Missa
do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11;
Lucas 3,1-6
Hoje
estamos dando nosso segundo passo na direção d’Aquele que vem. Assim como João
Batista preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus, assim a sua voz
ecoa hoje em nós, convidando-nos a rever a estrada da nossa vida, pela qual
Jesus deve passar e chegar até nós.
“Preparai
o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Talvez você já tenha
feito a experiência, na sua oração, de ficar esperando “inutilmente” pelo
Senhor. Você espera, espera, mas Ele não vem. Embora nós não possamos controlar
Deus e determinar para Ele quando e como vir até nós, nós sempre podemos – e
devemos – “preparar o caminho” para Ele vir, “endireitar a estrada” para Ele chegar
até nós. Isso significa que devemos reconhecer nossas resistências em relação a
Ele e à sua Palavra; significa ter a coragem de remover os obstáculos que nós
mesmos colocamos entre nós e Deus; significa ainda lidar com o medo que temos
de que Deus chegue muito perto ou nos peça para mexer em algo que não queremos
mexer.
E
então, como está o caminho, a estrada da sua vida, neste momento? “Todo vale
será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas
ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados” (Lc 3,5). No sentido
pessoal, o vale pode representar sua falta de fé e de confiança em Deus, as
quais fazem você cavar um buraco e se enfiar dentro dele. A montanha e a colina
podem representar seu orgulho, sua mania de grandeza, sua autossuficiência,
aquela atitude de viver o seu dia a dia como se Deus não existisse e só
procurá-Lo quando você não consegue mais dar conta dos problemas que você mesmo
criou. As passagens tortuosas e os caminhos acidentados são aquelas irregularidades
com as quais já nos habituamos a conviver e que não mais questionam a nossa
consciência, mas que nos afastam da verdade de Deus.
Mas
o vale, a montanha e a colina, as passagens tortuosas e os caminhos acidentados
têm também um sentido social: eles nos falam das desigualdades sociais que não
mais nos escandalizam e com as quais talvez estejamos até colaborando para se
perpetuarem. “Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas
eternas e se enchessem os vales para aplainar a terra, a fim de que Israel
caminhe com segurança, sob a glória de Deus” (Br 5,7). A terra precisa ser
aplainada, as desigualdades sociais precisam ser enfrentadas e superadas. Só
assim poderemos caminhar com segurança, isto é, viver em paz uns com os outros.
“E
todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6). Quando endireitamos as
nossas veredas pessoais, quando nos esforçamos para aterrar os vales e rebaixar
os montes que nos distanciam daqueles com quem convivemos na família e no
trabalho, quando colaboramos para consertar as passagens tortuosas e os
caminhos acidentados das desigualdades sociais, a salvação de Deus começa a ser
vista, começa a se tornar realidade em nossa vida e na vida das outras
pessoas.
Olhando para a nossa realidade pessoal e social, certamente
podemos suplicar como o salmista: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como
torrentes no deserto” (Sl 126,4). De fato, o salmo 65 afirma que quando Deus
passa pelo deserto da nossa vida, ele se transforma em terra fértil (cf. Sl
65,12-13). A nós cabe remover os obstáculos para que Ele possa passar. A nós
cabe também semear, mesmo que em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, pois
“os que lançam as sementes entre lágrimas ceifarão com alegria. Chorando de
tristeza sairão espalhando suas sementes; cantando de alegria, voltarão,
carregando os seus feixes” (Sl 126,5-6).
Lançar as sementes entre lágrimas significa não perder a fé
mesmo em meio a uma grande dor; significa crer na Palavra que diz: “Saíram de
ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos
com honras, como príncipes reais” (Br 5,6); significa ter a certeza de que
“aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-la à perfeição até o dia de
Cristo Jesus” (Fl 1,6). Assim como “a palavra de Deus foi dirigida a João,
(...) no deserto” (Lc 3,2), hoje ela é dirigida a você, para que no deserto
deste mundo, marcado pela aridez espiritual, por uma fé que seca e por uma
esperança que murcha cada vez mais no coração das pessoas, você possa anunciar
a Palavra que transforma o deserto numa terra fértil, um coração que perdeu o
sentido da fé num coração que voltou a crer e a enxergar a salvação que vem de
Deus, e somente d’Ele.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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