Missa
da Vigília de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-3.5-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.
Cada vez que celebramos o Natal, recordamos
que o nosso Deus se fez homem, na pessoa de seu Filho Jesus. O divino se
humanizou. Assim, nesta noite de Natal, convém perguntar: estamos mais
humanizados hoje? Cada vez que
celebramos o Natal, recordamos que o nosso Deus, que habita em lugar alto e
santo, se fez homem para se colocar junto com o humilhado e desamparado, “a fim
de animar os espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados”
(Is 57,15). Foi por isso que o Filho de Deus não nasceu no Palácio do imperador
César Augusto, mas numa estrebaria, sendo colocado numa manjedoura, para nos
dizer que Deus sempre entra em nossa história pela porta dos fundos, a partir
da nossa fraqueza e da nossa humilhação.
O Natal nos convida a sermos mais
humanos. O Natal também nos convida a descer do lugar alto do nosso orgulho, da
nossa autossuficiência, e nos colocar junto do humilhado e desamparado, além de
acolher a nossa própria humilhação e desamparo como portas abertas para Deus
entrar em nossa vida e se colocar junto a nós como Salvador.
O nascimento de Jesus se deu numa
estrebaria, onde os animais costumavam dormir e se alimentar, porque “não havia
lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Isso nos leva a reconhecer que, embora
hoje a maioria das pessoas celebre o Natal, ainda não há lugar para Deus nascer
na vida delas, porque seus corações estão voltados para o Palácio e não para a
manjedoura, para o Imperador e não para um menino, para a grandiosidade e não
para a simplicidade. A graça do Natal pode passar despercebida na vida da maioria
das pessoas, porque muitas delas estão perdidas no ativismo, na correria, no
consumismo, na superficialidade, no vazio, distanciando seu coração de Belém.
Ao narrar o nascimento de Jesus, o
evangelho nos fala de um recenseamento que obrigou Maria e José a se deslocarem
de Nazaré para Belém. Recenseamento é sinônimo de dominação política. Hoje nós
nos sentimos debaixo de uma espécie de mão invisível que nos domina, que nos
joga de um lado para outro: a mão invisível do domínio econômico, da violência
dos traficantes, da corrupção política que também alimenta a violência em nossa
sociedade. Mas a Escritura diz que “tudo concorre para o bem dos que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28). Tudo serve
aos planos de Deus. Ele pode usar dos ventos contrários para nos conduzir ao
porto. Desse modo, seu Filho nasce em Belém para se cumprir a profecia que
ouvíamos ontem, na primeira leitura, e para que nós tenhamos fé na Palavra do
Senhor, a qual afirma que a nossa vida está nas mãos de Deus, não nas mãos dos
homens, muito menos de um destino cego.
Diante dessa Palavra nos colocamos hoje. Ela nos
diz: “... o jugo que pesava sobre eles..., a vara do opressor, tu os
despedaçaste... Todo calçado que pisa com violência o chão, toda veste manchada
de sangue serão queimadas, serão devoradas pelo fogo. Porque para nós nasceu um
menino, um filho nos foi dado” (Is 9,3-5). Cada vez que Jesus volta a nascer no
coração das pessoas, os instrumentos de guerra são destruídos, as atitudes
violentas se transformam e desaparecem os sinais de violência e de exploração.
Por isso, o apóstolo Paulo diz que a graça de Deus, que se manifestou como
salvação para todas as pessoas em seu Filho Jesus, nos convida a não mais viver
com o coração fechado para Deus, a não mais nos deixar arrastar pelas paixões
mundanas, mas a ter uma vida equilibrada, um comportamento justo e um coração
obediente a Deus, enquanto aguardamos a manifestação definitiva de seu Filho
Jesus, nosso Salvador.
Em cada Natal, voltamos a ouvir estas
palavras do Anjo: “Não tenhais medo!... Nasceu-vos hoje um Salvador, que é
Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). Em cada hoje da nossa vida Jesus quer voltar a
nascer e se fazer sentir vivo como nosso Salvador. Este é o sinal da sua
presença junto a nós: “um recém-nascido envolto em faixas deitado numa
manjedoura”. Acolhamos este sinal. Acolhamos a graça de Deus que veio trazer a
salvação a todas as pessoas. Acolhamos o menino que nasceu para nós, o filho
que nos foi dado, Aquele que vem destruir as armas de guerra, transformar
nossas atitudes violentas e nos dar a sua paz.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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