Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12.
Como nasce a devoção aos Santos? Normalmente,
ela nasce a partir de uma necessidade, de uma urgência, de um pedido de
intercessão. Mas pode acontecer também que essa devoção nasça da leitura da
história de vida de um(a) Santo(a), que acaba inspirando a pessoa a buscar o
seu melhor: “Importante é que cada fiel entenda o seu próprio caminho e traga à
luz o melhor de si mesmo” (Papa Francisco, GE, n.11). Nessas palavras do Papa
Francisco fica claro que ser santo não consiste em nos tornarmos uma pessoa
diferente daquela que somos, mas em nos tornarmos a pessoa que fomos chamados a
ser, deixando vir à luz o melhor de nós mesmos.
A comemoração de todos os Santos nos recorda a
nossa vocação, o nosso chamado à santidade: o Pai Santo “nos quer santos e
espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa... Todos
somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho
nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (Papa Francisco, GE n.14).
Deus não quer que vivamos uma vida sem sentido, sem alma, sem razão de ser, sem
alegria. O tempo em que fomos chamamos a viver e o lugar aonde a mão de Deus
nos plantou são exatamente o contexto onde somos chamados a abraçar a nossa
vocação à santidade. É ali, e não em outro lugar, que se encontra a ocasião
mais oportuna para a nossa santificação, para desenvolvermos o melhor de nós
mesmos. É na rotina de cada dia, nas ocupações diárias, que cada um de nós é
chamado a santificar-se e a santificar o mundo.
No livro do Apocalipse, as pessoas santas
recebem a marca do Deus vivo em sua fronte = consciência (cf. Ap 7,3). No
entanto, no mundo atual, quase não se fala de consciência. Tudo é reduzido à
emoção, ao coração. Muitas pessoas, ao fazerem uma escolha ou tomarem uma decisão,
não consultam sua consciência, mas sim as emoções que sentem no momento. Por
isso, erram muito: ferem e são feridas. Por outro lado, a consciência é o lugar
da nossa liberdade e da nossa responsabilidade. É a partir da nossa consciência
que podemos superar o mero “reagir” ao que nos acontece, para tomarmos a
decisão que nos é pedida, em vista de lidarmos da melhor forma com o que nos
acontece.
O caminho da nossa santificação passa pelo
Evangelho e pela nossa configuração a Jesus Cristo, “o Santo de Deus” (Jo
6,69). Neste sentido, o Papa Francisco nos recorda que “para
viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável” (GE,
n.91). Muito pelo contrário: o mundo em que vivemos está em profundo desacordo
com os valores do Evangelho, o que significa que, se quisermos nos configurar a
Jesus Cristo, teremos que lidar com o desprezo, a indiferença ou até mesmo a
perseguição por parte do mundo. É por isso que o Papa Francisco afirma: “Abraçar
diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é
santidade” (GE, n.94). Em outras palavras, quem busca sua santificação não
segue a direção do vento, mas orienta-se por uma meta, e não deixa de caminhar
na direção dessa meta só porque os ventos são contrários.
Assim como nós, Jesus percorreu seu caminho de
santificação, de plena conformação da sua vontade humana à vontade do Pai. Ele
deixou esse caminho descrito para nós nas bem-aventuranças, as quais devemos
entender como atitudes de vida: ser pobre
em espírito, isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança
em seu amor; ser aflito, no sentido
de deixar-se afetar pelo sofrimento alheio; ser manso, aprendendo a lidar consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido
de não desistir de ser uma pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é
justo; agir com misericórdia para
consigo mesmo e para com os outros; ser puro
de coração, tendo reta intenção e valorizando o bem que habita em cada
pessoa; promover a paz, desarmando-se
e ajudando os outros a se desarmarem no relacionamento cotidiano; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa
justa; enfim, suportar ser perseguido
ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho.
Enfim, devemos ainda recordar um outro aspecto
importante, para o nosso caminho de santificação: “Não podemos propor-nos um
ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo” (Papa Francisco, GE, n.101).
As pessoas santas não são aquelas que se mantêm distantes da dor humana; pelo
contrário, são aquelas que enxergam onde há injustiça e se colocam na defesa
dos injustiçados, à semelhança de Jesus. Não por acaso, nos foi dito no livro
do Apocalipse que os Santos “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram
suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). Enfrentemos com coragem as
tribulações que nos são propostas pela vida, consequência da nossa busca em nos
santificarmos e vivermos segundo o Evangelho de Jesus.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Boa noite, Pe. Paulo. Primeiramente, obrigada por esse post.
ResponderExcluirComecei a acompanhar o seu blog há alguns dias, como não possuo redes sociais, acredito que o blog é uma maneira de acompanhar a palavra do Padre, que, aliás, todos deveriam acompanhar, pois cada palavra é necessária.
" Tudo o que Ele permitir que seja modificado ou até mesmo destruído em nossa vida, acontecerá apenas porque Ele tem um desígnio maior a nosso respeito. Por isso, diante de cada perda, de cada dor, de cada acontecimento aparentemente absurdo e sem sentido".
Pe. quando eu era pequena, eu perdi uma pessoa essencial na minha criação, e ela era extremamente saudável, ativa, e eu há perdi para um câncer, que há levou a óbito em um mês após ser descoberto. Ela era uma das pessoas mais humanas que já conheci.
E depois de muito tempo de luto, eu entendi que ela não tinha parado a vida dela, aliás, ela viveu, ela trabalhava, lutava contra os monstros dela e até mesmo do mundo, ela até havia prestado concursos e chegou a passar neles, onde o próprio resultado saiu após a morte dela. E é por isso que hoje, eu entendo e reescrevi esse trecho do Padre. Onde diz, que tudo o que Ele permitir que seja modificado... Ele tem um desígno maior a nossa respeito.
“Já o apóstolo Paulo constata que algumas pessoas, apostando na iminência do “Dia do Senhor” – a volta do Senhor Jesus – decidiram cruzar os braços e não fazer mais nada, esperando Jesus voltar.”
Pe. reescrevi esse outro trecho, para dizer que infelizmente, essa fala está tão presente nos dias de hoje. Onde cristãos veem a maldade, a injustiça e ao invés de se posicionarem simplesmente dizem que “Jesus podia voltar hoje e ........ não subiria aos céus”. Penso eu, mas se Jesus não voltar hoje, você está aqui, você deveria algo, deveria ao menos ser humano.
“ E as pessoas se olham e não se falam
Se esbarram na rua e se maltratam
Usam a desculpa de que nem Cristo agradou”
Por ultimo, Pe. pois esse comentário vai ficar gigante. É um trecho da musica do cantor Criolo da música Ainda há tempo, lançada a doze anos atrás.
Doze anos atrás, o que só me faz refletir mais no inicio do post. Onde não importa qual regime politico estivermos, sempre é sobre Jesus, e sobre amor. E sobre como as pessoas agem sobre o mundo, onde a desigualdade, a intolerância, a falta de empatia, e fé, porque a fé não é apenas ir a igreja, a fé condiz mais sobre viver para Jesus.
Obrigada novamente pelas palavras, espero que esteja bem. Você é luz. Fique com Deus, abraços.
Querida irmã Catarina, agradeço de coração suas palavras e fico feliz se posso contribuir para a sua espiritualidade. Hoje, mais do que nunca, precisamos perseverar na fé, na esperança e na caridade, buscando diariamente o auxílio do Espírito Santo. Deus a abençoe e a faça sentir o Seu amor a cada dia! Grande abraço!
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