNDAS (Tony Allysson)
https://www.youtube.com/watch?v=M3yxz8wFJTM

                                                                 Pe. Paulo Cezar Mazzi

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