Missa do 5. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 58,7-10; 1Coríntios 2,1-5; Mateus 5,13-16.
Cada
vez mais, a fé tem sido relegada ao âmbito privado. Em nome do “Estado laico”
(o Estado não tem uma “religião oficial”), ou em nome do pluralismo religioso (não
“ferir” uma religião diferente da nossa, ou não “impor” a nossa fé aos outros),
nossa fé vai aos poucos sendo “proibida” de se manifestar. A ela só é permitido
ter espaço dentro de nós, no âmbito privado, pessoal, mas não social. Além
disso, como há muitas pessoas decepcionadas ou com o próprio Deus, ou com a
Igreja, ou com qualquer tipo de religião, quando manifestamos publicamente a
nossa fé, podemos esperar reações carregadas de agressividade e de forte
rejeição à nossa fé.
É
exatamente nesse contexto de redução da nossa fé ao âmbito privado que Jesus
fala importância e da necessidade da presença da nossa fé “na terra”, “no mundo”,
ou seja, a sua manifestação às pessoas que convivem conosco. Aqui não se trata
de sermos cristãos fanáticos que ficam o tempo todo despejando versículos
bíblicos nos ouvidos das pessoas, mas de vivermos segundo o Evangelho,
sobretudo quando estamos junto de pessoas que não têm contato com as coisas de
Deus, com a Igreja, com os ensinamentos de Jesus. Isso é necessário
principalmente nos tempos atuais, onde o paganismo se dissemina cada vez mais, de
modo que a grande maioria das pessoas vive como se Deus não existisse, ou
então, rejeita as instituições religiosas devido aos seus pecados e falhas.
Jesus
fala da importância do testemunho da nossa fé – viver segundo o seu Evangelho –
comparando o cristão com o sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13). Muito mais
do que dar sabor à comida, o sal era, na época de Jesus, absolutamente
essencial: sem ele, os alimentos – sobretudo as carnes – apodreciam. Ora, é
inegável que muitos valores estão “apodrecendo” no mundo atual: casamento,
família, honestidade, fidelidade, respeito para com o próximo, diálogo com quem
pensa diferente de nós etc. Por mais que o mundo atual rejeite os valores do
Evangelho, justamente porque eles denunciam os contravalores do mundo,
exatamente nesse contexto a nossa vivência cristã é absolutamente necessária.
Se a maioria das pessoas segue o fluxo de se jogar num abismo, nós, cristãos,
devemos mostrar-lhe que é possível dar uma outra direção à vida.
O
problema é que “ser sal” tem um custo: manter a própria integridade; suportar a
solidão de “ser diferente”; lidar com a crítica, o desprezo ou até mesmo com a
agressão por parte de algumas pessoas etc. A tentação aqui é tornar-se um sal
que não salga; tornar-se um cristão que “não incomoda”, que esconde a sua fé
para não sofrer rejeição por parte do mundo. Se isso acontecer conosco, isto é,
se preferirmos ter a simpatia do mundo ao custo de não viver segundo Deus, Jesus
afirma que nós seremos “pisados”, imagem bíblica para falar da nossa condenação
perante Deus.
A
segunda imagem que Jesus usa para falar da necessidade do nosso testemunho de
discípulos seus no meio das pessoas é a luz. O lugar da luz é no teto, para
iluminar as pessoas que estão na casa, e não debaixo da mesa ou da cadeira. Em
outras palavras, o cristão não pode esconder-se das pessoas que são contrárias
a Deus, à Igreja ou aos valores do Evangelho. Ao mesmo tempo, ele não precisa
ser um refletor de alta potência que agride os olhos das pessoas – o que
significa que é bom evitar o fanatismo religioso. Basta que sejamos uma luz que
ajuda as pessoas a enxergarem a vida sob um outro ângulo, a partir da fé, de modo
que elas percebam que podem dar respostas melhores aos seus problemas,
encontrando na Palavra de Deus uma fonte segura de orientação para a própria consciência.
Enfim,
uma questão importante que a Sagrada Escritura aborda é a origem da luz. Para
nós, é comum pensarmos que a luz venha do conhecimento intelectual, do estudo,
de leituras que fazemos. Isso sem dúvida ajuda. No entanto, para surpresa nossa,
o profeta Isaías deixa claro que a luz só surge em nós quando nos deixamos
afetar pela dor de quem sofre à nossa volta: “Se acolheres de coração aberto o
indigente
e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida
obscura será como o meio-dia” (Is 58,10).
Quando nos tornamos indiferentes à dor dos outros, a luz de Deus se
apaga dentro de nós. Um cristão que não se preocupa com questões sociais como
fome, violência, desemprego, injustiça, desigualdade, é uma lâmpada apagada: é
lâmpada (está na Igreja, ouve o Evangelho), mas não tem luz a oferecer, porque
vive sua fé somente no âmbito privado, pessoal, de maneira intimista.
Apesar
das nossas falhas e imperfeições, Deus quis precisar de nós para levar sua luz
àqueles que estão perdidos na escuridão, assim como Ele quis precisar do nosso
sal para impedir que valores importantes continuem a apodrecer à nossa volta. Mantenhamos
acesa a luz da nossa fé e a integridade do nosso sal! Cuidemos da nossa vocação
e sejamos fiéis à nossa missão de sermos “sal da terra” e “luz do mundo”.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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