Missa
do 4º. dom. do advento – Palavra de Deus: 2Samuel 7,1-5.8b-12.14a.16; Romanos
16,25-27; Lucas 1,26-38.
No último dia 16, nove integrantes do
Talibã, movimento fundamentalista islâmico, entraram numa escola do Paquistão
administrada pelo Exército e mataram 132 crianças e adolescentes. O porta-voz
do Talibã justificou o ataque, dizendo: “Queremos que eles (os pais) sintam a nossa
dor”. Nós não precisamos visitar o Oriente Médio para nos dar conta do quanto o
ser humano tem se desumanizado, seja por causa das injustiças sociais, da luta
pelo poder ou do fanatismo religioso. Aqui mesmo no Brasil, devido à violência,
à injustiça, à impunidade e à corrupção, é cada vez maior o número de pessoas que
dizem não acreditar mais no ser humano.
Embora a própria Escritura afirme que
Deus também chegou ao ponto de ter se arrependido de criar o ser humano (cf. Gn
6,6), porque “viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era
continuamente mau todo projeto de seu coração” (Gn 6,5), o Evangelho deste 4º.
domingo do advento narra o momento na história da salvação em que Deus decide
enviar seu Filho ao mundo, permitindo que Ele se fizesse pessoa humana no seio
de Maria. Se por estar ferido e querer se vingar o ser humano quer que o seu
semelhante sinta a sua dor, Deus escolheu se fazer humano por dois motivos:
primeiro, para mostrar que Ele veio redimir o ser humano da sua dor; segundo, porque
Ele quis assumir em Si mesmo a dor de cada ser humano. Decidindo gerar seu
Filho no ventre de Maria, Deus revela que nunca desistirá do ser humano, quem
quer que seja ele.
“O anjo Gabriel foi enviado por Deus...
a uma virgem” (Lc 1,26). A iniciativa de salvar a humanidade é sempre de Deus,
e o caminho que Ele escolhe para realizar a salvação é sempre surpreendente:
uma virgem se tornará mãe, sem ter tido relação com um homem. A ausência do
homem é proposital: Deus quer deixar claro que a obra é d’Ele e não nossa. Por
isso, logo que assumiu seu ministério, o Papa Francisco disse que nós
precisamos nos deixar surpreender por Deus. Ele entra em nosso cotidiano, como
entrou no de Maria, e sua proposta provoca uma reviravolta em nossa vida, em
nossos planos humanos, limitados pela visão estreita que temos de nós mesmos e
da vida.
Diante da perturbação de Maria com essa visita
inesperada de Deus em sua vida, o anjo lhe diz: “Não tenhas medo, Maria, porque
encontraste graça diante de Deus” (Lc 1,30). O medo tem tomado cada vez mais
conta do nosso coração. O termômetro do medo se chama ansiedade, uma ansiedade
que surge em nós sempre que, consciente ou inconscientemente, nos sentimos
ameaçados por algum perigo, real ou imaginário. Sentimos medo do ser humano,
medo do mundo em que vivemos, medo do futuro, medo de fracassarmos, de não
darmos conta da vida. Mas o Evangelho diz que Deus está conosco, que Ele
acredita em nós, que Ele não desistiu da humanidade, mas quer salvá-la a partir
da nossa abertura à Sua graça.
“Eis que conceberás e darás à luz um
filho...” (Lc 1,31). Apesar da ideologia do aborto, a qual afirma que cabe à
mulher decidir sobre o seu corpo – como se o filho que ela está gerando fosse
um órgão do seu corpo e não uma vida, uma pessoa; apesar da esterilidade;
apesar de tantos filhos desejados, mas nunca gerados e de tantos filhos
gerados, mas não desejados; apesar do medo de se gerar filhos num mundo como o
nosso; apesar de todos os entraves físicos, psicológicos ou emocionais que
estancam a vida dentro de nós, Deus acredita em nossa fecundidade; Ele sabe que
somos capazes de ir além, de transcender o momento presente e de nos tornar
grávidos de um futuro que ainda não se pode ver, mas que se deve esperar.
“O Espírito Santo virá sobre ti, e o
poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). Quanto mais nos sentimos
cobertos pela sombra do terrorismo, da violência, da injustiça e da maldade dos
homens, mais precisamos nos refugiar em Deus, como faz o salmista: “Piedade de
mim, ó Deus, tem piedade de mim, pois eu me abrigo em ti; eu me abrigo à sombra
de tuas asas, até que passe o perigo” (Sl 57,2). O Espírito Santo é espírito de
força, de fecundidade, de luz, de alegria, de vida. Ele nos faz experimentar
que, verdadeiramente, “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Ele nos faz
cantar: Por que tenho medo, se nada é
impossível para ti? (3x) Por que ficar triste, se nada é impossível para ti?
(3x) Nada é impossível para ti! (2x) Porque duvidar, se nada é impossível para ti? (3x) Nada é impossível para ti! (2x) (Adriana,
Nada é impossível para ti).
Enfim, se a iniciativa é de Deus, a
resposta é nossa. E Maria responde: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Nós estamos aqui como servos do Senhor ou como pessoas
que querem se servir do Senhor? Quando ouvimos a sua Palavra, esperamos até
que ela se cumpra em nós? Permitimos que a Palavra se cumpra em nós? O Pai
poderia ter enviado seu Filho já adulto, mas escolheu este longo caminho da Encarnação:
a fecundação, a gestação, o parto etc., até que Jesus se tornasse adulto e
começasse o anúncio do Evangelho. Todo esse longo e demorado processo é um
questionamento para cada um de nós: Eu confio no tempo de Deus para mim? Deixo-me
surpreender por Ele? O que fala mais alto em mim: a crença de que a humanidade
não tem mais jeito ou a certeza de que Deus nunca desiste do ser humano?
Permito que o Espírito Santo me fecunde com a Sua graça? Aceito ficar debaixo
da Sua sombra o tempo que for necessário? Acolho a Palavra de Deus de modo a
esperar nela e a permitir que se realize em minha vida?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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