sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O CAMINHO EXISTE, MAS PRECISA SER DESOBSTRUÍDO

Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 40,1-5.9-11; 2Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8.

            Quantas vezes você já se encontrou numa rua sem saída? Quantas vezes, no labirinto da vida, você pensou que havia achado a saída, mas se deparou com uma nova parede? Talvez você tenha desistido de caminhar, porque chegou à conclusão de que não existe saída ou possibilidade de mudança, não existe mais caminho a ser percorrido. No entanto, neste segundo domingo do advento, a Palavra do Senhor afirma que existe um caminho para a cura e para a libertação; um caminho para o reencontro e para a restauração; um caminho para a mudança e para a transformação. Existe um caminho pelo qual Deus pode vir a nós, mas este caminho deve ser preparado por nós.
            “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada do nosso Deus. Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas” (Is 40,3-4a). Deserto e solidão são situações onde temos que nos deparar conosco mesmos, reconhecendo que o mal e a perversão também moram em nós. Deserto e solidão são situações onde não podemos fugir de nós mesmos, daquela verdade que à primeira vista parece insuportável, mas que temos que aceitar que é a nossa verdade. Deserto e solidão representam tudo aquilo com o qual eu devo lidar, eu e não outra pessoa.
            Para uma geração como a nossa, que tem se habituado não tanto a buscar Deus, mas apenas as consolações de Deus, Isaías nos lembra que a consolação só é alcançada depois do confronto com a desolação. O nosso encontro com Deus só se dá quando temos a coragem de descer ao porão da nossa casa interior, visitar o deserto da nossa desolação e suportar o medo, o vazio e a dor da nossa solidão. Por quê? Porque a nossa ferida é profunda, e não há outra forma de Deus curá-la, a não ser fazendo uma intervenção “agressiva”, dolorosa, em nós.  
Isaías nos propõe lançar um olhar realista para a estrada da nossa vida. Quantos vales foram abertos e quantos montes foram erguidos nela? Vales são buracos que foram se abrindo e se tornando profundos em nossa vida porque, nos nossos relacionamentos, só retiramos, consumimos, usufruímos e não tivemos o cuidado de repor, de preservar, de revitalizar a relação. Quantos vales hoje separam marido e mulher, pais e filhos, nós e o próximo, nós e Deus? Já os montes são tudo aquilo que pedia para ser enfrentado, mas nós deixamos que se acumulasse dentro de nós – raiva, ódio, ira, mágoa, ressentimento, sede de justiça etc. – e tudo isso acabou por formar um monte que não apenas nos separa do outro, mas nos impede inclusive de vê-lo.  
Para que haja um verdadeiro encontro entre o Senhor e nós, é necessário pôr em ordem a própria vida, endireitando o que está torto e alisando o que está áspero (cf. Is 40,4b). Alguém nasce torto? Alguém nasce áspero? Não. Nós podemos nos tornar tortos ou ásperos pela forma como lidamos com os acontecimentos que marcaram a nossa história de vida. A tortuosidade começa a surgir quando abandonamos a orientação da Palavra de Deus, quando desistimos de pagar o preço da fidelidade e decidimos deixar a vida nos levar para onde ela quiser. A aspereza, por sua vez, é a consequência do fato de termos nos recusado a nos deixar conduzir pelo Espírito de Deus e passado a nos deixar arrastar pela vontade cega do nosso próprio ego, que nos embrutece.  
João Batista foi enviado por Deus como mensageiro, para preparar a humanidade para a primeira vinda de Jesus. Ouvindo João, as pessoas confessavam os seus pecados e eram batizadas. Mas o próprio João disse que Jesus viria realizar não mais um batismo com água, mas o batismo como o Espírito Santo. Se a água pode apenas nos lavar de uma sujeira exterior, o fogo do Espírito tem o poder de penetrar nas profundezas do coração humano e purificá-lo a partir de dentro (cf. Ml 3,1-3). A imagem deste fogo foi mencionada por Pedro ao falar da segunda vinda de Cristo: “(...) os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2Pd 3,10).
Todas as estruturas injustas que produzem opressão, sofrimento, humilhação e morte serão consumidas pelo fogo do julgamento de Deus, realizado na pessoa de seu Filho Jesus, que vem para cumprir a promessa do Pai de criar “novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Por isso, a cada um de nós é dirigido este apelo: não abandonar a esperança na promessa de Deus; se ela ainda não se cumpriu é porque Deus está usando de paciência, pois ele não deseja que alguém se perca, mas quer que todos venham a se converter (cf. 2Pd 3,9). O importante é manter o nosso esforço diário em voltar para o Senhor o nosso coração, esforçando-nos por viver uma vida santa, piedosa, pura e pacífica. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi


Nenhum comentário:

Postar um comentário