Preste
atenção a estas palavras: “Eu anseio pela minha morte, mas ela não vem; eu a
procuro como quem procura um tesouro; eu me alegraria se estivesse diante do
meu túmulo e exultaria se encontrasse minha sepultura” (citação livre de Jó
3,20-22). Assim como Jó, você alguma vez já desejou morrer? Você conhece alguém
que procura a morte como quem procura um tesouro? O que faria com que uma
pessoa não apenas desejasse sua própria morte, mas que a provocasse, por meio
do suicídio?
De
janeiro a setembro deste ano, nove pessoas se suicidaram em Jaboticabal (SP).
As causas para o suicídio podem ser muitas, mas há uma que vem se acentuando
cada vez mais: a incapacidade em lidar com a frustração. Nós estamos nos
tornando cada vez mais intolerantes em relação à frustração. Parece que tudo
tem que funcionar na hora em que queremos; tudo e todos têm que estar em função
da satisfação das nossas necessidades. Neste sentido, é preocupante ver como
muitos pais e avós criam seus filhos e netos fazendo de tudo para não
frustrá-los, procurando satisfazer as suas vontades. Desse modo, eles se
tornarão pessoas despreparadas para a vida, pois quem é que vai passar pela
vida sem nunca ser frustrado nos seus desejos, nos seus sonhos, nas suas
expectativas ou nas suas vontades?
Por
mais que não gostemos de ouvir “não”, a vida muitas vezes vai dizê-lo a nós,
esvaziando a nossa bola, cortando o nosso barato e jogando um balde d’água fria
em cima do fogo do nosso desejo. E aí? Vamos apelar feio e tirar a nossa
própria vida, ou vamos aproveitar a oportunidade para aprendermos a dura lição
de lidar com a frustração? Apesar de toda a beleza da sua plumagem, o pavão
estava triste e foi reclamar com o Criador: “Por que não fui criado também com
os pés e a voz bonitos?” E o Criador respondeu: “Porque ninguém pode ter
tudo”.
Esta
é a verdade que estilhaça o espelho do nosso narcisismo: ninguém pode ter tudo.
Além disso, se queremos ter os pés no chão, se queremos acolher a vida como ela
é e não como gostaríamos que fosse, se queremos viver a vida por inteiro,
precisamos aprender a lidar com perdas. Perder é uma das maiores frustrações
que existe. Muitas pessoas se suicidam por não suportarem o rompimento de uma
relação, quando a outra pessoa deixa claro que nós não somos necessários para
ela como ela o é para nós.
Se
você está vivendo uma situação de perda, reflita sobre essas palavras de
Clarice Lispector: “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é
mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna
que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé
estável. Esta terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui.
Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas
pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e
me assusta... Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?” (do livro A paixão segundo G.H., pp.11-12).
Esta
é uma das lições mais importantes que a vida nos dá: quando perdemos a nossa
“terceira perna”, temos a oportunidade de aprender a andar e a nos sustentar em pé com as nossas próprias pernas. Além disso, se você se sente vítima do destino e acha que os outros são muito mais felizes do que você, ou que as coisas dão certo para todo mundo, menos para você, leia o texto de Martha Medeiros, intitulado "A massacrante felicidade dos outros".
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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