Missa
do 33º. dom. comum. Palavra de Deus: Pr 31,10-13.19-20.30-31; 1Tessalonicenses
5,1-6; Mateus 25,14-30.
Muitas vezes ouvimos dizer que os
consumidores estão mais exigentes, ou que o mercado exige maior qualificação
profissional, ou que as empresas estão exigindo resultados, eficiência, metas
etc. EXIGÊNCIA tem se tornado, de fato, uma das palavras mais usadas no mundo
atual, palavra que ecoa dentro de nós não só como “cobrança”, mas às vezes
também como “ameaça”: se eu não alcançar o resultado, se eu não atingir a meta
exigida, serei punido(a) ou dispensado(a).
Da mesma forma, o Evangelho que acabamos
de ouvir parece estar em pleno acordo com o mercado, exigindo de nós a produção
de resultados, o alcance de metas, a multiplicação dos talentos que recebemos e
em relação aos quais precisaremos um dia prestar contas a Deus. Mas, o que é um
talento? Na época de Jesus, o talento era uma moeda que valia mais ou menos
dois quilos de ouro, segundo a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB). Jesus usa o
talento de forma simbólica: ele representa todo e qualquer tipo de dom que Deus
concedeu a cada ser humano. Dessa forma, o apóstolo Paulo pergunta: “O que é
que você possui que não tenha recebido (de Deus)?” (1Cor 4,7).
O dom não é algo gerado ou produzido por
nós, mas algo recebido de Deus, algo que Deus nos confia para ser trabalhado,
cultivado, desenvolvido, amadurecido. Portanto, a primeira intenção de Jesus é
nos tornar conscientes dos dons que Deus nos deu, da capacidade que temos de
crescer, de nos superar, de transcender, de fazer o bem a nós mesmos, aos
outros e ao mundo à nossa volta, como aparece na imagem da mulher forte,
mencionada no livro dos Provérbios: “(...) com habilidade trabalham as suas
mãos... Abre as suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre” (Pr
31,19-20).
Enquanto muitas pessoas ignoram seus
próprios talentos, isto é, desconhecem sua força e seu valor, outras avaliam o
talento dos outros pela aparência do pacote que contém o talento. E aqui há
surpresa e decepção. Surpresa porque, não poucas vezes, os dois quilos de ouro
estão embrulhados num jornal – é o caso daquelas pessoas para as quais não
damos importância e que nos surpreendem com atitudes de educação, de respeito,
de inteligência, de sensibilidade, de honestidade, de caráter, de retidão de
consciência, de humanidade etc. Decepção porque, algumas vezes, o pacote é
encantador e enche os nossos olhos, mas quando o abrimos, dentro dele há apenas
dois quilos de bijuteria e nada de ouro. Como disse o livro dos Provérbios, “o
encanto é enganador e a beleza é passageira” (31,30).
O apóstolo Paulo nos faz um alerta: “(...)
não durmamos como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (1Ts 5,6), o que
significa: vejamos se estamos desenvolvendo todo o nosso potencial
(vigilância). Além disso, estejamos sóbrios, acordados, conscientes de quem
somos e do bem que podemos fazer ao outros (sobriedade). Trata-se, portanto, de
trabalhar nossos talentos e de fazê-los crescer, como agiram os dois primeiros
servos da parábola contada por Jesus (cf. Mt 25,16-17).
Quando assumimos a tarefa de nos
trabalhar, de colaborar com o nosso crescimento e amadurecimento, de forma a
nos tornarmos melhores e ajudarmos a melhorar o mundo à nossa volta, experimentamos
uma profunda alegria dentro de nós, uma alegria que vem de Deus, que nos vê
caminhar na direção daquilo que Ele mesmo nos propôs como meta de crescimento
humano e espiritual (cf. Mt 25,21.23). O triste é que algumas pessoas escolhem
passar pela vida sem nada fazer, querendo apenas consumir e usufruir. O máximo
de esforço que fazem é cavar um buraco e enterrar o talento que receberam.
Dessa forma, cada um precisa se perguntar: Por que escondi o meu talento? Por
que o enterrei? Onde o enterrei? Quantos talentos meus estão enterrados debaixo
da raiva, da mágoa, do ressentimento, da desnecessária espera do reconhecimento
e do aplauso dos outros?
“Como você foi fiel na administração de
tão pouco, eu te confiarei muito mais” (Mt 25,21.23). Jesus deixa claro que
trabalhar, no sentido de multiplicar os talentos, é uma questão de ser fiel a
si mesmo, à própria verdade, à própria essência. Não se trata de nos tornarmos
uma outra pessoa, mas de nos tornarmos a pessoa que fomos chamados a ser quando
Deus nos criou. Como diz a música Tocando
em frente (Almir Sater): “Cada um de
nós compõe a sua história, e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser
feliz”.
O servo que enterrou no chão o talento
que recebeu de Deus foi chamado de “mau e preguiçoso” (Mt 25,26). Ser uma
pessoa má não se restringe simplesmente em fazer o mal, mas também em não fazer
o bem que tem condições de fazer. Olhe à sua volta. Olhe para dentro da sua
igreja ou comunidade: o quanto ela poderia fazer a mais pelo Reino e pelo bem
de muitas pessoas, mas não faz porque nela há muitos que, seja por preguiça,
comodismo ou individualismo, não fazem o bem que poderiam fazer? Olhe para a
sua rua, bairro ou cidade: quanta sujeira, quanto descuido com o meio ambiente,
quanto desperdício de água e de energia, quantos bens públicos depredados
porque você também está se deixando contaminar pela doença da maldade e da
preguiça? Olhe para as pessoas à sua volta: quantas delas você despreza e
ignora porque, apesar de serem verdadeiras pepitas de ouro, estão “embrulhadas”
num jornal?
Uma palavra final: trabalhar para
multiplicar os talentos que recebemos de Deus é algo que nos custa, e às vezes
nos custa muito. Se você está cansado(a), desiludido(a) e acha que não vale
mais a pena cultivar os verdadeiros valores na sua vida, reflita sobre essas
palavras de Martin Valverde, na música SEGUE: Custa para você poder seguir?
Custa para você? Tuas forças já não dão? E tua fé, já não pode mais? Segue! Embora sinta que já não consegue
mais, segue! Embora já não Me sinta junto de você, segue! Você sabe a Quem está
servindo; verá ao final uma linda luz, o rosto de Jesus que vem. Ele traz uma
coroa para você, por ter seguido, por ter chegado. Segue, vamos! Segue orando! Segue! Segue n’Ele confiando! Tua
oração Ele já olhou, apesar da tua pequena fé. Embora você sinta que está se afogando,
segue irmão! Falta pouco para ver tua obra terminar, para que você veja tua fé vencer
e tuas lágrimas serem convertidas em alegria. Você chegará! Você chegará! Segue! (minha tradução)
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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