quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ESPERAR N'ELE E POR ELE

Missa do 1º. dom. do advento. Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7; 1Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37.

O tempo do Advento, que iniciamos hoje, além de nos preparar para celebrarmos o nascimento do nosso Salvador, Jesus Cristo, quer nos preparar para a sua segunda vinda, pois a Escritura diz: Cristo “virá uma segunda vez... àqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). Por isso, o Advento se traduz por uma espera: esperar Aquele que vem. O problema é que nós desaprendemos esperar. Quando temos de esperar, ficamos frustrados. Mas esperar tem a ver com esperança. Nós esperamos no Senhor e pelo Senhor: “Esperamos n’Ele, até que nos salvou” (Is 25,9). Por isso, se você já desistiu de esperar em Deus e por Deus, desperte a sua esperança a partir desta declaração de fé do profeta Isaías: “Nunca se ouviu dizer... que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam” (Is 64,3).
A atitude da espera em Deus e por Deus foi descrita por Jesus no Evangelho usando a imagem do porteiro. É o porteiro quem deve abrir a porta para o dono da casa, assim que ele chegar. Além disso, na ausência do dono da casa, é o porteiro quem decide quem ou o quê entra na casa. A casa é um símbolo em aberto: ela pode significar nós mesmos, nosso corpo, nossa consciência (pensamentos), nosso coração (sentimentos); ela pode significar também nossa família, nosso local de trabalho, o meio ambiente etc. Uma vez que você é o porteiro, cabe perguntar-se: Para o quê eu tenho fechado a porta da minha vida e precisaria abri-la? Para o quê eu tenho aberto a porta da minha vida e precisaria fechá-la?’
            A responsabilidade do porteiro é vigiar a casa que está sob os seus cuidados. Vigiar supõe não dormir. Dormir, por sua vez, significa anestesiar a consciência, acomodar-se, distrair-se, fechar-se no próprio individualismo, não dar-se conta do perigo que ronda sua própria vida, abandonar o caminho da justiça, da coerência, da fidelidade ao Evangelho de Cristo. Dormir é fazer corpo mole quanto àquilo que diz respeito à sua própria salvação.  
O Deus em quem esperamos e a quem aguardamos é, segundo o profeta Isaías, “nosso pai” e “nosso redentor” (cf. Is 63,16b). A questão é: quem sente necessidade de um pai? Quem sente necessidade de um redentor? Para quantas pessoas, a figura do pai é desconhecida ou negativa? Quantos já se habituaram a viver a vida sem pai e não sentem necessidade alguma de um? Para quê precisamos de um redentor? Precisamos ser redimidos do quê? Muitos não esperam mais em Deus e por Ele porque acharam melhor aprender a sobreviver sozinhos e a contar unicamente consigo mesmos...
Já na sua época, o profeta Isaías constatou: “Não há quem invoque teu nome (abandono da oração), quem se levante para encontrar-se contigo (abandono da fé – deixar de buscar a Deus)” (Is 64,8). Mas no coração de toda pessoa que sente a necessidade de um pai e de um redentor, uma súplica não aceita ser abafada ou silenciada: “Ah! se rompesses os céus e descesses!” (Is 63,19b.). O Advento nos desafia a redobrar a nossa oração, a nossa busca por Deus, suplicando que os céus se abram e derramem a presença de Deus e da sua salvação no mundo, em cada casa, em cada ambiente de trabalho, no coração de cada ser humano, onde quer que haja guerra, violência, injustiça, doença, dependência química, falta de entendimento, desestruturação familiar, desemprego, fome, ideia de suicídio etc.
Deus faz pelos que n’Ele esperam (cf. Is 64,3). Deixar de esperar em Deus significa sair das Suas mãos, trancar a porta para que Ele não entre, desconectar o nosso coração do Seu, desistir de ficar on line, no que diz respeito à nossa espiritualidade. Deus vem, nos lembra o profeta Isaías, mas vem “ao encontro de quem pratica a justiça com alegria” (Is 64,4), de quem assume uma postura justa perante toda e qualquer circunstância, e não apenas quando está sendo visto, observado ou vigiado. Deus vem e se deixa encontrar por quem caminha nos Seus caminhos, com o coração e a consciência voltados para Ele.
Além de ser um tempo de espera, o Advento também é tempo de conversão, no sentido de reconhecer e nos dispor a rever toda atitude nossa que não deixa a vida se renovar em nós, à nossa volta e no mundo em que vivemos: “Nós pecamos..., nos tornamos imundície..., murchamos como folhas, e nossas maldades nos empurram como o vento” (Is 64,4b.5). Essa estranha sensação que temos de que o nosso mundo (ou casa, local de trabalho, igreja, vida) é manipulado, sacudido e jogado de um lado para outro por uma Mão invisível, que parece ter o prazer de nos jogar contra a parede, como se fôssemos uma bola de papel amassado, tem nome, endereço, RG, CPF, e-mail, telefone fixo, celular etc.: ela se chama “nossas maldades”
“Assim mesmo”, diz o profeta Isaías, apesar de nossa teimosia em assumirmos um comportamento maléfico para nós mesmos, para os que convivem conosco e para o nosso planeta; apesar de insistirmos em nos bater contra uma parede de concreto, nos esquecendo de que somos frágeis como um vaso de barro, temos um Deus a quem suplicar e por quem esperar como pai e redentor: “Assim mesmo, Senhor, tu és o nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64,7).
Portanto, neste início de Advento, nos coloquemos como barro nas mãos do nosso Oleiro... Quero colocar em Tuas mãos a minha vida, me deixar remodelar como um vaso do oleiro. O meu coração ponho hoje em Teu altar. Minha vida está pronta pra recomeçar ao lado Teu. Ser todo Teu, inteiro Teu. Quero ajuntar cada pedaço do meu ser. Ser todo Teu, inteiro teu. Quero Te dar os meus pedaços para que um vaso novo eu possa ser! (bis) (Música “Todo Teu”, de Eros Biondini.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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