Missa
da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus
2,1-12.
Normalmente nós não gostamos da
escuridão. Além de causar medo em muitos de nós, como se escondesse uma ameaça
dentro de si, a escuridão pode ser tão grande que nos impede de caminhar. É
quando somos obrigados a parar, até que uma luz se acenda e nos mostre a
direção que devemos seguir. Tanto os psicólogos, quanto os orientadores
espirituais, nos ensinam que numa experiência de escuridão não se deve tomar decisão.
É preciso esperar, suportar a escuridão, até que tenhamos luz interior
suficiente para saber qual decisão tomar na vida.
A escuridão pode surgir em vários
aspectos da nossa vida: emocional, espiritual, profissional etc. O que nos
ajuda a lidar com ela é a nossa entrega e a nossa confiança em Deus: “O Senhor
é minha luz e minha salvação” (Sl 27,1); “Enviai vossa luz, vossa verdade: elas
serão o meu guia” (Sl 43,3). Além disso, a experiência da escuridão pode se
tornar o momento privilegiado do encontro com Deus e com a sua luz: “Levante-se,
acenda as luzes, porque a sua luz chegou, a glória do Senhor brilha sobre você”
(Is 60,1), palavras ditas a Jerusalém, uma cidade que precisava se levantar das
suas ruínas e se reconstruir. Não há noite que dure para sempre, e mesmo quando
anoitece em nossa vida, Deus acende as estrelas. Exemplo concreto: quando
muitos teólogos diziam que a humanidade – e particularmente a Igreja – estava vivendo
um “eclipse” de Deus, surge o Papa Francisco, que insistentemente tem nos
convidado a nos levantar e a levar a luz da alegria do Evangelho para os que
vivem na escuridão das periferias da vida.
Assim como uma estrela guiou os magos
até Jesus, assim Deus nos chama a ser uma luz para os que vivem na escuridão. Se
existe hoje um certo eclipse de Deus, um certo apagamento da Sua presença no
meio do mundo, esse apagamento também se deve ao esfriamento da nossa fé, na
medida em que vamos permitindo que o mundo deforme a nossa consciência e reduza
a nossa fé a um querer ficar constantemente acomodados sob a luz de Deus, sem
no entanto nos dispor a comunicá-la aos que estão na escuridão.
“A estrela que tinham visto no Oriente
ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de
novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,9-10). A
procura dos magos por Jesus foi marcada pela determinação. Temos essa determinação
em nossa procura por Deus? Temos determinação em continuar a ser um sinal que
conduz as pessoas para Deus, ou estamos decididos a abandonar esse ideal porque
o preço a pagar é muito alto e parece valer mais a pena aderir à escuridão que
se encontra à nossa volta?
Esta
cena dos magos ajoelhados diante de Jesus também é questionadora: diante de
quem ou do quê estamos ajoelhados? Os filhos veem seus pais ajoelhados diante
do quê ou de quem hoje em dia? Seus joelhos ainda se dobram diante de Deus? Com
que frequência? Nós nunca estamos tão perto de Deus quando nos ajoelhamos,
embora esse ajoelhar-se também deve ser acompanhado de uma submissão interna do
coração a Deus, um dobrar-se diante da Sua vontade. Quem diariamente dobra seus
joelhos diante de Deus encontra forças para não se dobrar diante das
dificuldades e desafios da vida.
Ajoelhados diante de Jesus, os magos “o adoraram”.
As palavras de João Batista podem nos ajudar a entender o que significa ADORAR:
“É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). A adoração é verdadeira
na medida em que Deus cresce e o nosso ego diminui. Mas hoje as coisas se
inverteram. Os altares, os púlpitos e as igrejas eletrônicas se tornaram o
lugar onde o EU do pregador cresce e o DEUS a ser anunciado diminui. Com o
passar do tempo, a figura do pregador se desgasta, seu “ibope” cai, uma boa
parte dos seus fãs migra para outro “ídolo” e o lugar que Deus deveria ocupar
no seu coração é tomado pelo vazio e pela depressão. Fica a pergunta para cada
um de nós: como adorar a Deus numa época em que estamos adoecidos pelo
narcisismo, ajoelhados diante da nossa própria imagem, e Deus é buscado apenas
como uma luz para que nossa imagem brilhe e seja vista pelos outros?
Ao final da adoração, os magos “abriram
seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). Quando
nossa adoração a Deus é verdadeira, brota do nosso coração o sincero desejo de
dar a Deus o nosso melhor; é quando abandonamos a condição confortável de
consumidores da comunidade e abraçamos a nossa verdadeira vocação de
construtores da comunidade; é quando, mesmo na dor, representada pela mirra, somos
capazes de sacrificar a Deus aquilo que mais amamos (cf. Gn 22,2), para que a
Sua luz brilhe ainda mais em nós e possa chegar aos outros, apesar da nossa
fraqueza e da nossa imperfeição humana.
ADORAR (Filhos do Homem)
http://letras.mus.br/filhos-do-homem/1372483/
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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