sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

MAIS PERTO DA SUA VERDADE, MAIS PERTO DA SUA ESSÊNCIA

Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28.

“Quem é você?... O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,19.22). As mesmas perguntas que os sacerdotes e levitas dirigiram a João Batista hoje são dirigidas a cada um de nós: ‘Quem é você?’ ‘Como você se vê?’ ‘O que você pensa de si mesmo(a)?’ Porém, considerando que nenhuma pessoa nasce pronta, mas vai se fazendo a cada dia, essas perguntas se desdobram em outras: ‘O que você tem se tornado?’ ‘Você se tornou a pessoa que gostaria de ser?’ ‘Você é feliz em ser quem é?’ ‘Você é a mesma pessoa dentro e fora de casa, dentro e fora da Igreja, quando está com os outros e quando está só?’.
Antes de João Batista ser questionado sobre a sua identidade, uma afirmação bíblica foi feita a respeito dele: “um homem enviado por Deus” (Jo 1,6). Esta afirmação diz que a nossa existência não é fruto do acaso. Você e eu existimos porque fomos enviados por Deus. Mas, enviados para quê? “Ele veio... para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele” (Jo 1,7). Cada um de nós é único e está no mundo para ser um sinal único que aponta para a luz, que é Cristo, para que as outras pessoas que convivem conosco possam se encontrar com a Verdade, que é o próprio Cristo, Verdade que liberta o ser humano das mentiras do mundo e do seu próprio autoengano: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).
Se, por acaso, neste momento você se pergunta: ‘Por que estou aqui, nesta casa, neste local de trabalho, nesta escola ou faculdade, nesta cidade etc.?’ lembre-se: é para que as pessoas que convivem com você possam chegar à fé, possam encontrar-se com a verdade de Cristo que liberta da mentira e do autoengano, e faz com que cada ser humano aproxime-se da sua verdadeira essência.
Antes de responder quem ele era, João precisou tomar consciência de quem ele não era: “Eu não sou o Messias” (Jo 1,20). Quantos de nós desconhecemos nossa própria essência, e nos vemos a partir dos olhos dos outros: dos pais, dos amigos, do pregador, da mídia etc.? Quantos têm uma imagem distorcida de si, ou no sentido de engrandecer-se, ou no sentido de diminuir-se? Quantos se definem a partir de um aspecto da vida, sem considerar o todo? Nós começamos a descobrir nossa verdadeira identidade quando começamos a ter coragem de questionar a ideia errada que temos de nós mesmos, ou que os outros sempre tiveram de nós: ‘Eu sou o que eu quero ser ou sou o que os outros querem que eu seja?’ ‘O que determina o rumo da minha vida é o meu passado ou as escolhas que eu faço no meu presente?’ ‘Eu sou doente ou estou doente?’ ‘Eu sou uma pessoa problemática ou estou com problemas, com os quais preciso lidar?’.
“O que você diz de si mesmo(a)?” A nossa cura, a nossa libertação, a nossa paz e a nossa alegria dependem da resposta a esta pergunta tão fundamental, pergunta que nos amedronta e diante da qual fazemos de tudo para não nos colocar... Mas esta pergunta quer apenas nos ajudar a dar passos na direção da nossa verdadeira essência. Talvez você se pergunte: ‘Qual é a minha essência?’ ‘Qual é a minha verdade?’ A resposta está aqui: quanto mais você se sente alegre e em paz com as suas atitudes e com as suas escolhas, mais você está próximo(a) da sua essência, da sua verdade.  
João entendeu qual era a sua essência, a sua verdade: “Eu sou a voz...”. Ser voz é ser canal para que a Palavra possa chegar aos ouvidos e ao coração dos que precisam ouvi-La. Jesus é, por excelência, o Enviado do Pai, o Ungido do Senhor, Aquele que veio trazer “a boa notícia aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos” (Is 61,1). Mas você e eu somos cristãos, ungidos pelo mesmo espírito de Cristo. Apesar das nossas imperfeições, precisamos fazer o que está ao nosso alcance para que as pessoas cheguem à fé por meio de nós (cf. Jo 1,7).
Terminemos esta reflexão considerando alguns apelos do apóstolo Paulo para nós: “Não apagueis o espírito!” (1Ts 5,19). O Espírito de Deus é o “Espírito da Verdade” (Jo 14,17; 15,26; 16,13). Não apagá-Lo significa não nos afastar da nossa verdade, por mais que nos custe permanecer nela. Não apagar o espírito significa também não esfriar em nossa vida de oração. “Examinai tudo e guardai o que for bom” (1Ts 5,21). A Verdade do Espírito deve ser o critério para nos guiar em nossas escolhas e decisões, a fim de nos mantermos fiéis à nossa essência. “Afastai-vos de toda espécie de maldade!” (1Ts 5,22), não apenas daquilo que é mal aos nossos olhos, mas sobretudo daquilo que é mal aos olhos de Deus. “(...) que tudo aquilo que sois – espírito, alma, corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (1Ts 5,23). Que todo o nosso ser permita-se ser curado, redimido e liberto pelo Espírito de Deus, a fim de irradiarmos a luz da sua Verdade aos que convivem conosco.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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