Missa
do 1º. dom. do advento. Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7; 1Coríntios 1,3-9; Marcos
13,33-37.
O tempo do
Advento, que iniciamos hoje, além de nos preparar para celebrarmos o nascimento
do nosso Salvador, Jesus Cristo, quer nos preparar para a sua segunda vinda,
pois a Escritura diz: Cristo “virá uma segunda vez... àqueles que o
esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). Por isso, o Advento se traduz por uma espera: esperar Aquele que vem. O problema é que nós desaprendemos esperar.
Quando temos de esperar, ficamos frustrados. Mas esperar tem a ver com
esperança. Nós esperamos no Senhor e pelo Senhor: “Esperamos n’Ele, até que nos
salvou” (Is 25,9). Por isso, se você já desistiu de esperar em Deus e por Deus,
desperte a sua esperança a partir desta declaração de fé do profeta Isaías:
“Nunca se ouviu dizer... que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que
nele esperam” (Is 64,3).
A atitude
da espera em Deus e por Deus foi descrita por Jesus no Evangelho usando a
imagem do porteiro. É o porteiro quem
deve abrir a porta para o dono da casa, assim que ele chegar. Além disso, na
ausência do dono da casa, é o porteiro quem decide quem ou o quê entra na casa.
A casa é um símbolo em aberto: ela pode significar nós mesmos, nosso corpo,
nossa consciência (pensamentos), nosso coração (sentimentos); ela pode
significar também nossa família, nosso local de trabalho, o meio ambiente etc. Uma
vez que você é o porteiro, cabe perguntar-se: ‘Para o quê eu
tenho fechado a porta da minha vida e precisaria abri-la? Para o quê eu tenho
aberto a porta da minha vida e precisaria fechá-la?’
A responsabilidade do porteiro é
vigiar a casa que está sob os seus cuidados. Vigiar supõe não dormir. Dormir,
por sua vez, significa anestesiar a consciência, acomodar-se, distrair-se, fechar-se
no próprio individualismo, não dar-se conta do perigo que ronda sua própria
vida, abandonar o caminho da justiça, da coerência, da fidelidade ao Evangelho
de Cristo. Dormir é fazer corpo mole quanto àquilo que diz respeito à sua
própria salvação.
O Deus em
quem esperamos e a quem aguardamos é, segundo o profeta Isaías, “nosso pai” e
“nosso redentor” (cf. Is 63,16b). A questão é: quem sente necessidade de um
pai? Quem sente necessidade de um redentor? Para quantas pessoas, a figura do
pai é desconhecida ou negativa? Quantos já se habituaram a viver a vida sem pai
e não sentem necessidade alguma de um? Para quê precisamos de um redentor?
Precisamos ser redimidos do quê? Muitos não esperam mais em Deus e por Ele
porque acharam melhor aprender a sobreviver sozinhos e a contar unicamente
consigo mesmos...
Já na sua
época, o profeta Isaías constatou: “Não há quem invoque teu nome (abandono da oração), quem se levante
para encontrar-se contigo (abandono da fé
– deixar de buscar a Deus)” (Is 64,8). Mas no coração de toda pessoa que sente a necessidade de um pai e de
um redentor, uma súplica não aceita ser abafada ou silenciada: “Ah! se
rompesses os céus e descesses!” (Is 63,19b.). O Advento nos desafia a redobrar
a nossa oração, a nossa busca por Deus, suplicando que os céus se abram e
derramem a presença de Deus e da sua salvação no mundo, em cada casa, em cada ambiente
de trabalho, no coração de cada ser humano, onde quer que haja guerra,
violência, injustiça, doença, dependência química, falta de entendimento,
desestruturação familiar, desemprego, fome, ideia de suicídio etc.
Deus
faz pelos que n’Ele esperam (cf. Is 64,3). Deixar de esperar em Deus
significa sair das Suas mãos, trancar a porta para que Ele não entre,
desconectar o nosso coração do Seu, desistir de ficar on line, no que diz respeito à nossa espiritualidade. Deus vem, nos lembra o profeta Isaías,
mas vem “ao encontro de quem pratica a justiça com alegria” (Is 64,4), de quem
assume uma postura justa perante toda e qualquer circunstância, e não apenas
quando está sendo visto, observado ou vigiado. Deus vem e se deixa encontrar
por quem caminha nos Seus caminhos, com o coração e a consciência voltados para
Ele.
Além de ser um tempo de espera, o Advento também é tempo de conversão,
no sentido de reconhecer e nos dispor a rever toda atitude nossa que não deixa
a vida se renovar em nós, à nossa volta e no mundo em que vivemos: “Nós
pecamos..., nos tornamos imundície..., murchamos como folhas, e nossas maldades
nos empurram como o vento” (Is 64,4b.5). Essa estranha sensação que temos de
que o nosso mundo (ou casa, local de trabalho, igreja, vida) é manipulado,
sacudido e jogado de um lado para outro por uma Mão invisível, que parece ter o prazer de nos jogar contra a
parede, como se fôssemos uma bola de papel amassado, tem nome, endereço, RG,
CPF, e-mail, telefone fixo, celular etc.: ela se chama “nossas maldades”.
“Assim mesmo”, diz o profeta Isaías,
apesar de nossa teimosia em assumirmos um comportamento maléfico para nós
mesmos, para os que convivem conosco e para o nosso planeta; apesar de insistirmos
em nos bater contra uma parede de concreto, nos esquecendo de que somos frágeis
como um vaso de barro, temos um Deus a quem suplicar e por quem esperar como
pai e redentor: “Assim mesmo, Senhor, tu és o nosso pai, nós somos barro; tu,
nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64,7).
Portanto, neste início de Advento, nos
coloquemos como barro nas mãos do nosso Oleiro... Quero colocar em Tuas mãos a minha vida, me deixar remodelar como um
vaso do oleiro. O meu coração ponho hoje em Teu altar. Minha vida está pronta
pra recomeçar ao lado Teu. Ser todo Teu,
inteiro Teu. Quero ajuntar cada pedaço do meu ser. Ser todo Teu, inteiro teu.
Quero Te dar os meus pedaços para que um vaso novo eu possa ser! (bis) (Música “Todo Teu”, de Eros
Biondini.
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