Missa da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
A
celebração de hoje – Epifania, manifestação de Deus – deve nos fazer pensar no
seu oposto: o fato de muitas pessoas sentirem Deus ausente de suas vidas. Não
são poucas as pessoas que não experimentam a presença de Deus em suas vidas. Na
verdade, alguns teólogos afirmam que existe hoje um certo “eclipse de Deus”: por
causa de uma doença, de uma perda, de um grande sofrimento, do vazio
existencial ou da perda de sentido das coisas, do excesso de materialismo, das
guerras e, sobretudo, da maldade humana, a luz de Deus – a experiência da Sua
presença – tem se apagado dentro de muitas pessoas. Elas não conseguem perceber
nenhum tipo de manifestação de Deus em suas vidas.
Na
verdade, o próprio Jesus – luz que ilumina todo ser humano que vem a esse mundo
(cf. Jo 1,9) – nasceu num momento de grande escuridão, quando o povo de Israel
estava subjugado ao domínio opressor do Império Romano. Esse contraste entre
escuridão e luz, descrito na liturgia do Natal – “O povo que andava nas trevas
viu uma grande luz” (Is 9,1); “E a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a
apreenderam” (Jo 1,5) – reaparece na liturgia de hoje. Mas nós não estamos aqui
para lamentar a escuridão que existe em nosso mundo e, sim, para valorizar a
presença da luz em nosso meio e dentro de nós mesmos!
Uma
estrela guiou os magos do Oriente até Jesus. Quem ou o quê guia você na vida?
Por quem ou pelo quê você se orienta na sua vida afetiva, profissional,
espiritual? Embora muitas vezes nós caminhemos na vida desorientados ou
seguindo mecanicamente “o fluxo”, fazendo o que todo mundo faz e vivendo como
todo mundo vive, é importante cada um se perguntar: quem ou o quê está me
guiando interiormente? Eu me oriento a partir de fora ou a partir de dentro?
Minha orientação vem da voz de Deus em minha consciência ou da pressão do mundo
externo?
Assim
como uma estrela guiou os magos até Jesus, assim Deus nos chama a ser uma luz
para os que vivem na escuridão. Se existe hoje um certo eclipse de Deus, um
certo apagamento da Sua presença no meio do mundo, esse apagamento também se
deve ao esfriamento da nossa fé, seja porque não estamos convictos a respeito
daquilo que dizemos crer, seja porque não queremos ser criticados por uma
sociedade avessa à fé. Desse modo, “escondemos” a nossa fé, ao invés de
vivermos a partir dela.
Este
é o apelo do profeta Isaías para cada um de nós: “Levanta-te, acende as
luzes... porque chegou a tua luz... A terra está envolvida em trevas e nuvens
escuras cobrem os povos, mas sobre ti apareceu o Senhor... Os povos caminham à
tua luz” (Is 60,1-3). Levantar-se significa sair da prostração, do desânimo,
reagir ao “eclipse de Deus”. Convivendo com pessoas cuja fé se apagou ou está
se apagando, você deve manter firme a sua luz. Justamente porque estamos
rodeados por nuvens escuras, como as guerras, o tráfico de drogas, o
individualismo, a indiferença para com o sofrimento alheio, a ganância, o
consumismo, a desorientação, a falta de sentido para a vida etc., justamente
por isso Deus nos desafia a sermos uma estrela, um ponto de luz para as pessoas
do nosso tempo.
Uma
das frases mais conhecidas de Santa Teresa de Calcutá é esta: “Talvez você seja
o único evangelho que seu irmão lê”. Neste mundo que cada vez mais rejeita as
instituições e rejeita a Igreja como mediadora da luz de Deus; neste mundo
relativista, onde muitas pessoas rejeitam a verdade e cada um costura a sua
própria “verdade” com retalhos de mentiras, de crendices ou de superstições, talvez
você seja o único ponto de luz para aquela pessoa com que você convive. Por
isso, é preciso que você cuide e valorize a pequena luz que há em você: a luz
da fé, da bondade, da retidão de comportamento, da fidelidade, do serviço em
favor da justiça, da humildade, aquela luz que, de alguma forma, faz com que a
pessoa que convive com você sinta o desejo de se voltar para Deus.
A busca dos magos do
Oriente por Jesus foi uma busca sofrida. Nada estava totalmente claro para
eles. Tiveram que fazer perguntas; tiveram que se deparar com a falsidade e a
malignidade de Herodes; tiveram que lidar com a indiferença de tantos
habitantes de Jerusalém. Mas eles não desistiram: caminharam no meio da noite,
até encontrarem Jesus. Se nós quisermos experimentar a alegria que os magos
experimentaram, precisamos aceitar conviver com perguntas, sem exigir logo
respostas; precisamos nos desacomodar e nos dispor a caminhar ao encontro de
Deus: “Procurem o Senhor enquanto ele se deixa encontrar, invoquem-no enquanto
ele está perto” (Is 55,6).
Quando
encontraram Jesus, os magos tiveram duas atitudes: o adoraram e lhe ofereceram
presentes. Adorar: na prática, nós adoramos aquilo que o nosso dinheiro pode
comprar e a nossa capacidade pode conquistar. No entanto, adorar é reconhecer
Deus como Deus e nos reconhecer como totalmente dependentes dele. Adorar é
também jogar fora os nossos ídolos, nossas falsas seguranças, e reconhecer que
a nossa cura, a nossa salvação não vem de nós mesmos, mas do Deus vivo e
verdadeiro. Adorar significa colocar-nos humildemente diante da sua presença
misteriosa, não nos apropriarmos d’Ele como se fosse um objeto sagrado que
pudéssemos usar a nosso favor.
Esta
cena dos magos ajoelhados diante de Jesus também é questionadora: diante de
quem ou do quê estamos ajoelhados? Seus joelhos ainda se dobram diante de Deus?
Com que frequência? Nós nunca estamos tão perto de Deus quando nos ajoelhamos,
embora esse ajoelhar-se também deve ser acompanhado de uma submissão interna do
coração a Deus, um dobrar-se diante da Sua vontade. Quem diariamente dobra seus
joelhos diante de Deus encontra forças para não se dobrar diante das
dificuldades e desafios da vida.
Depois
de adorar Jesus, os magos “abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro,
incenso e mirra” (Mt 2,11). O ouro simboliza a realeza de Jesus; o incenso, a
sua divindade, e a mirra, a sua humanidade. Quais são as coisas mais secretas e
preciosas que você tem mantido guardadas no seu cofre, e ainda não teve a
coragem de oferecê-las a Deus? Abrir o cofre significa abrir o coração. Deus
entra, cura e restaura onde nós permitimos que Ele o faça. Em seu Filho Jesus,
o Pai não nos recusou nada, mas nos deu tudo o que precisávamos para a nossa
salvação (cf. Rm 8,32). Diante dessa verdade, que cada um de nós possa lhe
oferecer seus presentes: o presente do seu tempo para a oração diária, o
presente do seu esforço em viver na justiça e na santidade; o presente da sua
renúncia a tudo aquilo que desagrada a Deus e do seu sacrifício em viver
segundo o Evangelho de seu Filho Jesus.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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