quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A FUTURA GLORIFICAÇÃO DO NOSSO CORPO

 Missa da Assunção de Maria. Palavra de Deus: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.  

 

            “A Igreja celebra hoje em Nossa Senhora a realização do Mistério Pascal. Sendo Maria a ‘cheia de graça’, sem sombra alguma de pecado, quis o Pai associá-la à ressurreição de Jesus” (Missal dominical, p.1345). Se, na profissão de fé, afirmamos: “Creio na ressurreição da carne”, isso é muito mais verdadeiro quando consideramos o corpo de Maria, em cujo ventre foi gerado o Filho de Deus: no momento da sua morte, ela foi levada em corpo e alma ao Céu.

            A imagem de Maria glorificada no Céu aparece no livro do Apocalipse: “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Ela está vestida de sol porque ressuscitada; tem a lua debaixo dos pés porque está acima do tempo terreno, na eternidade; por fim, tem uma coroa de doze estrelas na cabeça porque é a imagem da Igreja glorificada, prefigurada no Antigo Testamento pelas 12 tribos de Israel e edificada pelos 12 apóstolos escolhidos por Jesus (cf. Ef 2,20).

            Justamente por ser imagem da Igreja, a mulher de Ap 12 é ameaçada por um grande Dragão, cor de fogo, imagem da violência que produz morte. A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é uma Igreja ferida, ameaçada, atacada por Satanás. Esses ataques fazem com que uma parte dos cristãos sejam derrubados na sua fé: “com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu, atirando-as sobre a terra” (Ap 12,4). Seja no campo pessoal, seja no eclesial, cada cristão se encontra dentro de um combate espiritual. O Maligno faz de tudo para nos derrubar do Céu, ou seja, para nos afastar da presença de Deus. Para isso, ele nos ataca a partir de dentro e também a partir de fora: a partir de dentro, por meio das nossas tentações pessoais; a partir de fora, procurando nos fazer desacreditar da nossa própria Igreja.

            Para não nos deixarmos enganar, o capítulo 12 do Apocalipse deixa claro que o Dragão não consegue causar dano nem à mulher, nem ao Filho gerado por ela: “o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar” (Ap 12,5b-6a). Se todos os cristãos, espalhados pelo mundo, enfrentam um combate espiritual contra o Maligno (cf. 1Pd 5,8-9), devem se manter firmes na fé, confiando na intervenção de Deus: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo” (Ap 12,10).

            Como você se vê dentro desse combate? Você tem conseguido resistir às seduções do Maligno ou está se deixando arrastar por sua cauda e sendo derrubado para a terra? O Dragão sabe como derrubar cada um de nós. A um ele seduz pela ambição do dinheiro; a outro, pela dependência afetiva ou pela carência sexual; a um, pela necessidade de sentir-se forte (poder); a outro, pela incapacidade de suportar uma frustração ou de se sentir inferior, insignificante; a um, pela compulsão em comprar (consumir); a outro, pelo medo da dor ou da morte.      

            Se o Apocalipse nos mostra Maria glorificada no Céu, o Evangelho nos fala da sua presença na Terra, compartilhando da mesma condição dos pobres, dos humildes e dos famintos. Seu hino de louvor a Deus expressa a sua fé na intervenção divina em favor de todos aqueles que sofrem com a indiferença política e religiosa e também com as desigualdades sociais: “Ele (Deus) mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53). Deus não está na força dos grandes, mas na fraqueza dos pequenos; não está com os “vencedores”, mas com os “perdedores”; não está com quem tem tudo, mas com os que nada têm.  

            Se Maria louva a Deus por sua intervenção na história humana, em favor dos que nada significam para este mundo, Isabel louva Maria com duas expressões: “Bendita és tu entre as mulheres” (v.42) e “Bem-aventurada aquela que acreditou” (v.45), isto é, que teve fé na Palavra do Senhor! “Bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,42). Bendita é a pessoa que não deixa sua consciência deformar-se frente aos contra valores deste mundo. Bendita é a pessoa que resiste à cauda sedutora do Dragão e se mantém firme no Céu, na sua comunhão com Deus. Bendita é a pessoa que se coloca junto daqueles que são desprezados pelo mundo. “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). Feliz a pessoa que alimenta diariamente a sua fé com a Palavra de Deus. Feliz a pessoa que aprendeu a esperar em Deus, até que sua Palavra se cumpra. Feliz todo aquele que sabe que somente Deus tem a palavra final sobre a história humana.

            Crendo na glorificação de Maria em corpo e alma no Céu, renovemos a nossa fé nesta verdade: “A nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso, pela força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas” (Fl 3,20-21). Confiemos ao poder redentor do nosso Deus todo ser humano cujo corpo está doente, ferido, agredido, faminto, preso à dependência química, definhando numa cama, prostituído, banalizado, traficado para a venda de órgãos, escravo do trabalho etc.

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário