Missa do domingo de Páscoa – Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34ª.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.
A
morte pode nos atingir de várias maneiras, a partir de fora. Mas o problema é
quando nós nos deixamos morrer a partir de dentro. Algumas pessoas, depois de
serem atingidas por algum tipo de morte, reagiram e decidiram ressuscitar,
enquanto outras se entregaram e se deixaram morrer. “A tragédia não é quando um
homem morre. A tragédia é o que morre dentro de um homem quando ele está vivo” (Albert
Schweitzer).
“Ele
(o discípulo amado) viu e acreditou” (Jo 20,8). As coisas que você vê à sua
volta fazem você acreditar na ressurreição? Quando você vê inúmeras pessoas
doentes, a escalada sempre maior da violência, a maldade das pessoas, o
alastramento das drogas em todos os setores da sociedade, as tragédias, a
desorientação de tantos adolescentes e jovens, o desmantelamento das famílias,
a degradação do meio ambiente, o descaso com a vida etc., você ainda consegue
acreditar na vitória da vida sobre a morte?
“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). Mas, com certeza você também vê doentes que não se
entregam à própria dor; pessoas que, à semelhança de Jesus, escolhem passar
pelo mundo fazendo o bem, não se importando se são reconhecidas ou não; pessoas
que a cada dia se levantam e dizem: “Por hoje não” – por hoje eu não vou beber,
não vou usar drogas; empresários, políticos, pais e mães de família que
trabalham honestamente; jovens que estudam e trabalham, construindo seu próprio
futuro; famílias que decidem construir suas casas diariamente sobre a rocha do Evangelho
e não sobre a areia do mundo; pessoas que dedicam parte de seu tempo livre para
defender o meio ambiente; enfim, pessoas que trabalham em defesa da vida.
“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). Olhe para a sua própria vida. Que sinais estão
presentes nela e sustentam a sua fé na vitória de Cristo sobre a morte? Talvez,
como Maria Madalena, Pedro e o outro discípulo, você ainda esteja diante de
sinais que misturam morte e vida: túmulo vazio, faixas de linho no chão e um
pano enrolado à parte, sinais que você interpreta erroneamente, como Maria
Madalena: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram” (Jo
20,2). Talvez alguma coisa muito preciosa tenha sido tirada de você, e por isso
você não consegue crer na ressurreição, crer que a vida é mais forte do que a
morte.
Mas
o que significa crer na ressurreição? O Evangelho do domingo de Páscoa poderia
nos colocar diante do Cristo Ressuscitado (o que será feito nos dois próximos
domingos), mas ele nos coloca, primeiro, diante de um túmulo vazio, túmulo que
nos lembra que crer na ressurreição não significa crer que não vamos morrer, ou
que vamos ser poupados de sofrimento, mas significa crer que vamos vencer a
morte e o sofrimento. O nosso sofrer e a nossa morte não são a negação da
ressurreição, mas o lugar existencial onde experimentaremos a nossa própria
ressurreição: “Incessantemente e por toda parte trazemos em nosso corpo a
agonia de Jesus (sua morte), a fim de que a vida de Jesus (sua ressurreição)
seja também manifestada em nosso corpo” (2Cor 4,10).
O
dia de Páscoa nos convida a retirar a pedra do túmulo do nosso desânimo, do
nosso abatimento, túmulo que representa tantas atitudes nossas por meio das
quais nos enterramos vivos, morremos antes da hora, abandonamos os nossos
valores, pensando que ficar dentro de um túmulo seja melhor do que sair e
enfrentar a vida e correr o risco de sermos machucados. O Pai, que ressuscitou
seu Filho e lhe concedeu manifestar-se aos discípulos, que comeram e beberam
com Jesus após a ressurreição (cf. At 10,40-41), nos convida a nos esforçar por
“alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1), onde está seu Filho. Isso significa que
“as coisas terrestres” são incapazes de responder à nossa sede de sentido e de
vida. Justamente por isso, nossa consciência precisa estar voltada para onde se
encontra a nossa verdadeira vida.
Diariamente
encontramos pessoas que desistiram de buscar as coisas do alto e passaram a
viver arrastadas pelas coisas da terra, pessoas que desistiram de crer na força
da Páscoa, desistiram de se esforçar em fazer a passagem da morte para a vida
porque esta passagem se apresenta, à primeira vista, humanamente impossível.
Mas a Ressurreição de Cristo nos ensina que a Páscoa não é obra nossa, e sim
obra de Deus em nós! É Ele quem nos faz passar! A fé na Ressurreição nunca é a
fé naquilo que você pode fazer, mas sempre é a fé naquilo que Deus pode fazer
em você.
O
apóstolo Paulo nos ensina que, mesmo crendo na ressurreição de Cristo, a nossa
vida continuará a ser uma “vida escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,3). “Vida
escondida” significa que, aos olhos do mundo, nós, que cremos na ressurreição,
continuamos a ser simples mortais. Mas a nossa fé nos diz que quando Cristo,
nossa vida, aparecer em seu triunfo, seremos revestidos de glória, seremos com
Ele ressuscitados (cf. Cl 3,4). Portanto, neste dia de Páscoa, cantamos com
alegria: “E quando amanhecer o dia eterno, a plena visão, ressurgiremos por
crer nesta vida escondida no Pão!”
Também o apóstolo Paulo afirma que “se vivemos,
é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos.
Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor... Cristo morreu e
ressuscitou para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,8-9). Permitamos
que Ele seja Senhor e Redentor não somente daquilo que ainda vive em nós, mas
também daquilo que porventura tenha morrido ou esteja morrendo: ‘Eu pertenço a
ti, Senhor. Em tuas mãos está o meu viver e também o meu morrer. Quer eu me
sinta vivo, quer eu me sinta morto, que eu nunca perca a consciência de que
pertenço a ti e estou em tuas mãos, mãos que cuidam de mim, mãos que me amparam
e me conduzem, mãos que podem me retirar da morte e me conduzir para a Vida’.
Porque
Cristo vive, eu posso seguir pela vida sabendo que nada poderá me separar do
amor de Deus, manifestado na pessoa de seu Filho Jesus (cf. Rm 8,37-39). Porque
Cristo vive, eu posso suportar minhas provações crendo que Deus tem o poder de
ressuscitar os mortos, e nessa minha fé Deus me devolve, de maneira
transformada, tudo aquilo que eu entreguei em Suas mãos (cf. Hb 11,17-18).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário