Missa
de Ano Novo. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lc 2,16-21.
Ouve-se dizer que 2014 foi um ano
difícil para muitas pessoas, sobretudo no campo econômico. Ora, um ano não é
nem bom, nem ruim em si mesmo; ele é o resultado das escolhas que as pessoas
vão fazendo e das decisões que elas vão tomando nas várias áreas da vida:
profissional, financeira, emocional etc. É claro que vale lembrar que não se
trata somente de escolhas e decisões pessoais, mas também das escolhas e
decisões que aqueles que nós escolhemos para nos representar (Senado e
Congresso) e nos governar tomam, sobretudo em relação à economia, saúde,
educação, transporte público etc.
Nesta noite estamos virando mais uma
página do nosso tempo, entrando num novo ano. Antes, porém, de virar a página, é
importante refletir sobre a maneira como conduzimos a nossa vida, pessoal e
social, para que os possíveis erros do ano que termina não se repitam no ano
que se inicia. Mais do que isso, é importante nos perguntar se a maneira como
conduzimos nossa vida até aqui está de acordo com o desígnio de Deus para nós: “Sim,
eu conheço os desígnios que formei a vosso respeito..., desígnios de paz e não
de desgraça, para vos dar um futuro e uma esperança” (Jr 29,11).
Eis a atitude de Maria, mencionada no
Evangelho desta noite: ela “conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos
e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Nenhum acontecimento é obra do acaso
ou de um destino cego: ele sempre tem algo a nos dizer, a nos ensinar, e a
pergunta principal diante de cada acontecimento que marcou a nossa história em
2014 não é POR QUÊ?, mas PARA QUE? Quando perguntamos “por quê?”, estamos
procurando o culpado por aquilo que nos aconteceu, e nos colocando no papel de
vítimas. Quando perguntamos “para que?”, estamos entendendo que tudo tem um
propósito dentro do desígnio de Deus; todo acontecimento tem algo a nos
ensinar, a nos corrigir, a nos alertar, e ao invés de perdermos tempo
procurando pelo culpado, podemos nos lembrar de que, se nós nem sempre somos
responsáveis por aquilo que nos acontece, nós sempre somos responsáveis pela
maneira como lidamos com o que nos aconteceu. Em outras palavras, nós temos
liberdade de escolha, até mesmo diante dos acontecimentos mais dramáticos e
dolorosos que nos atingem.
SAÚDE e PAZ talvez sejam as palavras
mais usadas ao se cumprimentar as pessoas na entrada do Ano Novo. Interessante como
essas duas bênçãos não dependem somente de fatores externos, como vida digna; relações
mais humanas e baseadas na justiça – “O fruto da justiça será a paz” (Is
32,17), o que significa que onde há injustiça não tem como haver paz; acesso
igualitário aos serviços públicos etc. Saúde e paz dependem também de um fator
interno: a sintonia, a coerência com a nossa essência, com a nossa verdade. Mais
uma vez é importante lembrar: quanto mais distantes da nossa essência, da nossa
verdade, mais doentes ficamos (física e emocionalmente falando) e mais sem paz
nos sentimos.
Um chavão para todo novo ano que nasce é
este: PRÓSPERO ANO NOVO! Na noite do dia 31 de dezembro, milhares de fiéis
lotam igrejas para clamar ao Senhor por prosperidade. A respeito disso, duas
palavras bíblicas podem nos dar discernimento. A primeira é do livro dos
Provérbios: “Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem riqueza e
nem pobreza, concede-me o meu pedaço de pão; não seja eu saciado, e te renegue,
dizendo: ‘Quem é o Senhor?’ Não seja eu necessitado e roube e blasfeme o nome
de meu Deus” (Pr 30,8-9). A segunda é do apóstolo Paulo: “Aprendi a viver em
toda e qualquer situação: viver saciado e passar fome; ter abundância e sofrer
necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,11-13). Essas
indicações bíblicas falam por si só...
O livro dos Números nos ensina a invocar
por três vezes o nome do Senhor, pedindo que Ele nos proteja, nos abençoe, nos guarde,
nos ilumine, nos seja favorável, nos mostre a Sua face e nos conceda a paz. Tão
importante quanto pedir a bênção de Deus para o novo ano é abraçar a nossa
vocação de portadores da bênção de Deus para as outras pessoas: “Seja uma
bênção” (Gn 12,2d); “Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis”
(Rm 12,14). Da mesma forma, o apóstolo Paulo nos convida a viver a cada dia do
novo ano como filhos livres e não como escravos – escravos presos ao
ressentimento, ao luto, ao passado, ao rancor, ao sentimento de vingança.
Deixemos com que o Espírito Santo confirme a nossa filiação divina e nos lembre
em toda e qualquer situação que temos a Deus por Pai. Não estamos neste mundo
como órfãos! Deixemo-nos educar, conduzir e proteger pelo nosso Pai.
O Espírito Santo nos foi dado não para
nos livrar das dificuldades, mas para nos dar força para enfrentá-las.
Permitamos que Ele realize a circuncisão do nosso coração, dando-nos o sentido
de pertença total a Deus. Igualmente, que Ele testemunhe ao nosso coração que
temos a Jesus como Salvador. Enfim, que ao virarmos a última página do ano de
2014, possamos dizer: Graças, Pai!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi