Missa
do Natal do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.
Uma frase do Evangelho resume para nós o
sentido de estarmos reunidos esta noite para celebrar o Natal: “Nasceu para vós
um salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Para quem não sente a
necessidade de um salvador, para quem não sente que precisa ser salvo, não há
porque celebrar o Natal. O Natal só tem sentido em ser celebrado por quem tem
consciência de que precisa de um Salvador.
Nós precisamos ser salvos: salvos do
nosso egoísmo e do nosso individualismo; salvos dos nossos medos, dos nossos
vícios e dos nossos pecados; salvos da nossa cegueira, dos nossos enganos, das
nossas mentiras; salvos das injustiças que cometemos contra o próximo e que
contribuem para a desumanização à nossa volta. Nossas famílias precisam ser
salvas: salvas do desemprego, das doenças, do distanciamento, dos
desentendimentos ou do esfriamento nos relacionamentos; salvas das agressões e
das brigas; salvas dos tormentos causados pela bebida e pelas drogas. A
humanidade precisa igualmente ser salva: salva do mercado desumano que tudo
reduz ao lucro; salva do terrorismo, da fome, das epidemias, das guerras etc.
“Nasceu para vós um salvador”. Jesus
nasceu como Salvador de todo ser humano. Isso está claro nas palavras do apóstolo
Paulo, ao nos afirmar nesta noite que “a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação
para todos os homens” (Tt 2,11), isto é, para todas as pessoas. Jesus nasceu
para todos porque o Pai ama e quer salvar a todos (cf. 1Tm 2,4). Mas o próprio
Evangelho desta noite, ao narrar o nascimento de Jesus, afirma que “não havia
lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Muitas pessoas não têm consciência da
salvação que é o próprio Jesus porque ainda não foram alcançadas pela luz e
pela alegria do seu Evangelho. Além disso, não é no coração de todos que Jesus
encontra lugar para nascer e se manifestar como Salvador.
Santo Agostinho disse: “Deus, que te
criou sem ti, não te salvará sem ti”. Se não há lugar em nossa vida para Jesus
nascer a cada dia, nunca O sentiremos como nosso verdadeiro e único Salvador. É
por isso que o apóstolo Paulo afirma que, a mesma graça de Deus, que veio
trazer a salvação para todos os homens, “nos ensina a abandonar a impiedade e
as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt
2,12). Abraçar a salvação que o Pai nos oferece na pessoa de seu Filho Jesus
implica em modificar aquilo que em nossa vida está em contradição com o
Evangelho, que “é força de Deus para a salvação para todo aquele que crê” (Rm
1,16).
“Para os que habitavam nas sombras da
morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Essas palavras do profeta Isaías,
escritas oito séculos antes de Jesus nascer, foram retomadas por Zacarias, pai
de João Batista, ao anunciar o nascimento de Jesus como “Sol nascente que nos
veio visitar, para iluminar os que se encontram nas trevas e na sombra da morte
estão sentados” (Lc 1,78-79). Nós não podemos celebrar o Natal ignorando tantas
pessoas à nossa volta que se encontram nas trevas e na sombra da morte: idosos
esquecidos por seus próprios familiares, inúmeros irmãos nossos que se
encontram desempregados, pessoas enfermas em suas casas ou nos hospitais,
adolescentes e jovens que se encontram debaixo da sombra das drogas, famílias
feridas pela separação ou pela violência do mundo moderno, inúmeras pessoas
massacradas pelo terrorismo etc.
Todo Natal traz consigo um apelo: para
que aqueles que se encontram nas trevas e na sombra da morte sejam visitados
pela luz de Cristo, para que as botas de tropa de assalto e os trajes manchados
de sangue sejam queimados e devorados pelas chamas (cf. Is 9,4), é preciso que
cada um de nós se torne portador da luz de Cristo, portador da chama do seu
amor pela humanidade, amor capaz amar até o fim, de curar toda e qualquer
ferida, de derrubar muros e construir pontes, de procurar e salvar o que estava
perdido; numa palavra, amor capaz de fazer passar da morte para a vida. Então,
todo ser humano saberá que nasceu para si um Salvador, que é o Cristo Senhor.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário