quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

QUAIS SÃO OS SEUS VALORES?

 Missa do 4º dom. comum. Palavra de Deus: Sofonias 2,3;3,12-13; 1Coríntios 1,26-31; Mateus 5,1-12a

 

            As leituras bíblicas de hoje nos falam de valores – aquilo que é importante em si mesmo, aquilo que é importante para a vida, segundo Deus. Ao mesmo tempo, elas denunciam a inversão de valores em que vive o nosso mundo. Enquanto Deus entende o valor como algo que é importante em si mesmo, o mundo entende o valor como algo que é importante para mim, para os meus interesses, ainda que isso prejudique os outros.

São valores para o mundo atual ter dinheiro, ter um corpo atraente, ter sucesso, vencer, ficar famoso, ser visto, tornar-se grande, ser forte, ter ascensão social; mais do que tudo, ser feliz, ainda que tal felicidade seja alcançada à custa da infelicidade de outros. Em contraposição a tudo isso, Deus nos fala de valores como: “praticar a justiça”, “procurar a humildade” (Sf 2,3). Quais pessoas você conhece que tem como meta de vida tornar-se justa, viver de maneira justa, agir segundo o coração (a vontade) de Deus? Como “procurar a humildade” num mundo onde “quem pode mais, chora menos”, onde a ganância é o motor do sucesso, onde é preciso ser visto como uma pessoa de sucesso?

Aqui precisamos ter claro que humildade não significa desprezar-se ou considerar-se inferior aos outros, mas simplesmente ser do tamanho que se é – nem mais e nem menos. Humildade tem a ver com húmus – terra. Uma pessoa humilde cultiva suas raízes. Por isso, não tomba diante dos ventos contrários. Por substituírem a humildade pela vaidade, muitas pessoas ostentam uma aparência de fortaleza e de sucesso, mas tombam facilmente diante de qualquer contrariedade da vida.  

            A forte contraposição entre os valores de Deus e os contravalores do mundo aparece nas palavras do apóstolo Paulo: “Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante” (1Cor 1,27-28). Enquanto o ser humano aposta na força, Deus aposta na fraqueza; enquanto nós buscamos nos afastar de tudo aquilo que em nós é fraco, feio, limitado e imperfeito, Deus nos diz que é na aceitação e na reconciliação com tudo isso que está o nosso crescimento, a nossa cura e a nossa transformação.

            Um outro exemplo claro de como Deus vê a vida a partir de uma outra perspectiva está nas bem-aventuranças do Evangelho, as quais retratam a maneira como Jesus entende a vida. Para nós, o valor mais importante na vida é a felicidade; para Jesus, o valor mais importante é o sentido, o qual, por sua vez, é consequência de uma causa, de uma missão. Muito mais importante do que você ser feliz é que sua vida tenha um sentido, uma razão de ser. Muito mais importante do que você viver girando em torno dos seus interesses, os quais nunca poderão ser totalmente satisfeitos, é que você olhe ao seu lado e faça algo para que o mundo à sua volta se torne melhor, confiando no que Jesus disse: “Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35).    

             Enquanto o mundo propõe a você tornar-se forte e autossuficiente, Jesus te propõe tornar-se “pobre em espírito”, isto é, uma pessoa totalmente dependente de Deus. Enquanto o mundo propõe a você afastar-se de todo tipo de dor, Jesus convida você a deixar-se afetar pela “aflição” dos que sofrem, pois é isso que mantém você humano. Enquanto o mundo ensina você a querer tudo pronto e funcionando aqui e agora, Jesus te propõe exercitar a “mansidão”, compreendendo que as mudanças mais importantes só são alcançadas mediante um processo, e não impostas à força, artificialmente. Enquanto o mundo ensina você a buscar uma felicidade egoísta, Jesus desafia você a sentir “fome e sede de justiça”, isto é, a não se conformar com as injustiças que fazem tantas pessoas sofrerem neste mundo. Enquanto o mundo envenena o seu coração com a intolerância, Jesus convida você a cultivar a “misericórdia” na sua relação com as pessoas. Enquanto o mundo profana tudo e banaliza o sagrado, Jesus te desafia manter o seu “coração puro”, tendo como regra de vida essa verdade: “Posso fazer tudo o que quero, mas nem tudo me convém. Posso fazer tudo o que quero, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma” (1Cor 6,12). Enquanto o mundo te provoca a ser uma pessoa agressiva e reativa (bateu, levou), Jesus te propõe exercitar a “paz” interior, não deixando-se determinar a partir de fora. Enquanto o mundo te distrai de mil maneiras, para que você não se envolva em causas sociais, Jesus te desafia a se opor firmemente diante das injustiças, sofrendo, inclusive, “perseguição” por causa disso. Enfim, enquanto o mundo te seduz com uma falsa proposta de vida feliz, Jesus te convida a se comprometer com os valores do Evangelho, sofrendo, consequentemente, o ódio do mundo.     

            Em resumo, a Palavra de Deus nos coloca diante de duas propostas: buscar aquilo que interessa para nós ou buscar aquilo que tornará o nosso mundo melhor; ser feliz de maneira egoísta ou viver uma vida com sentido; usufruir tudo o que a vida tem para nos dar ou vivê-la como uma missão. A escolha é nossa, lembrando que tal escolha repercutirá na eternidade.

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi   

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