Missa da Assunção de Maria. Palavra de Deus: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.
“A Igreja celebra hoje em Nossa
Senhora a realização do Mistério Pascal. Sendo Maria a ‘cheia de graça’, sem
sombra alguma de pecado, quis o Pai associá-la à ressurreição de Jesus” (Missal
dominical, p.1345). Se, na profissão de fé, afirmamos: “Creio na ressurreição
da carne”, isso é muito mais verdadeiro quando consideramos o corpo de Maria,
em cujo ventre foi gerado o Filho de Deus: no momento da sua morte, ela foi
levada em corpo e alma ao Céu.
A imagem de Maria glorificada no Céu
aparece no livro do Apocalipse: “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo
dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Ela está
vestida de sol porque ressuscitada; tem a lua debaixo dos pés porque está acima
do tempo terreno, na eternidade; por fim, tem uma coroa de doze estrelas na
cabeça porque é a imagem da Igreja glorificada, prefigurada no Antigo
Testamento pelas 12 tribos de Israel e edificada pelos 12 apóstolos escolhidos
por Jesus (cf. Ef 2,20).
Justamente por ser imagem da Igreja,
a mulher de Ap 12 é ameaçada por um grande Dragão, cor de fogo, imagem da
violência que produz morte. A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é uma Igreja ferida,
ameaçada, atacada por Satanás. Esses ataques fazem com que uma parte dos
cristãos sejam derrubados na sua fé: “com a cauda, varria a terça parte das
estrelas do céu, atirando-as sobre a terra” (Ap 12,4). Seja no campo pessoal,
seja no eclesial, cada cristão se encontra dentro de um combate espiritual. O
Maligno faz de tudo para nos derrubar do Céu, ou seja, para nos afastar da presença
de Deus. Para isso, ele nos ataca a partir de dentro e também a partir de fora:
a partir de dentro, por meio das nossas tentações pessoais; a partir de fora,
procurando nos fazer desacreditar da nossa própria Igreja.
Para não nos deixarmos enganar, o
capítulo 12 do Apocalipse deixa claro que o Dragão não consegue causar dano nem
à mulher, nem ao Filho gerado por ela: “o Filho foi levado para junto de Deus e
do seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um
lugar” (Ap 12,5b-6a). Se todos os cristãos, espalhados pelo mundo, enfrentam um
combate espiritual contra o Maligno (cf. 1Pd 5,8-9), devem se manter firmes na
fé, confiando na intervenção de Deus: “Agora realizou-se a salvação, a força e
a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo” (Ap 12,10).
Como você se vê dentro desse
combate? Você tem conseguido resistir às seduções do Maligno ou está se
deixando arrastar por sua cauda e sendo derrubado para a terra? O Dragão sabe
como derrubar cada um de nós. A um ele seduz pela ambição do dinheiro; a outro,
pela dependência afetiva ou pela carência sexual; a um, pela necessidade de sentir-se
forte (poder); a outro, pela incapacidade de suportar uma frustração ou de se
sentir inferior, insignificante; a um, pela compulsão em comprar (consumir); a
outro, pelo medo da dor ou da morte.
Se o Apocalipse nos mostra Maria
glorificada no Céu, o Evangelho nos fala da sua presença na Terra,
compartilhando da mesma condição dos pobres, dos humildes e dos famintos. Seu
hino de louvor a Deus expressa a sua fé na intervenção divina em favor de todos
aqueles que sofrem com a indiferença política e religiosa e também com as
desigualdades sociais: “Ele (Deus) mostrou a força de seu braço: dispersou os
soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os
humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias”
(Lc 1,51-53). Deus não está na força dos grandes, mas na fraqueza dos pequenos;
não está com os “vencedores”, mas com os “perdedores”; não está com quem tem
tudo, mas com os que nada têm.
Se Maria louva a Deus por sua intervenção
na história humana, em favor dos que nada significam para este mundo, Isabel
louva Maria com duas expressões: “Bendita és tu entre as mulheres” (v.42) e “Bem-aventurada
aquela que acreditou” (v.45), isto é, que teve fé na Palavra do Senhor! “Bendita
és tu entre as mulheres” (Lc 1,42). Bendita é a pessoa que não deixa sua
consciência deformar-se frente aos contra valores deste mundo. Bendita é a
pessoa que resiste à cauda sedutora do Dragão e se mantém firme no Céu, na sua
comunhão com Deus. Bendita é a pessoa que se coloca junto daqueles que são
desprezados pelo mundo. “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). Feliz
a pessoa que alimenta diariamente a sua fé com a Palavra de Deus. Feliz a
pessoa que aprendeu a esperar em Deus, até que sua Palavra se cumpra. Feliz
todo aquele que sabe que somente Deus tem a palavra final sobre a história
humana.
Crendo na glorificação de Maria em corpo
e alma no Céu, renovemos a nossa fé nesta verdade: “A nossa cidade está nos céus,
de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que
transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso, pela
força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas” (Fl 3,20-21).
Confiemos ao poder redentor do nosso Deus todo ser humano cujo corpo está
doente, ferido, agredido, faminto, preso à dependência química, definhando numa
cama, prostituído, banalizado, traficado para a venda de órgãos, escravo do
trabalho etc.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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