Missa do 3º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,14.22-33; 1Pedro 1,17-21; Lucas 24,13-35.
Após a morte de Jesus na cruz, e
mesmo depois de terem ouvido relatos de que o sepulcro estava vazio e que Jesus
havia ressuscitado, dois discípulos dele abandonam Jerusalém e dirigem-se para
um lugar chamado Emaús. Enquanto no rosto deles é nítida a tristeza, o coração
de ambos expressa a decepção com a morte de Jesus: “Nós esperávamos que ele
fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas
essas coisas aconteceram!” (Lc 24,21).
“Nós esperávamos..., mas...”.
Quantas esperanças nossas foram frustradas pelo próprio Deus, pela vida, pelas
pessoas ou por determinados acontecimentos? Quantos de nós já estivemos ou estamos,
nesse momento, decepcionados, desiludidos, desesperançados, seja com Deus, seja
com as pessoas, seja com nossa vida afetiva ou profissional, seja conosco
mesmos? Enquanto há esperança, nós suportamos as dificuldades e contrariedades,
mas quando nossa esperança se transforma em desencanto, em decepção, a atitude
mais comum é o abandono do projeto de vida que havíamos abraçado, nos
esquecendo de que “é diante do sofrimento que nós reafirmamos o nosso projeto de vida”
(Leo Fraiman, professor e psicólogo).
“Projeto de vida” é
sinônimo de “vocação”, e vocação é a consciência de que somos uma missão; nossa
existência é fruto de um chamado a abraçar uma tarefa em favor do bem de alguém
ou de uma causa que depende de nós para ser defendida ou concretizada.
“Projeto” significa ter uma razão para continuar caminhando para a frente; ter
razões internas para não parar de caminhar, para não abandonar o caminho
iniciado por estarmos enfrentando situações muito difíceis, que estão corroendo
a nossa esperança. Quem sabe da importância do projeto de vida que abraçou não
o abandona por causa do sofrimento, mas entende que o sofrimento é a
oportunidade para reafirmar o seu projeto, a sua vocação, a fidelidade a si
mesmo, à sua consciência e a Deus, que o chamou a abraçar tal projeto.
A atitude mais comum hoje, na
maioria das pessoas, é o abandono, a desistência, o deixar Jerusalém e ir
embora para Emaús. Mas é justamente nesse caminho que o Cristo ressuscitado se
coloca junto a nós para questionar a facilidade com que nós trocamos a
esperança pelo desencanto, pela decepção, pela desesperança. Diante da nossa
tentativa de justificar a razão pela qual abandonamos o nosso projeto de vida,
Jesus nos faz reler os acontecimentos à luz da Sagrada Escritura: “E, começando
por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as
passagens da Escritura que falavam a respeito dele” (Lc 24,27). A maneira como
Jesus reinterpretou os acontecimentos à luz da Sagrada Escritura fez reacender
a esperança no coração dos dois discípulos: “Não estava ardendo o nosso
coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as
Escrituras?” (Lc 24,32).
Aqui está a importância da Palavra
de Deus em nossa vida – seja escutando-a na Liturgia da Palavra (missa), seja
meditando-a em casa, no carro ou no trabalho. Sem a luz da Palavra de Deus, nós
nos perdemos na escuridão desse mundo mergulhado na desorientação. Quando
ficamos como que cegos, incapazes de ver além da nossa decepção, incapazes de
interpretar corretamente o sofrimento como oportunidade de reafirmar a nossa
vocação e de renovar a nossa fidelidade à missão que abraçamos, precisamos que
a Palavra de Deus fale ao nosso coração e o aqueça novamente, devolvendo-nos a
consciência de que existe uma razão, um sentido, uma finalidade naquilo que
estamos enfrentando. Portanto, a nossa missão consiste em permanecer em
Jerusalém, e não em fugir para Emaús.
O pedido que fazemos àquele cuja
Palavra tem o poder de fazer voltar a arder o nosso coração é o mesmo dos
discípulos de Emaús: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!”
(Lc 24,29). ‘Fica conosco, quando a noite da tristeza, do desencanto e da
desesperança obscurece o nosso olhar e nos impede de enxergarmos a tua presença
junto a nós, Senhor Jesus!’ “Jesus entrou para ficar com eles. Quando se
sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes
distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram
Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles” (Lc 24,30-31). O Ressuscitado
só foi reconhecido “ao partir o pão”, expressão bíblica que designa a
Eucaristia. Aquele que tanto desejamos experimentar vivo e vê-lo ressuscitado
desaparece fisicamente no exato momento em que “se esconde” na Eucaristia! Aquele
que “entrou para ficar com eles” (Lc 24,29) não foi embora, após partir o pão;
apenas ficou invisível, para nos dizer que a sua Presença entre nós será
encontrada na Eucaristia.
“Naquela mesma hora, eles se
levantaram e voltaram para Jerusalém” (Lc 24,33). Toda pessoa que se encontra
com o Ressuscitado na Palavra e na Eucaristia recebe forças para retomar o seu
projeto de vida e recolocar os seus pés na estrada certa, na direção certa,
renovando a sua fidelidade à própria vocação. A cruz continuará a marcar com a
sua sombra o nosso caminho, mas não pararemos nela, porque a nossa fé e a nossa
esperança estão em Deus (cf. 1Pd 1,21): Ele “ressuscitou a Jesus, libertando-o
das angústias da morte” (At 2,24). Ele nos chamou a abraçar um projeto de vida
e nos sustenta na vivência diária da nossa vocação, com a graça do Espírito
Santo.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Oração
do Ano Vocacional
Senhor
Jesus, enviado do Pai e Ungido do Espírito Santo, que fazeis os corações arderem
e os pés se colocarem a caminho, ajudai-nos a discernir a graça do vosso chamado
e a urgência da missão. Continuai a encantar famílias, crianças, adolescentes,
jovens e adultos, para que sejam capazes de sonhar e se entregar, com
generosidade e vigor, a serviço do Reino, em vossa Igreja e no mundo. Despertai
as novas gerações para a vocação aos Ministérios Leigos, ao Matrimônio, à Vida
Consagrada e aos Ministérios Ordenados. Maria, Mãe, Mestra e Discípula
Missionária, ensinai-nos a ouvir o Evangelho da Vocação e a responder com
alegria. Amém.
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