Missa do 3. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11.
Como
temos vivido a nossa vida? Com otimismo ou com pessimismo? Com esperança e
alegria, ou com desencanto? A nossa época, decididamente, não é nem de alegria,
nem de esperança, mas de medo, de preocupação, de insegurança e de ansiedade;
uma época em que cada vez mais sentimos uma tendência a irmos para baixo. Não é
só o estresse do dia a dia que faz baixar a nossa libido – o prazer ou a
alegria de viver –, mas os diversos problemas, como doenças, conflitos, dificuldade
financeira, solidão, insegurança no trabalho, violência e, principalmente, a
sensação de que estamos sozinhos no mundo, sem alguém que possa nos salvar da
destruição causada, algumas vezes, por nós mesmos.
O
abatimento da nossa esperança e da nossa alegria são importantes, porque nos
colocam em comunhão com a crise de fé pela qual estava passando João Batista,
na prisão: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos
esperar um outro?” (Mt 11,3). João Batista tinha uma grande expectativa em
Jesus, de quem ele esperava uma intervenção radical e definitiva na história
humana. Mas Jesus escolheu atuar de uma outra forma na consciência das pessoas
e na história humana, deixando de lado a radicalidade que impõe à força uma
mudança que sabemos, ou julgamos, ser necessária.
Na
verdade, João estava se perguntando se ele havia perdido tempo em crer em Jesus;
se ainda teria sentido em continuar a crer e esperar nele. Nós precisamos ser
muito sinceros e reconhecer que nossa fé não está tranquila, mas agitada,
angustiada, insegura. Não entendemos tudo o que está acontecendo conosco e com
o mundo. Não enxergamos claramente onde está Deus e quais as razões pelas quais
Ele parece não intervir no mundo, mas escolhe deixar que a humanidade continue a
fazer mal a si mesma. Será que Deus realmente nos ama e se importa conosco?
Será que nós entendemos suas promessas, contidas na Sagrada Escritura, ou elas não
passam de consolação ilusória para quem sofre?
Jesus
responde à crise de fé – nossa e de João Batista – afirmando: “Feliz aquele que
não se escandaliza por causa de mim” (Mt 11,6). Feliz aquele que não joga fora
sua fé só pelo fato de eu não intervir na sua vida como ele espera. Feliz aquele
que não se fecha em ideias pré-concebidas a meu respeito, mas se mantém aberto
àquilo que eu quero lhe revelar, dando-me a conhecer a ele de uma maneira nova
e mais profunda. Feliz aquele que cuja fé não tem resposta para tudo,
mas que aceita sofrer a angústia das perguntas, deixando-se questionar pela
realidade por meio da qual o Espírito Santo continua a falar ao ser humano.
Embora
João Batista estivesse passando por uma crise de fé, Jesus afirma que ele nunca
foi um caniço agitado pelo vento, ou seja, uma pessoa volúvel, que muda de
opinião conforme a onda do momento, que não tem raiz, isto é, que não tem
convicção interior e que se deixa arrastar como folha seca pelo vento da
desorientação em que vive o mundo. João Batista também não era um homem ligado
ao supérfluo, cujo sentido de vida dependia do seu próprio bem-estar. Muito
pelo contrário, era um homem simples e austero, que vivia do essencial e não se
deixava aprisionar em falsas necessidades. João Batista era um autêntico
profeta: um homem que vive junto aos outros homens, afetado pelos mesmos
problemas que eles, mas que consegue ver, por trás de uma realidade ambígua e
contraditória, a mão de Deus orientando a história para a verdade, a justiça e
o bem comum.
E
você, como se vê? Como Jesus descreveria você? Como uma pessoa que se deixa
determinar a partir de fora ou que busca se determinar a partir de dentro? Você
é uma pessoa cuja esperança se assenta na Palavra do Deus que não mente, ou que
depende de que as circunstâncias externas sejam favoráveis ao seu bem-estar, e
que os ventos soprem a favor dos seus sonhos e projetos? “Fortalecei as mãos
enfraquecidas
e firmai os joelhos debilitados” (Is 35,3). Suas mãos
ainda de erguem e seus joelhos ainda se dobram para orar? Suas mãos ainda persistem
em fazer algo para tornar o mundo melhor, ou elas decidiram “jogar a toalha”,
como a maioria? Seus joelhos ainda sustentam seus passos no seguimento de
Jesus, ou desistiram de caminhar atrás dele?
“Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, (...) é ele que vem para vos salvar” (Is 35,5). “Ânimo”
é contrário de desânimo – sem alma, sem vigor, sem vida interior, um cadáver
ambulante. Nosso “ânimo” deve ser firme como o ânimo do agricultor: independente
de ter a garantia de que vai chover, ele trabalha firmemente a terra, arando e
semeando, na esperança de que, no momento certo, a chuva virá e fará a semente
germinar (cf. Tg 5,7). Se a chuva cai numa terra onde nada foi semeado, ali só
cresce o mato. A nós, portanto, cabe semear. Não temos o poder de fazer chover.
Como bons agricultores, devemos semear com firmeza, inclusive e sobretudo no
tempo da tristeza, sabendo que “aquele que semeia entre lágrimas, colherá com
alegria” (Sl 126,5).
Se
muitas pessoas querem colher o que não semeiam e esperam que caia do céu aquilo
que elas não se dão ao trabalho de cultivar, Deus procura por bons
agricultores, por pessoas firmes na sua fé e na sua esperança, por pessoas que
semeiem em todos os tempos, e não somente quando existe garantia de chuva. Não revistamos
a terra da nossa alma com uma camada de cimento chamada “indiferença”, “apatia”,
“desânimo”. Mantenhamos a terra da nossa alma descoberta, arada com o arado da
crise de fé, de uma fé que se deixa cortar por dentro, para que ali, no corte
aberto, seja lançada a semente da esperança, e dela brote o fruto que comprova
que Deus jamais desamparada aqueles que nele esperam (cf. Sl 25,3).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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