quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

DESOBSTRUIR O ACESSO À SALVAÇÃO


Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6

                        Hoje estamos dando nosso segundo passo na direção d’Aquele que vem. Assim como João Batista preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus, assim a sua voz ecoa hoje em nós, convidando-nos a rever a estrada da nossa vida, pela qual Jesus deve passar e chegar até nós.
                        “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Talvez você já tenha feito a experiência, na sua oração, de ficar esperando “inutilmente” pelo Senhor. Você espera, espera, mas Ele não vem. Embora nós não possamos controlar Deus e determinar para Ele quando e como vir até nós, nós sempre podemos – e devemos – “preparar o caminho” para Ele vir, “endireitar a estrada” para Ele chegar até nós. Isso significa que devemos reconhecer nossas resistências em relação a Ele e à sua Palavra; significa ter a coragem de remover os obstáculos que nós mesmos colocamos entre nós e Deus; significa ainda lidar com o medo que temos de que Deus chegue muito perto ou nos peça para mexer em algo que não queremos mexer.
                        E então, como está o caminho, a estrada da sua vida, neste momento? “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados” (Lc 3,5). No sentido pessoal, o vale pode representar sua falta de fé e de confiança em Deus, as quais fazem você cavar um buraco e se enfiar dentro dele. A montanha e a colina podem representar seu orgulho, sua mania de grandeza, sua autossuficiência, aquela atitude de viver o seu dia a dia como se Deus não existisse e só procurá-Lo quando você não consegue mais dar conta dos problemas que você mesmo criou. As passagens tortuosas e os caminhos acidentados são aquelas irregularidades com as quais já nos habituamos a conviver e que não mais questionam a nossa consciência, mas que nos afastam da verdade de Deus.
                        Mas o vale, a montanha e a colina, as passagens tortuosas e os caminhos acidentados têm também um sentido social: eles nos falam das desigualdades sociais que não mais nos escandalizam e com as quais talvez estejamos até colaborando para se perpetuarem. “Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas e se enchessem os vales para aplainar a terra, a fim de que Israel caminhe com segurança, sob a glória de Deus” (Br 5,7). A terra precisa ser aplainada, as desigualdades sociais precisam ser enfrentadas e superadas. Só assim poderemos caminhar com segurança, isto é, viver em paz uns com os outros.
                        “E todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6). Quando endireitamos as nossas veredas pessoais, quando nos esforçamos para aterrar os vales e rebaixar os montes que nos distanciam daqueles com quem convivemos na família e no trabalho, quando colaboramos para consertar as passagens tortuosas e os caminhos acidentados das desigualdades sociais, a salvação de Deus começa a ser vista, começa a se tornar realidade em nossa vida e na vida das outras pessoas.  
Olhando para a nossa realidade pessoal e social, certamente podemos suplicar como o salmista: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto” (Sl 126,4). De fato, o salmo 65 afirma que quando Deus passa pelo deserto da nossa vida, ele se transforma em terra fértil (cf. Sl 65,12-13). A nós cabe remover os obstáculos para que Ele possa passar. A nós cabe também semear, mesmo que em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, pois “os que lançam as sementes entre lágrimas ceifarão com alegria. Chorando de tristeza sairão espalhando suas sementes; cantando de alegria, voltarão, carregando os seus feixes” (Sl 126,5-6).
Lançar as sementes entre lágrimas significa não perder a fé mesmo em meio a uma grande dor; significa crer na Palavra que diz: “Saíram de ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos com honras, como príncipes reais” (Br 5,6); significa ter a certeza de que “aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6). Assim como “a palavra de Deus foi dirigida a João, (...) no deserto” (Lc 3,2), hoje ela é dirigida a você, para que no deserto deste mundo, marcado pela aridez espiritual, por uma fé que seca e por uma esperança que murcha cada vez mais no coração das pessoas, você possa anunciar a Palavra que transforma o deserto numa terra fértil, um coração que perdeu o sentido da fé num coração que voltou a crer e a enxergar a salvação que vem de Deus, e somente d’Ele. 
                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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