sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

EXISTE UMA RAZÃO PARA VOCÊ VIVER?

 Missa do 2º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 49,3.5-6; 1Coríntios 1,1-3; João 1,29-34.

           

Se nós perguntarmos para as pessoas a respeito do que elas mais desejam na vida, não será difícil saber a resposta: elas desejam ser felizes. Para o mundo em que vivemos, a única coisa que importa é ser feliz. O problema é que a felicidade não é algo que deve ser buscado diretamente, como um fim em si mesmo. Ela só pode surgir em nós como consequência de quem sabe que tem um propósito para viver e é fiel a esse propósito. Portanto, a questão principal da vida não é ser feliz, mas ter um sentido para viver.

Mas, como encontrar o sentido da vida? Escutando as perguntas que ela nos faz. Diante de cada situação, a vida está nos pedindo algo, nos perguntando como queremos nos posicionar, como desejamos lidar com aquilo que está nos acontecendo. Além disso, ninguém pode dar a você o sentido da sua própria vida; é você quem deve descobri-lo, a partir da sua vocação, da sua missão, da razão de ser da sua existência. Essa é a questão principal: compreender que a nossa existência tem um porquê, um para quê, uma razão de ser, uma finalidade.

Para nós, que temos fé em Deus, a nossa existência não é algo acidental, nem mesmo fruto do acaso, mas fruto de um chamado, de uma escolha: “ele que me preparou desde o nascimento para ser seu Servo” (Is 49,5). “Tu és o meu Servo, Israel... Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra” (Is 49,3.6). Deus nos chamou à vida para abraçarmos uma missão em favor do bem e da salvação de outras pessoas. Nós não existimos em função de nós mesmos. Como costuma dizer o Papa Francisco: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” (EG, n.273). Quanto mais somos fiéis à missão que somos, mais a nossa existência ganha sentido; quanto mais nos afastamos dessa missão, mais vazios e infelizes nos sentimos.

Por desconhecerem a missão que são e não ouvirem as perguntas da vida, muitas pessoas tentam preencher o próprio vazio através do consumismo, da constante busca pelo prazer (sexo), da competitividade no campo profissional, da autoafirmação da própria imagem (redes sociais) etc., mas nada disso funciona, porque o único objetivo delas é serem felizes fechadas em seu próprio individualismo, sem se importarem com o que acontece à sua volta e sem abraçarem a tarefa que a vida está lhes pedindo.

A razão de ser da existência do Servo de Deus era fazer o povo de Israel voltar-se para o seu Deus, assim como a razão de ser da existência do apóstolo Paulo era anunciar a pessoa de Jesus Cristo como Salvador de todo ser humano: Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus” (1Cor 1,1). A razão de ser da existência de cada um de nós está nisso: “por vontade de Deus”. A maioria das pessoas passa pelo mundo sem ser percebida, muito menos valorizada, mas nós sabemos que existimos por vontade de Deus, chamados por Ele a abraçar uma missão específica. Essa consciência também está presente no Salmo de hoje: “Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos... E então eu vos disse: ‘Eis que venho! (...) Com prazer faço a vossa vontade” (Sl 40,8.9).

Ao iniciarmos o que liturgicamente se chama de “tempo comum”, o Evangelho nos coloca diante da pessoa de Jesus Cristo, assim designado por João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Jesus vem ao mundo consciente da sua missão de ser o Cordeiro de Deus. Essa imagem só pode ser compreendida quando olhamos para a páscoa do Antigo Testamento, ocasião em que o povo hebreu sacrificou cordeiros e passou seu sangue nas portas das suas casas, para que a praga exterminadora que feriu o Egito poupasse suas famílias (cf. Ex 12,1-14). A grande diferença entre Jesus e os cordeiros pascais está exatamente no sangue: enquanto os cordeiros eram sacrificados sem saberem a razão do próprio sacrifício, Jesus livre e conscientemente se deixa sacrificar na cruz, derramando o seu sangue para o perdão dos pecados (cf. Hb 9,15-28).

Jesus entendeu a sua existência como vida doada, como entrega e sacrifício, para o bem da humanidade. Por isso, diversas vezes ele dizia: “Foi para isso que eu vim”, ou “Eu devo”, ou ainda “Eu vim para fazer a vontade daquele que me enviou”. Por isso, hoje devemos revisar a nossa identidade de discípulos do Cordeiro de Deus. Nós não somos seguidores de uma pessoa cujo objetivo principal era ser feliz de maneira egoísta, mas de uma pessoa cujo sentido de vida foi doar-se, sacrificar-se, passar pelo mundo fazendo o bem, amando até o fim, isto é, sendo fiel até o fim à missão que o Pai lhe confiou.

A pergunta que fica é esta: quem precisa do sacrifício do Cordeiro de Deus? Somente aquelas pessoas que têm consciência de que necessitam ser salvas; aquelas que sabem que não podem salvar-se por sua própria força: “Um rei não vence pela força do exército, nem o guerreiro escapará por seu vigor... Ninguém se salvará por sua força” (Sl 33,16). O nosso relacionamento com Jesus é, portanto, absolutamente necessário para a nossa libertação e nossa salvação. Ele mesmo afirmou isso: “Quem comete o pecado, é escravo. Ora, o escravo não permanece sempre na casa, mas o filho aí permanece para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, vós sereis, realmente, livres” (Jo 8,34-36).

O pecado é como que uma “tendência natural” em nós, levando em conta que o nosso ego sempre busca aquilo que é vantajoso para si mesmo. Em outras palavras, o nosso ego não se importa com aquilo que é importante em si (valor), mas somente com aquilo que é importante para ele (egoísmo). Só a graça de Cristo nos faz transcender essa tendência e nos abrir a uma vida liberta, buscando não aquilo que é importante apenas para nós, mas aquilo que é importante em si mesmo, especialmente aquilo que contribui para o bem comum, para o bem da humanidade.

Não nos esqueçamos: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro!” (Ap 7,10). Retomemos com alegria e esperança o nosso seguimento de discípulos do Cordeiro de Deus. Somente nele temos libertação e salvação! Somente abraçando a missão que Ele nos confia é que a nossa vida tem sentido!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi     

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